O luso-cubano Pedro Pablo Pichardo identificou Nelson Évora, seu antecessor no historial olímpico do triplo salto, como rival enquanto atleta, independentemente da nacionalidade.

Em entrevista à agência Lusa, o medalha de ouro em Tóquio2020 recordou a fricção com Évora, quando assinou pelo Benfica e se naturalizou português, na sequência da saída do campeão em Pequim2008 para o Sporting, em 2016, defendendo uma transição cordial.

“Acho que o que tinha de ter acontecido era uma passagem de testemunho. No início ele não pensou assim e ficou chateado por alguma coisa. Eu consigo perceber, é triste chegar alguém ao teu país, a bater o recorde que tu tens e a alcançar algumas coisas que já atingiste. Mas eu não posso fazer nada, o nosso desporto é individual e ganha sempre o melhor. Já tens os títulos e se achas que não consegues ser melhor do que eu fica em casa”, afirmou Pichardo.

O triplista do Benfica naturalizou-se português em 2018, estabelecendo em 17,95 o recorde nacional, superando os 17,74 que valeram em 2007 a Évora o cetro mundial, um título que ainda falha a Pichardo.

“Se continua a treinar, é para competir e quem saltar mais ganha. Mesmo que eu estivesse em Cuba, Espanha ou na Suécia, eu ia ser campeão olímpico. Não ia mudar muita coisa, íamos ser rivais e eu não tirei o lugar dele. Isto não é futebol, em que só joga um, mas no atletismo tem oportunidade de competir contra mim e ganha o melhor. É diferente a forma como ele pensa e como penso eu”, detalhou.

Após o episódio na final olímpica, os dois nunca mais se viram: “Não tive oportunidade. Depois dos Jogos Olímpicos nunca mais o vi e lá só o vi umas quatro vezes sem ser nas pistas, ao longe. Uma vez vi-o no elevador... acho que só nos cruzamos essas vezes”.

Também passado, para Pichardo, é o seu país de nascimento, do qual não sente saudades.

“Os meus pais estão cá, a minha filha nasceu cá. Os meus irmãos e a minha sobrinha é que estão lá. Mas eu saí muito magoado de Cuba, com as entidades desportivas do governo, porque diziam que eu não ia saltar nada. Não ia atingir nenhum sucesso e, então, não me queriam no centro. Primeiro era baixinho, depois cresci e era magro para o triplo salto. Não me queriam lá e comecei a não me sentir bem lá. É como uma pessoa que tem falta de carinho e conhece outra que lhe dá carinho”, explicou.

No país caribenho, segundo relataram ao campeão olímpico, tudo fizeram para esconder o seu sucesso em Tóquio2020.

“Em Cuba não passaram na televisão. A minha família contou-me que, quando fiz o terceiro salto, de 17,98, tiraram a imagem e punham outra prova, o peso ou o dardo. Como supostamente ia ganhar, não passaram mais”, referiu.

A medalha olímpica conferiu-lhe notoriedade, mas não mudou a personalidade, assegurou o próprio: “Mudou a parte da publicidade, mas, como pessoa, não mudou nada, continuo a ser o mesmo Pedro que cheguei cá, a treinar, a estar com a família e os amigos, a jogar Playstation. Não mudou grande coisa na minha personalidade. Mudou o reconhecimento na rua e, agora, também dou mais entrevistas”.

Pichardo assinala alguma aversão às ‘luzes da fama’, admitindo não estar “muito habituado”: “Eu gosto do reconhecimento. O meu medo são as câmaras, e ter de falar, não tem a ver com a língua, tem a ver comigo, não estou habituado, tal como não estou habituado aos telemóveis e às redes sociais. Tenho de me adaptar aquela ‘vida mais moderna’, que eu em Cuba não tinha”.

Apesar disso, preferia manter a sua vida ‘normal’.

“Gosto de andar na rua como mais uma pessoa e não com toda a gente a ver o que anda a fazer o Pichardo, onde vai entrar, em que carro anda. Eu sou muito reservado, gosto de estar sossegado, na minha casa, e andar tranquilo na rua”, realçou.

Esta reserva acentua-se quando não vence.

“Eu sou muito competitivo. Eu não gosto de perder, fico muito chateado quando perco, fico um ou dois dias sem falar”, admitiu Pichardo, assegurando, sem especificar, ter muitos amigos no triplo salto, apesar de serem também rivais, e no atletismo, assumindo-se “grande fã” do jovem benfiquista Júlio Almeida.

A pequena filha, nascida em Portugal em 14 de novembro de 2017, um dia depois de confirmada a sua naturalização, ainda não se apercebeu do feito do pai.

“Ainda não, tem quatro anos, vê-me a fazer saltos e fica feliz, mas ainda não percebeu muito bem”, contou.

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