Modalidade de topo no desporto angolano, o basquetebol tem-se distanciado dos tempos áureos a que habituou os aficionados, tendo obtido, em 2016, registos negativos a nível interno e externo.
À exceção da equipa sénior feminina do Interclube, que logrou conquistar, em Maputo (Moçambique), a Taça de África dos Clubes Campeões, o orgulho da modalidade ficou "ferido" em 2016, não só em termos competitivos, mas também no domínio organizacional.
Internamente, assistiu-se a uma época atípica, envolta em problemas de vária ordem, com o "diferendo" FAB versus Petro de Luanda, relativo à inscrição de Yanick Moreira, a indiciar o mau clima que viria a instalar-se no BIC Basket, caracterizado, entre outros fatores, pela greve dos árbitros e a sua posterior suspensão, assim como pela disputa atribulada entre clubes por passes de atletas.
Neste último capítulo, realce para o caso Edmir Lucas (ex-1.º de Agosto), numa primeira fase, e mais recentemente para a transferência de Emanuel Quezada (ex-Petro), situações que envolveram as equipas num ambiente pouco cordial, com os jogadores a transitarem no sentido inverso.
Na reta final do campeonato, os "homens do apito" quiseram agudizar o momento de desconforto vivido pela modalidade, ao recusarem-se a dirigir jogos, alegadamente por má organização nas suas nomeações por parte da FAB. Mas o órgão-reitor da modalidade suspendeu-os e, em jeito de "braço de ferro", inverteu a tendência, trazendo árbitros de outras províncias que se juntaram aos de Luanda, para salvar a prova, ganha pelo 1.º de Agosto.
O clube "militar", no seu único sucesso do ano, destronou o "arqui-rival" Petro de Luanda, num campeonato em que irregularidades na forma desportiva do seu plantel em fases intermédias da prova levaram a crítica desportiva a considerá-lo o pior entre os três principais candidatos, pois "petrolíferos" e "libolenses" demonstravam coesão nestas etapas.
Em contrapartida, Ricardo Casas (técnico espanhol contratado este ano para resgatar o título perdido em 2014 para o Recreativo do Libolo) e comandados souberam dar resposta positiva. Depois de uma meia-final bastante difícil ante o Petro, disputada a sete jogos em sistema de play-off, o D’Agosto não teve problemas para superar o Libolo na final do BIC Basket, com parcial de 4-1 nas séries, conquistando o seu 18º troféu nacional.
Já o Petro teve de se contentar com o terceiro lugar, enquanto a formação do Cuanza-Sul (segunda classificada) viria a salvar a época com as conquistas da Taça de Angola e da Supertaça Wlademiro Romero.
Findo o campeonato angolano, Luanda voltou a conhecer situação pouco saudável para a modalidade: as incertezas na realização do torneio de apuramento para a Liga dos Campeões Africanos que se havia proposto albergar, que acabou por não acontecer na classe feminina e teve apenas três equipas locais no setor masculino (Libolo, 1.º de Agosto e Petro), por desistência dos clubes habilitados da Região 5 do continente africano.
Na sequência, as formações femininas do Interclube e 1.º de Agosto tiveram apuramento direto à prova de Maputo, ao passo que o Libolo e o D’Agosto garantiram o passe para o Cairo, ao derrotarem o Petro na eliminatória.
Face às adversidades, as coisas não podiam correr melhor na bola ao cesto em 2016, ano de eleições para a renovação de mandato dos órgãos sociais da federação. O processo eleitoral na FAB ganhou contornos negativos que obrigaram à sua suspensão por parte da comissão eleitoral.
Os membros da atual direcção, Paulo Madeira (presidente cessante) e Hélder Cruz (vice da mesa da assembleia-geral), apresentaram candidaturas, mas apenas a do primeiro (lista B) foi aprovada pela comissão eleitoral, tendo o outro interposto recurso, devido à invalidação da sua lista (A).
A proposta do nome do deputado Carlos Almeida para presidir à assembleia-geral foi a causa da reprovação, por incompatibilidade, da lista de Hélder Cruz, que fora orientado pelo ministério de tutela a substituí-lo, de forma a seguir na corrida à direção da federação, num processo a realizar-se apenas em 2017, já além do prazo recomendado por lei. Inicialmente, as eleições estavam marcadas para 22 de dezembro.
Clubes nas competições africanas
Os constrangimentos a nível interno, além de concorrerem para a divisão da família basquetebolística, parecem ter ganho, este ano, reflexos fora das fronteiras angolanas, pois o país perdeu, pela primeira vez em cinco anos, a principal prova africana de clubes em sénior masculino (Liga dos Campeões), competição totalmente dominada por formações de Angola.
Depois de uma preparação à altura em Espanha na época em que, à exceção do campeonato nacional, ganhou tudo internamente (Taça, Supertaça e Torneio Victorino Cunha), o Recreativo do Libolo foi incapaz de melhorar o segundo lugar da edição anterior na Liga dos Campeões, ao perder, na final no Cairo, por dois pontos de diferença (86-88) diante do anfitrião Al Ahly do Egito, enquanto o 1.º de Agosto, cuja preparação decorreu em Portugal, teve a pior classificação de uma equipa angolana em provas do género, oitavo entre 10 participantes.
Em sete partidas, os "militares", líderes do ranking africano de clubes com oito troféus ganhos, venceram apenas uma e nem a integração do base dominicano nacionalizado norte-americano Emanuel Quezada (campeão e MVP do torneio transato ao serviço do Petro de Luanda), ajudou o D'Agosto a evitar a pobre campanha no Cairo.
O campeão em título, Petro de Luanda, não teve a possibilidade de defender o troféu conquistado em 2015, em Luanda, por falhar o apuramento. Nos últimos anos, venceram a Liga de África, além dos petrolíferos, o 1.º de Agosto (2012 e 2013) e o Recreativo do Libolo, em 2014.
Em contrapartida, o orgulho do basquetebol angolano no continente sobressaiu em 2016 no setor feminino, em Maputo (Moçambique), onde o Interclube conquistou, de forma invicta, a sua quinta Taça de África dos Campeões.
As angolanas deitaram por terra as aspirações das moçambicanas do Ferroviário de Maputo, apesar de um clima bastante adverso no pavilhão do Maxaquene, ao vencerem na final por convincentes 18 pontos de diferença (67-49). O Interclube destronou, assim, o 1º de Agosto, que na prova de Maputo ficou na quarta posição.
Seleções
O desempenho em termos de seleção não foi de todo negativo, pois a formação angolana de juniores (sub-18) sagrou-se campeã africana da categoria. Em julho último, na cidade de Kigali, capital do Rwanda, Angola destronou o Egito, adversário que superou na final, por 86-82, após prolongamento.
No período regulamentar, as equipas empataram a 77 pontos, mas, no tempo extra, os comandados de Manuel Silva "Gi" deram mostras de maturidade e superioridade técnico-tática, trazendo o troféu da categoria para o país, 28 anos depois.
Mas o ano considera-se penoso para as seleções angolanas sénior masculina e júnior feminina (sub-18), em virtude de terem falhado as únicas provas em que estiveram envolvidas, tendo os primeiros perdido, uma vez mais, por via do torneio pré-olímpico, o apuramento ao Jogos Olímpicos e as meninas o Afrobasket do Cairo (Egito).
Em consequência do segundo lugar no Afrobasket2015, a seleção principal viu-se obrigada a ombrear em agosto deste ano, em Belgrado, com algumas das melhores seleções do mundo, com realce para a Sérvia (vice-campeã mundial), para tentar uma das três vagas entre 18 seleções de várias partes do globo (América, Europa e Ásia), o que constituiu tarefa muito difícil para o técnico Carlos Diniz e jogadores, numa altura de profunda reestruturação na equipa angolana.
Já as meninas de Elvino Dias não foram além do quarto posto no Afrobasket sub-18, realizado em setembro último, no Egito, ganho pelo Mali, que revalidou o título.
Em 2016, o país teve das suas mais intensas atividades com entidades da NBA, com a realização, por esta entidade do basquetebol mundial, de um evento de seleeção de talentos com a maioria dos países do continente, representados no pavilhão Multiusos de Luanda.
Meses depois, responsáveis da NBA África, apadrinhados por Dikembe Mutombo, voltaram a Angola para preparar as bases para o lançamento do projeto "NBA Junior", que deverá ser um facto em 2017.
Dados individuais
O internacional angolano Yanick Moreira assinou contrato, por uma temporada, com a equipa dos Toronto Raptors da NBA, mas, não tendo conseguido lugar entre os 15 do plantel para a presente época na maior liga de basquetebol do mundo, foi relegado à D-League (Liga de Desenvolvimento). Mantém o vínculo, sendo que atua pela representação dos Raptors na D-League.
Por sua vez, Carlos Morais (extremo-base), um dos melhores basquetebolistas angolanos da atualidade, "abraçou" o profissionalismo, ao assinar pelo SL Benfica, depois de quase 15 anos a jogar ao alto nível no campeonato angolano, onde representou as formações do Petro de Luanda e Recreativo do Libolo, com as quais se sagrou campeão.
Melhor jogador do Afrobasket2013, Morais fez a sua formação na equipa do "Eixo-Viário" e estreou-se na seleção principal em 2005, no Afrobasket de Argel, ganho por Angola.
Em 2016, a extremo do 1º de Agosto, Nacissela Maurício (36 anos), abandonou a carreira, depois de 20 anos, dois títulos africanos ao serviço da seleção angolana e respetivos troféus de MVP, um campeonato africano de clubes ganho e vários títulos nacionais, entre campeonatos, taça e supertaça.
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