
A harmonia transversal aos três mandatos de José Manuel Constantino deu lugar a uma campanha atribulada, com trocas de acusações e desistências que bipolarizaram a corrida à presidência do Comité Olímpico de Portugal (COP).
Laurentino Dias, o primeiro a avançar com uma candidatura, e Fernando Gomes, o último a anunciar as suas intenções, são os ‘resistentes’ de um processo eleitoral que culminará com a eleição do novo presidente do organismo olímpico na quarta-feira, num sufrágio que decorrerá entre as 17:00 e as 19:00 na sede do COP, na Travessa da Memória, em Lisboa.
Chegaram a ser cinco os candidatos, mas José Manuel Araújo, que fundiu a sua candidatura com a de Dias, o antigo presidente da Federação Portuguesa de Atletismo Jorge Vieira e o ex-secretário de Estado do Desporto Alexandre Mestre desistiram da corrida, com os dois últimos a justificarem a sua opção pela dinâmica de bipolarização criada pelos agora únicos eventuais sucessores de Artur Lopes.
Embora ambos os candidatos estejam confiantes, o desfecho das eleições de quarta-feira é difícil de prever: se o secretário de Estado do Desporto dos governos de José Sócrates (2005-2011) e ‘pai’ dos Centros de Alto Rendimento parece reunir o apoio da quase totalidade das federações não olímpicas, o antigo presidente da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) terá vantagem entre as federações olímpicas.
No sufrágio irão votar 35 membros ordinários - 34 federações olímpicas, com quatro votos, e a Comissão de Atletas Olímpicos, com dois -, além de 49 membros extraordinários, entre os quais se contam as federações não olímpicas, que valem um voto cada.
Entre estes membros extraordinários estão incluídas entidades tão díspares como a Fundação INATEL, o Panathlon Clube de Lisboa, a Sociedade Portuguesa de Medicina Desportiva, o CNID - Associação dos Jornalistas de Desporto, a Direção Geral de Educação ou a Comissão de Educação Física e Desporto Militar.
O peso dos votantes ‘extraordinários’ poderá ser decisivo nestas eleições, completamente imprevisíveis ao contrário das duas anteriores, em que José Manuel Constantino foi reeleito sem oposição.
Eleito presidente pela primeira vez em 26 de março de 2013, num sufrágio no qual derrotou Marques da Silva, o pensador do desporto conseguiu uma unanimidade tal em torno de si que, em 2022, obteve mesmo 100% dos votos expressos em urna.
No entanto, o consenso que reinou no movimento olímpico nacional durante os mandatos de Constantino, que morreu em 11 de agosto de 2024, vítima de cancro, acabou nos meses que conduziram a estas eleições.
O tom ‘crispado’ aumentou nos últimos dias, nomeadamente com a troca de acusações entre Artur Lopes e Fernando Gomes, depois de também Laurentino Dias ter questionado o ‘amor tardio’ do ex-presidente da FPF pelo olimpismo e também a recusa do portuense em participar em debates.
O atual líder do COP, que foi vice-presidente da instituição durante quase 24 anos e sucedeu ao amigo Constantino após a sua morte – uma ‘nomeação’ validada por unanimidade em Assembleia Plenária, no início de setembro -, manifestou dúvidas sobre a capacidade de Gomes para presidir à instituição.
Em resposta, o dirigente portuense, que antes da FPF fez o seu trajeto no FC Porto, acusou Lopes de falta de equidade e ética, numa alusão ao facto de este pertencer à lista de Dias, como candidato à presidência do Conselho de Ética.
Qualquer que seja o resultado na quarta-feira, a bipolarização após uma campanha ‘dura’, por vezes dissonante dos valores do olimpismo, parece ter chegado para ficar, uma ameaça que ‘rivaliza’ com o risco de politização, evocado por uns, ou futebolização, mencionado por outros, de um COP que, durante os mandatos de Constantino, foi uma ‘casa’ aberta à sociedade e uma voz sempre ativa na defesa do desporto nacional, independentemente dos partidos no Governo.
Comentários