O treinador português de atletismo Alberto Lário lamentou hoje o impacto psicológico que a sua detenção está a gerar na atleta que vai representar Moçambique em juniores femininos, a poucos dias da sua estreia na prova que vai decorrer na Colômbia.

“Verónica está a ser prejudicada. Não é normal para um atleta, pouco antes de um campeonato do mundo, ficar sem treinador”, disse Alberto Lário, em declarações à comunicação social nos Serviços de Migração de Moçambique, em Maputo.

O treinador, uma figura que tem sido uma referência para novas gerações do atletismo em Moçambique, foi detido na tarde de terça-feira, alegadamente por existirem irregularidades na sua documentação e hoje as autoridades moçambicanas anunciaram que o técnico seria deportado para Portugal.

Alberto Lário, que nasceu em Moçambique e vive no país há vários anos, conseguiu o marco de colocar Verónica José entre as melhores atletas mundiais em juniores femininos, o que valeu à atleta a qualificação para o campeonato mundial de sub-20 em Cali, Colômbia, que arranca no início de agosto.

Para o seu treinador, os últimos acontecimentos podem prejudicar a sua performance e a atleta, que até pensou em desistir do campeonato mundial, não vai render ao nível que se esperava.

“Ela chegou a dizer-me inclusive que já não queria ir ao mundial, mas eu consegui convencê-la de que ela tem de ir e representar Moçambique, que é o país dela”, frisou Alberto Lário.

O técnico português acredita que a sua detenção, que resulta de uma denúncia do presidente da Federação Moçambicana de Atletismo, Kamal Badrú, resultou de uma “conspiração”.

“Não há dúvidas nenhumas, o próprio presidente [da Federação Moçambicana de Atletismo] publicou na sexta-feira que me iria denunciar nos Serviços de Migração. Ele não quer que eu continue em Moçambique porque ele queria levar um atleta seu que está na África do Sul para o campeonato do mundo, mas não conseguiu. Mas a Verónica conseguiu e ele ficou bastante chateado por isso”, declarou o técnico português.

Embora deixe Moçambique contra a sua vontade, Alberto Lário, que acolhe agora na sua residência pelo menos quatro jovens atletas provenientes de várias províncias, incluindo Verónica José, diz-se grato pelo tempo que passou em Moçambique.

“Passe o que passar, eu estou muito agradecido por tudo o que fizeram por mim em Moçambique durante estes nove anos. Eu nasci aqui e sou moçambicano. Continuo à espera da minha nacionalidade para que um dia possa cá viver sem este tipo de sobressalto. Eu amo esta gente”, concluiu o “coach Lário”, como é popularmente conhecido.

A detenção do treinador está a gerar indignação entre os atletas moçambicanos, principalmente os mais jovens, que hoje decidiram organizar uma marcha até ao edifício do Serviço de Migração de Moçambique, exigindo a libertação do técnico, no mesmo momento em que decorria a conferência de imprensa convocada para esclarecer o caso.

Em nota enviada hoje à Lusa, o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal disse que está a acompanhar o caso, através do Consulado Geral em Maputo, que contactou Alberto Lário logo que tomou conhecimento para “disponibilizar apoio”.