A morte do treinador Nuno Alpiarça, na quinta-feira, "levanta suspeitas de nova falha do sistema integrado de emergência médica", pode ler-se numa carta da Associação Nacional de Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar (ANTEPH).
Dirigida aos deputados da Assembleia da República, a missiva, assinada pelo presidente da direção Nelson Teixeira Batista, foi subscrita também pela Fénix - Associação Nacional de Bombeiros e Agentes de Proteção Civil.
Nesta, a ANTEPH denuncia falhas recorrentes "no socorro pré-hospitalar", pedindo de forma urgente que sejam apuradas "responsabilidades" e que se possa "evitar situações idênticas no futuro".
O sistema integrado de emergência médica "tem vindo a ficar cada vez menos integrado e a demonstrar que está desadequado, assimétrico e não responde à realidade das necessidades do socorro em Portugal de forma homogénea", pode ler-se, numa nota que coloca a responsabilidade no INEM para que reveja o sistema.
Teme-se, assim, que "muitas outras" mortes poderão surgir, sem investigação e reformulação das falhas, face à "ausência de qualificações" das tripulações, falha no cumprimento do Regulamento de Transporte de Doentes, um sistema de triagem "restritivo e desenquadrado" e um modelo dedicado às Viaturas Médicas de Emergência e Reanimação (VMER) no qual a maioria dos que as tripulam “não possuem uma especialidade médica de emergência".
Sobre as VMER, a ANTEPH explica ainda que estas permitem responder em tempo útil apenas "às ocorrências na proximidade do hospital", além de que as ambulâncias carecem de "equipamento adequado", completando uma lista de problemas que se estende a uma "rede de serviços de urgência básica" pouco preparada.
"Excelentíssimos senhores deputados, não podemos continuar a assistir à morte de dezenas de pessoas por desorganização, incompetência e incapacidade de implementar soluções por parte do INEM e do Ministério da Saúde", continua Nelson Teixeira Batista.
Para a ANTEPH, "urge intervir", com a criação de cargos específicos dentro da emergência médica, um melhor equipamento das ambulâncias de socorro, a integração do Instituto Nacional de Emergência Médica na Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, enquanto direção nacional, além da passagem de competências para as administrações regionais de saúde e para os Centros Distritais de Operações de Socorro (CDOS).
Outras das medidas elencadas prende-se com a profissionalização das equipas de emergência, a envolvência de empresas do setor privado como reforço, a criação de uma rede de ambulâncias para doentes críticos, a implementação de uma "rede reforçada de meios aéreos polivalentes" e "uma permanente auditoria ao sistema".
No sábado, o antigo atleta paralímpico Carlos Lopes considerou o treinador Nuno Alpiarça, falecido na quinta-feira, uma "vítima de covid-19, sem o ser", e criticou a demora entre a chamada para o INEM e a chegada ao hospital.
Contactado pela Lusa, o INEM garantiu que "não existiu qualquer atraso na assistência" e assegura que, "nas duas horas que decorreram entre o pedido de ajuda inicial e a chegada ao hospital, o doente esteve sempre a receber a assistência médica adequada à sua condição clínica".
Depois de o estado da vítima se ter agravado, o INEM diz ter acionado um pedido de apoio de uma Viatura Médica de Emergência e Reanimação (VMER), na qual "foram realizadas manobras de Suporte Avançado de Vida (SAV) durante aproximadamente 20 minutos", tendo a vítima sido transportada para o Hospital de Santa Maria, em Lisboa, às 11:43.
Segundo o INEM, "não faz sentido algum referir que o doente demorou duas horas a chegar ao hospital, quando a VMER é precisamente um meio de emergência altamente diferenciado que funciona como uma extensão do hospital".
Nuno Alpiarça, de 53 anos, ex-atleta do Sporting, morreu na quinta-feira, pouco antes de iniciar um treino, na zona de Benfica, em Lisboa.
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