Pedro Pablo Pichardo acaba de se sagrar campeão europeu na prova do triplo salto nos Europeus de pista coberta que decorrem em Istambul. O atleta português não deu quaisquer hipóteses à concorrência e terminou o concurso com um salto de 17,60 metros, marca que constitui um novo recorde nacional, que ele mesmo tinha batido ontem, quando fez o apuramento para a final com apenas um salto.
Para se ter uma ideia do quanto dominou a prova, o segundo colocado ficou a mais de um metro de Pichardo.
O campeão olímpico, mundial e europeu ao ar livre e agora também bicampeão europeu 'indoor' deixou o grego Nikolaos Andrikopoulos e o alemão Mark Hess nas segunda e terceira posições, com 16,58 e 16,54, respetivamente.
O campeão mundial e olímpico começou o concurso com um 17,26, deixando a concorrência quase afastada da discussão sobre o ouro. No segundo, fez o salto do recorde nacional do triplo salto, nesta que é a melhor marca mundial do ano no triplo salto.
Tiago Pereira, o outro português da final, ficou à beira das medalhas ao ser 4.º, com 16,51 metros, o seu melhor registo do ano.
Pichardo, o homem que domina o triplo salto mundial
Aos 29 anos, com Pichardo reeditou o feito alcançado em Torun2021, onde, então conquistou a primeira medalha como português, tornando-se no segundo bicampeão português ‘indoor’ no triplo, depois de Nelson Évora ter arrebatado os títulos em Praga2015 e Belgrado2017.
Pichardo conseguiu 17,60 metros, a melhor marca mundial do ano, na sua terceira tentativa, depois de ter iniciado o concurso com 17,26, que já lhe garantiam a medalha de ouro, tendo abdicado dos segundo, quarto e quinto ensaios, encerrando com um nulo.
Com o título de Pichardo, o primeiro de Portugal em Istambul2023, Portugal passou a somar 28 medalhas em Europeus 'indoor', 17 das quais de ouro, e o triplo salto tornou-se na especialidade com mais conquistas, quatro, contra o ‘tri’ de Rui Silva nos 1.500 metros.
Pichardo junta o título de bicampeão europeu ‘indoor’ ao olímpico, mundial e europeu ao ar livre, detendo ainda o estatuto de ‘vice’ mundial em pista coberta.
Uma vida a voar para as medalhas
A 17 de agosto de 2022 tinha mostrado que não tem rivais a altura, quando venceu o título europeu, que já tinha conquistado em pista coberta, em Munique, na Alemanha.
A 24 de julho de 2022, Pedro Pablo Pichardo tornou-se no sétimo português campeão do mundo em atletismo, o segundo no triplo salto, quando juntou o cetro à medalha de ouro olímpica, depois de ter sido adotado, pelo país e pelo Benfica.
O saltador nasceu em Santiago de Cuba, no dia 30 de junho de 1993 e, desde cedo, mostrou que estava reservado para grandes voos. O maior, até agora, foi alcançado na final do triplo salto dos Jogos Olímpicos Tóquio2020.
Repetiu o feito em julho de 2022, no emblemático Hayward Field, em Eugene, a 'cidade do atletismo' dos Estados Unidos, onde sucedeu ao seu maior rival, o norte-americano Christian Taylor, quatro vezes campeão do mundo, afastado da final que consagrou Pichardo, agora já campeão de tudo a nível mundial ao ar livre - Jogos Olímpicos, Mundiais e Liga de Diamante (2018).
No triplo nacional, sucedeu a Nelson Évora, que conquistou quatro medalhas em Mundiais.
Campeão do mundo de juniores em 2012, vice-campeão absoluto no ano seguinte, juntou-se em 2015 ao lote exclusivo de triplistas que 'voaram' mais de 18 metros, ao lado do recordista mundial Jonathan Edwards, aos norte-americanos Christian Taylor, Will Claye e Kenny Harrison e ao francês Teddy Tamgho.
O saltador do Benfica fixou em Tóquio2020 o recorde nacional em 17,98 metros, apesar de ter como melhor marca pessoal os 18,08 metros alcançados em maio de 2015, quando ainda competia com a nacionalidade cubana.
Os 18,29 de Edwards são, talvez, o maior desafio que 'falta' a Pichardo, que já prometia na zona mista dos Mundiais: "Eu vou tentar, vou tentar. Estou em boa forma física. Se a saúde já está boa, vou lutar até ao último salto".
Depois dos dois segundos lugares em Moscovo2013 e Pequim2015, ainda como cubano, e do quarto lugar em Doha2019, na primeira presença como português, tentou, conseguindo 17,95 metros, num concurso em que fixou as duas melhores marcas do ano - saltou também 17,92 - e nunca baixou dos 17 metros.
Uma resultado alcançado um ano depois de ter cumprido em Tóquio a estreia olímpica - ficou afastado do Rio2016, então por decisão dos médicos da seleção cubana, devido a uma microfratura num tornozelo.
Pichardo não aceitou bem, desentendeu-se com a federação, que não o deixava ter o pai como treinador, que ainda hoje o orienta, e foi suspenso. Em abril de 2017, desertou de um estágio da seleção em Estugarda, na Alemanha, rumou a Portugal, onde foi acolhido como refugiado e assinou pelo Benfica, graças à intervenção da responsável pela modalidade, e também antiga saltadora, Ana Oliveira.
O então cubano era a resposta à transferência de Évora para o rival Sporting e, sete meses depois, em 13 de novembro de 2017 (um dia antes de nascer a filha), naturalizou-se português - um processo que só ficou concluído para a federação internacional em outubro do ano seguinte -, tendo, na estreia com as cores nacionais, sido quarto nos Mundiais de 2019, antes de conquistar o título de campeão europeu em pista coberta de 2021.
Um pouco avesso a entrevistas, apreciador do Algarve, que lhe faz lembrar a sua terra natal, e da comida portuguesa, à exceção do tradicional bacalhau, a Pichardo gabam a concentração, foco e "enorme sentido de humor".
"O Pedro é muito inteligente e tem uma enorme capacidade de aprendizagem e decisão. É um autodidata e gosta de ser autónomo, o que lhe permitiu também uma mais fácil e maior adaptação à nossa sociedade. Ele adora Portugal, é extremamente cuidadoso e exigente consigo próprio. Costuma dizer que só gostava que fôssemos menos burocráticos, mas quem não gostaria", descreveu a diretora do projeto Benfica Olímpico, Ana Oliveira.
Em julho de 2022, no Hayward Field, em Eugene, tinha juntado o seu nome aos de Fernanda Ribeiro, Manuela Machado, Carla Sacramento, Inês Henriques, Rosa Mota e Nelson Évora, entre os portugueses campeões do mundo no atletismo, depois de já integrar o 'Olimpo', com Carlos Lopes, Rosa Mota, Fernanda Ribeiro e Nelson Évora, com a medalha de ouro de Tóquio2020, conquistada no ano passado.
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