Neemias Queta chegou no basquetebol universitário norte-americano com o apoio da Next Level Sports, uma consultora cujo diretor executivo diz que sucesso do desporto universitário dos Estados Unidos se deve ao "ensino orientado para a alta competição".

"Tudo se move em função da universidade que existe em cada cidade. Contrariamente a Portugal, o ensino é orientado para os atletas de alta competição, sendo raros os casos de insucesso escolar. Ao mesmo tempo, os americanos preocupam-se em educar homens e aqueles que não obtêm sucesso desportivo acabam por ser salvos pela parte académica", disse à Lusa explicou Tasslim Sualehe, que desde 2014 já aproximou do sonho americano 84 atletas oriundos de diversas modalidades.

No final de agosto, Neemias Queta ganhou uma bolsa na universidade de Utah State, com o auxílio da Next Level Sports. Para tal, precisou de cumprir três fases de seleção e dois exames de admissão (o TOEFL, acerca do domínio da língua inglesa, e o SAT, teste padronizado nos EUA sobre diversas matérias), antes de a consultora ter luz verde para estabelecer contactos diretos com os treinadores universitários.

"De início, identificamos se os jogadores reúnem condições de elegibilidade a uma bolsa. Depois fazemos uma avaliação desportiva e, se os atletas forem aprovados, dão entrada no nosso projeto e ficam a aguardar que localizemos bolsas de estudo", descreveu Tasslim, frisando que a intervenção da Next Level prossegue nos EUA, seguindo de perto jovens que se entregam de corpo e alma ao estudo sem hipotecar a vertente lúdica.

Arriscar uma vida no estrangeiro acarreta uma série de despesas, o que leva os estudantes a requerer uma bolsa universitária após concluírem o 12.º ano em Portugal -- embora haja apoios para quem termina o secundário já nos EUA ou avança para MBA e pós-graduações até aos 23 anos. As bolsas 'full-ride' são as mais desejadas, mas também de menor frequência, pois cobrem todos os gastos com propinas, estadia e alimentação.

"As bolsas podem ir dos 25 aos 100%, sendo o remanescente comparticipado pelo atleta. O Neemias tem uma bolsa de estudo completa [avaliada entre 61 a 66 mil euros] porque jogava pelo Benfica e seleção e terminou o 12.º ano com uma média acima de 12 valores, obtendo nota mínima num dos exames", exemplificou o CEO da Next Level, única empresa portuguesa certificada na alocação de jovens num universo de quase 400 universidades espalhadas pelos Estados Unidos.

Os alunos não assinam nenhum contrato nem estão impedidos de regressar ou até trocarem de universidade, mas os casos de inadaptação "têm sido raros", uma vez que a presença de outros compatriotas "facilita a adaptação" e até é considerado "um novo fator a ter em conta no momento da escolha da universidade".

Se o culto da prática desportiva é vital na terceira sociedade mais populosa do mundo, o sucesso dentro de campo está obrigado a de andar de mãos dadas com o rendimento escolar, dois condimentos decisivos na entrada para a competição profissional, até pelas condições de treino oferecidas em todas as universidades, cuja maioria rivaliza com os principais clubes portugueses.

"Os pais já não desconfiam tanto desta realidade. Em 2018 enviámos 32 jovens e este ano temos quase 80 em preparação, alguns dos quais licenciados e a trabalhar. Podem não ir todos, mas decerto vai mais de metade. E no final dos quatro anos de curso, mesmo que não tenham sucesso desportivo, conseguem terminar uma carreira universitária", anotou Tasslim Sualehe, pai de três atletas, um deles a estudar nos EUA, designando a aventura do outro lado do Atlântico como "uma nova perspetiva sobre a vida".

Os resultados do investimento são conclusivos: segundo a NCAA, nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016, três quartos da comitiva norte-americana e 96 das 121 medalhas conquistadas adquiriram raízes nos campeonatos universitários daquele país, líder do medalheiro nas últimas duas edições do maior evento multidesportivo global.

Em Portugal, a dificuldade de conciliar os estudos com a carreira desportiva de alta competição acentua-se, realidade que o Governo procurou minimizar no final de janeiro com a criação do estatuto do estudante-atleta do ensino superior, enquanto Tasslim implementa um conceito importado do Brasil.

"Grande parte das federações ainda veem empresas como a Next Level como concorrência, pois têm interesse que os atletas permaneçam em Portugal. Temos de perceber que estes jovens serão o futuro do país e é necessário trabalhá-los. Quantos mais licenciados com uma mentalidade abrangente tivermos, melhor estaremos no futuro", apontou.