O presidente da Federação Portuguesa de Atletismo (FPA) desvalorizou hoje as demissões de Fernanda Ribeiro e João Ganço da direção do organismo e as críticas de vários atletas, valorizando os melhores resultados de sempre em Jogos Olímpicos.

“Diria que não é muito justo o que está a acontecer. Este episódio surge quando celebramos os 100 anos. Estamos em ano de festa de comemoração de grandes resultados olímpicos e, portanto, não era desejável haver acidentes de percurso com dois colegas de direção, que entraram precisamente a meu convite”, lamentou Jorge Vieira, em entrevista à Lusa.

Fernanda Ribeiro abandonou a direção “indignada” pelo facto de o seu treinador João Campos não ver o seu mérito reconhecido na Gala dos 100 anos, ao que se juntou algum “desconforto” por entender que os seus contributos não são tão valorizados, enquanto João Ganço entendeu que os treinadores não foram devidamente valorizados na mesma ocasião.

Jorge Vieira lamenta as demissões e aceita a “liberdade de expressão”, embora entenda as críticas como “injustas e incompreensíveis”, realçando que a vida “continuará” e que a FPA “ultrapassará” a situação, enquanto o atletismo persistirá como uma “modalidade de sucesso”.

Sobre a democraticidade interna, garante que “nunca” Fernanda Ribeiro, ou outro membro da direção, foi “impedida” de manifestar as suas opiniões, aceitando que isso “seria criticável, condenável”.

Recordou que a comissão executiva, constituída pelo presidente e pelos vice-presidentes, reúne semanalmente e que, “obviamente, tem de tomar decisões, com funções validadas em regimento interno de governança, com autonomias de cada um, sendo todas ratificada em reunião de direção”.

O dirigente fez ‘mea culpa’ quanto à má organização do campeonato nacional de corta-mato, um caos logístico que mereceu críticas gerais, contudo também entende terem sido “excessivas” as críticas que o próprio e a FPA assumiram, recordando que organiza “centenas” de provas anuais “sempre com grande qualidade”.

“Infelizmente, há muita gente que não erra pela simples razão de que não faz nada no seu dia a dia, não toma decisões”, notou.

Recordou que a situação, que motivou uma carta aberta de mais de uma dezena dos melhores competidores nacionais, resulta de uma “crise de crescimento”.

“Foi precisamente por esta nova dimensão da modalidade, pelo interesse que nós temos em juntar estas duas áreas da elite com a atividade de base, que aconteceu este problema, que eu digo que não voltará a acontecer. Já assumi esse erro que tem a ver com o crescimento da própria modalidade. Não vai acontecer no futuro, pois iremos separar estas duas dimensões”, esclareceu.

Quanto às críticas pelo facto de Portugal não ter apresentado uma seleção completa nos Europeus de corta-mato em Dublin, considerou-a infundada, atribuindo essa opção à direção técnica validada por si e pelos seus pares.

“A opção técnica foi a de levar os melhores atletas ao campeonatos europeus. Não temos de levar equipas completas apenas porque há essa possibilidade. Não queremos, até por razões de racionalidade financeira”, esclareceu.

Assumiu igualmente parte da culpa pelo desaparecimento do fundo e meio-fundo português dos bons desempenhos nas principais provas internacionais, mas deseja que os atletas e os seus treinadores façam o mesmo.

“Julgo que a FPA também pode ter razões e culpas neste processo, mas também é óbvio que os principais intérpretes destas disciplinas também o têm”, resumiu.

Citou exemplos do passado em que, na hora dos êxitos, diversos atletas e treinadores se apressaram a dizer que os mesmos nada tinham a ver com a FPA, “que, por outro lado, tem costas largas quando as coisas não correm bem”.

O líder federativo confia que em 2022 as disciplinas técnicas vão manter os “excelentes resultados internacionais” – em Tóquio2020 destacou-se o ouro de Pedro Pablo Pichardo no triplo salto e a prata de Patrícia Mamona nesta mesma especialidade – e que os melhores do fundo e meio-fundo vão mostrar igualmente desempenhos meritórios.

“Querer reduzir o atletismo de novo à dimensão do fundo e meio-fundo, não! O atletismo português tem hoje um valor global, com resultados olímpicos que nunca teve”, concluiu.

Jorge Vieira, que preside à FPA desde 2012, cumpre o terceiro e último mandato à frente do organismo, para o qual foi reeleito em 31 de outubro de 2020, num ato eleitoral em que derrotou António Nobre.