O presidente do Comité Olímpico de Portugal (COP) defendeu que será difícil evitar que o clima instalado entre judocas e a Federação Portuguesa de Judo “não tenha consequência do ponto de vista dos resultados” desportivos.
“A reposição de uma relação de confiança nova não é imediata, até porque, com exceção do presidente [Sérgio Pina], a atual direção transita de uma data anterior. Não vai ser fácil evitar que o clima que foi criado nas relações pessoais não tenha consequência do ponto de vista da preparação desportiva. E a preparação desportiva não tenha consequência do ponto de vista dos resultados”, declarou, em entrevista à agência Lusa.
No final de abril, Pina sucedeu na presidência da Federação Portuguesa de Judo (FPJ) a Jorge Fernandes, destituído em dezembro, após um inquérito do Instituto Português da Juventude e Desporto (IPDJ), por incompatibilidades no cargo, nomeadamente a contratação do filho para a federação e o desempenho de cargo de treinador em clube.
“Em primeiro lugar, eu tenho que reconhecer o papel determinante e firme que o secretário de Estado do Desporto [João Paulo Correia] teve na condução deste processo. Não fosse o seu empenho, não fosse a sua determinação, eu receio que a situação se prolongasse por muito mais tempo. Porque muitos dos factos que hoje são conhecidos, não eram conhecidos à data em que este problema se levantou, mas alguns já eram conhecidos”, manifestou.
José Manuel Constantino contou que teve a oportunidade de “partilhar as preocupações que o Comité Olímpico tinha com o presidente do IPDJ [Vítor Pataco], no sentido de entender que tinham que ser acionados mecanismos de verificação”.
“A situação teve o desfecho que teve, e tem aqui duas variáveis. Tem uma variável de natureza administrativa, funcional, de integridade da governabilidade, enfim, que as auditorias que já se fizeram e as que estão a realizar-se revelarão na sua exata dimensão, e sobre isso eu não me quero pronunciar”, elencou
E, depois, de acordo com o dirigente, o conflito tem uma dimensão desportiva. “E o grau de conflitualidade que foi criado, independentemente de avaliarmos de que lado está a razão, onde é que se estagia, qual é o estágio em que vamos participar, qual é o regime de apoio, independentemente dessa questão, havia um problema de confiança entre quem dirige e quem é dirigido. E essa confiança foi abalada”, completou.
O presidente do COP disse esperar que rapidamente “os mecanismos de confiança entre a direção e os atletas sejam repostos”.
“Sobretudo que as pessoas conversem, que as pessoas saiam de cada uma das posições que inicialmente têm e estejam disponíveis para o compromisso. Compromisso exige que abdiquemos de uma parte daquilo que a outra parte entende que não é negociável. […] Os interesses de Portugal, os interesses do desporto, e os interesses do judo em particular, requerem um elevado sentido de responsabilidade, quer da parte dos atletas, quer da parte dos treinadores, quer da parte da direção da atual Federação Portuguesa de Judo”, evidenciou.
Na primeira intervenção pública sobre o diferendo que opôs judocas, liderados pela olímpica Telma Monteiro, medalha de bronze no Rio2016, e a direção presidida por Jorge Fernandes, Constantino mostrou-se disponível apara ajudar.
“Eu tenho falado várias vezes com o atual presidente e tenho procurado incutir-lhe a esperança de que as coisas vão ser repostas e que é possível encontrar um clima de coexistência entre todos, a bem do judo, a bem do desporto e a bem do país. E, portanto, em tudo aquilo que nós pudermos contribuir para esse objetivo, naturalmente estamos disponíveis”, assegurou.
O máximo dirigente olímpico nacional pronunciou-se ainda sobre a polémica instalada entre a Federação Portugal Taekwondo e os atletas relativamente aos critérios de seleção para o Mundial.
“Aquilo que peço aos atletas e à federação de taekwondo é que levem em linha de conta o esforço e a paciência que, todos estes últimos anos, nós temos tido para que a paz, se assim posso chamar, regresse à modalidade, e que as pessoas se respeitem. […] Mas esta nossa vontade só é possível de ser alcançada se da parte dos intervenientes também houver ajuda nesse sentido. Se o clima que se pretende manter é de crítica, de guerrilha, de questões que no passado não foram bem resolvidas, é muito difícil. E quem perde, em primeiro lugar, é a modalidade”, destacou.
Constantino espera que as polémicas que nos últimos meses têm marcado o desporto português, nomeadamente a que opôs os campeões olímpicos do triplo salto Nelson Évora (Pequim2008) e Pedro Pichardo (Tóquio2020), não ‘belisquem’ o olimpismo nacional.
“Preferia que não tivessem acontecido […] Aquilo que eu naturalmente espero é que isto seja um pouco como aquelas borbulhas que aparecem e passado algum tempo desaparecem e não deixam marca”, reconheceu.
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