Tiago Dionísio é, aos 45 anos, o atleta português com mais maratonas e ultramaratonas corridas, um total de 645, e acredita que pode chegar às mil, “apesar de os números não lhe interessarem muito”.

Em entrevista à agência Lusa, o economista apelidou a corrida de “hobbie”, mas quem o ouve contar a sua história facilmente percebe que é muito mais do que isso: há fins de semana, muitos, em que corre três maratonas.

Apanha um avião para Londres na sexta-feira, depois de sair do escritório, no sábado de manhã faz a primeira prova, à tarde a segunda, e no domingo de manhã volta a calçar as sapatilhas para mais 42,195 quilómetros.

“Faço parte do clube das 100 maratonas do Reino Unido, em que existem regras específicas para contar as maratonas. São todas provas oficias e todos os semestres tenho de apresentar as minhas provas devidamente validadas. Faço parte desses ‘rankings’, mas sinceramente ligo pouco ao que os outros fazem e tento apenas seguir os meus objetivos. Para já, quero chegar às 700 antes do final do ano”, contou Tiago Dionísio, que em Portugal é, de longe, o atleta com mais provas feitas: tem atualmente mais de 470 maratonas e 175 ultramaratonas.

Quando olha para o futuro, o maratonista não impõe a si próprio qualquer número, mas admite que já pensa no número redondo das 1.000.

“Gostava de continuar a correr por mais alguns anos. Tenho amigos meus que com mais de 70 anos ainda correm maratonas e gostava de lá chegar. Há seis ou sete anos, se me dissessem que ia completar 500 diria que era uma loucura, que era impossível. Nunca pensei muito à frente e, de facto, neste momento tenho 650 maratonas. 700 é possível e chegar às 1.000 é um sonho”, afirmou.

O ‘bichinho’ da maratona começou quando ainda estava na faculdade. A sua primeira maratona foi a de Lisboa, aos 20 anos, mas conta que foi em Londres que se apaixonou pela distância.

“Quando comecei a trabalhar, o meu primeiro ordenado foi para ir fazer a maratona de Londres, e foi aí que me apaixonei à séria pela corrida, pois conseguia conciliar o trabalho, a corrida e as viagens. A maratona de Londres foi talvez o ponto de viragem na minha carreira”, revelou o atleta, que, apesar de tantos quilómetros percorridos, diz que “cada prova é diferente” e continua a tentar descobrir as sensações que a distância lhe proporciona.

Correr marca e rege a vida do economista: levanta-se todos os dias às 05:30, treina cerca de hora e meia, muitas vezes no ginásio. Por vezes, à noite ainda treina ciclismo, e assegura que o segredo de tantas provas é “treinar muito e preparar-se bem” para depois ser “mais fácil”.

“A corrida é algo muito importante na minha vida e arranjamos sempre tempo para as coisas importantes. Isso muitas vezes significa abdicar de outras coisas, mas a corrida é sem dúvida uma prioridade da minha vida. Diria que correr não é muito difícil… o mais difícil é o equilíbrio de tudo, da vida familiar e profissional, além do esforço no treino”, explicou.

Correr tanto traz, inevitavelmente, muitas recordações e Tiago Dionísio destacou aquela em que “abusou” e percebeu que não era um “super-homem”, na Western States, na Califórnia, em 2006, de 160 quilómetros.

“Tinha como objetivo fazer a Comrades, na África do Sul, a minha preferida, e esta prova no mesmo ano. Por azar, calharam em semanas consecutivas. Portanto, no domingo, corri a Comrades na África do Sul, 90 quilómetros, apanhei o avião na segunda-feira, e viajei durante 24 horas para a Califórnia para fazer esta prova. Devido à altitude, ao calor extremo e por a viagem de avião me ter desidratado, quando regressei a Portugal tive de ser internado com uma insuficiência renal”, recordou.

Tiago Dionísio, que tem como melhor marca na maratona 02:42 horas, reconheceu ter chegado ao limite nessa conjugação de provas.

“Foi uma experiência em que aprendi que não sou uma super-homem, que o corpo humano tem limites, e eu talvez nessa altura tenha atingido os meus. Tinha 80 maratonas e, desde aí, quase todos os dias penso no que me aconteceu e agradeço por ainda aqui estar”, concluiu.

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