José Uva, treinador da vice-campeã olímpica Patrícia Mamona, juntou-se hoje ao rol de críticos à Federação Portuguesa de Atletismo (FPA), acusando-a de esquecer atletas e treinadores para privilegiar dirigentes.

Comentando a Gala do Centenário, o técnico entende que “foi clara a vontade em agradar a quem elegeu a direção da FPA, as associações regionais, e quem poderá receber alguns elementos desta direção após este último mandato imposto pela nossa lei desportiva, o COP [Comité Olímpico de Portugal], IPDJ [Instituto Português do Desporto e Juventude] e a European Athletics”.

“Resumindo, foi uma excelente gala feita por dirigentes, para dirigentes, que apenas pecou por um pequeno detalhe, os verdadeiros protagonistas do nosso atletismo são os atletas, os seus treinadores e os clubes, e esses foram esquecidos e em alguns casos humilhados”, censurou.

Na sua página no Facebook, José Uva deixou um alerta quanto ao futuro do COP, considerando que o esquecimento dos principais protagonistas também está em curso no organismo dirigido por José Manuel Constantino, até agora o único candidato à presidência da instituição.

“Aguardem por novos capítulos, pois esta forma estranha de trabalhar, onde atletas, treinadores e clubes são ignorados e enxovalhados, está prestes a propagar-se para o COP e, com isso, a todo o desporto português”, avisou.

José Uva assume que ele próprio não deveria ter feito parte do quarteto de treinadores em destaque no centenário da modalidade em Portugal.

“Sem falsas modéstias, sinto que eu não deveria ter feito parte dos quatro nomeados finais, pois Moniz Pereira, João Ganço, Sameiro Araújo e João Campos (não nomeado), são nomes que devido a tudo o que deram ao nosso desporto com múltiplos atletas, aprendi a respeitar, a admirar e a aplaudir”, frisou.

Elogiou a “segunda melhor prestação de sempre” do atletismo em Jogos Olímpicos, pelo que não entende porque não foram “todos os seus elementos e treinadores convidados” para a gala, recordando que alguns só o foram, dois dias antes, por pressão” das associações de treinadores e atletas.

“Também não entendo porque não foram públicos os critérios que levaram à nomeação dos quatro finalistas em cada categoria dos homenageados como atleta, treinador, juiz e dirigente do século”, acrescentou.

Incomodou-o o facto de terem sido “esquecidos treinadores de campeões olímpicos” e o facto “nem sequer serem mencionadas as palavras ‘Atleta’ e ‘Treinador’ no discurso de abertura”, da autoria do vice-presidente Luís Figueiredo.

“Ou como é possível festejar o centenário do atletismo português sem realçar o trabalho que Sporting e Benfica, para não falar de outros clubes também muito relevantes, têm realizado como âncoras do nosso desporto”, acrescentou.

Uva considerou que “todas as falhas” enumeradas foram cometidas “sem qualquer intenção de prejudicar os visados” ainda assim garantiu ficar “bastante preocupado” com o que viu: “é sinal que quem comanda os destinos do nosso atletismo anda um pouco confuso... ou talvez não”.

Antes desta publicação de José Uva, Fernanda Ribeiro e João Ganço apresentaram a demissão da direção da FPA, na sequência da Gala do Centenário.