A migração de basquetebolistas portugueses para os campeonatos universitários norte-americanos (NCAA) intensificou-se nos últimos quatro anos, registando maior incremento no setor feminino, disse hoje à Lusa o presidente da Federação Portuguesa de Basquetebol (FPB).

"Desde 2015 houve um aumento elevado do número de atletas que saíram para os Estados Unidos. Esta época temos três rapazes e 12 raparigas a jogar por diversas universidades, sendo que todos fizeram parte das seleções jovens nacionais em anos recentes", indicou Manuel Fernandes, lembrando que o sonho americano junto dos atletas lusos começou nos anos 90.

Ticha Penicheiro, em 1994, e Seco Camara, sete anos depois, foram os pioneiros a desbravar uma nova realidade do outro lado do Atlântico. O extremo luso-guineense permaneceu seis épocas no exterior, cinco das quais nos campeonatos universitários dos EUA, mas foi João 'Betinho' Gomes quem alcançou o 'draft' da principal liga norte-americana (NBA), em 2007, ficando perto de se tornar o primeiro português entre a elite mundial.

Sorte diferente teve a base natural da Figueira da Foz, que evoluiu ao ponto de ser, em conjunto com Mery Andrade, a única portuguesa na liga norte-americana feminina de basquetebol (WNBA), numa carreira pontuada pelo título conquistado em 2005, ao serviço das Sacramento Monarchs.

Duas décadas volvidas, Manuel Fernandes considera que há um "maior incremento" de talentos femininos portugueses na NCAA, embora reconheça que a experiência nos EUA pode não corresponder a "um ganho claro de qualidade e de afirmação como jogadoras", devido a fatores que condicionam "o progresso físico, técnico, tático e mental".

"Temos de perceber a enorme concorrência que existe em cada universidade: se uma jogadora que é um talento em Portugal chega lá e as duas melhores atletas da equipa atuam na mesma posição, então ela vai ter sempre dificuldades em afirmar-se e competir", disse o dirigente sublinhando ainda fatores como a intervenção dos treinadores, que às vezes se preocupam só com os resultados, e a capacidade de adaptação.

Admitindo que o sucesso luso nos EUA não é uma regra, Manuel Fernandes contrastou alguns jogadores que regressaram "sem grandes melhorias" com os "melhores resultados" obtidos por outros "em países de elevado valor basquetebolístico no continente europeu".

"Se os atletas optarem por uma realidade que proporcione outras condições de trabalho, maior profissionalismo, melhores treinadores e jogadores e uma liga mais competitiva, a experiência acaba por ser fantástica. Essa oposição que encontram no exterior torna-os mais rápidos, fortes, e técnica e taticamente mais evoluídos, abrindo possibilidades de singrarem nas grandes ligas estrangeiras", argumentou.

O presidente da FPB nota que havido um maior empenho no crescimento do basquetebol feminino nacional, contudo não é legítimo exigir aos clubes "treinadores profissionais, espaços e volume de treino que proporcionem as condições compatíveis com quem pretende jogar ao mais alto nível no futuro". Por isso, o organismo continua a apostar "no trabalho de qualidade" protagonizado nos Centros Nacionais de Treino, por onde passaram todos os recentes aspirantes ao estrelato americano.

Portugal ocupa o 62.º posto do 'ranking' mundial, o que não trava a esperança lusa de ver rapazes em busca da NBA e raparigas a apontar à WNBA, enquanto germina uma "nova geração" capaz de "acrescentar qualidade e substituir os jogadores com maior traquejo nas seleções".

Neemias Queta, que joga na NCAA, é a charneira desta renovação, até pela possibilidade de vir a alcançar o estrelato em breve. Manuel Fernandes destaca a "humildade e força de vontade" do antigo jogador de Barreirense e Benfica, cuja personalidade deve servir de "referência" para alimentar o sonho americano de outros jovens portugueses.

"Uma ou duas semanas após ter chegado a Utah, o Neemias já estava no 'cinco' inicial e a fazer bons números. Em seis meses granjeou a simpatia dos adeptos, mas não foi por ter ido ao estrangeiro que conseguiu tudo isso. Na verdade, quando foi para os EUA levou um conhecimento do jogo e uma qualidade de execução que só aprendeu em Portugal. Por vezes, também menosprezamos o bom trabalho que fazemos no nosso país", concluiu.