A França preparava-se para o desgosto de sair do Tour sem uma vitória, mas hoje Christophe Laporte (Jumbo-Visma) confiou em si mesmo e em Wout van Aert para surpreender o pelotão e vencer a 19.ª etapa.

Laporte contrariou o poderio das equipas dos ‘sprinters’, ao saltar do pelotão a um quilómetro do final para encostar nos dois últimos fugitivos da jornada, deixando-os para trás com uma ‘arrancada’ a 600 metros da meta, que cruzou com um segundo de vantagem sobre os grandes favoritos ao triunfo na tirada de hoje, nomeadamente o belga Jasper Philipsen (Alpecin–Deceuninck), que foi segundo, diante do italiano Alberto Dainese (DSM).

Estava conquistada a primeira vitória no Tour para o dedicado trabalhador da Jumbo-Visma, de 29 anos, e estava terminado o ‘drama’ da nação organizadora, profundamente dececionada pela ausência de triunfos nesta ‘Grande Boucle’

“Estou super feliz, ainda tenho dificuldade em acreditar. A equipa confiou em mim hoje. O Wout disse-me: ‘hoje é para ti’. A última vez que me disse isso foi no Paris-Nice… parece que me dá sorte”, disse Laporte, referindo à memorável primeira etapa da emblemática prova francesa, em que cruzou a meta no primeiro lugar, ladeado por Primoz Roglic e Van Aert, num ‘hat trick’ da Jumbo-Visma.

Para o corredor, que até hoje tinha ocupado todos os lugares do ‘top 10’ em etapas da Volta a França menos o primeiro, o triunfo representa mais do que “uma recompensa”.

“É enorme. Já estava imensamente feliz neste Tour, mesmo sem resultados pessoais de destaque, porque tenho tanto prazer em correr nesta equipa. Hoje, deram-me uma oportunidade e ganhar na Volta a França é verdadeiramente excecional, era um sonho de criança”, afirmou o colega do camisola amarela Jonas Vingegaard, que hoje manteve intactas as diferenças para os mais diretos perseguidores na geral.

Os 188,3 quilómetros entre Castelnau-Magnoac e Cahors, que começaram com o anúncio da retirada de Enric Mas (Movistar), o 11.º da geral, infetado com o coronavírus, eram a derradeira oportunidade para os ‘caça etapas’ e, ao quilómetro oito, os ‘repetentes’ Nils Politt (BORA-hansgrohe), Mikkel Honoré (Quick Step-Alpha Vinyl), Matej Mohoric (Bahrain Victorious), Taco Van der Hoorn (Intermarché-Wanty-Gobert) e Quinn Simmons (Trek-Segafredo) lançaram-se à aventura.

Ao quilómetro 30, quando a caravana voltou a ser parada por uma manifestação, antes de retomar o seu curso, a diferença era de 1.20 minutos, uma margem que nunca cresceu exponencialmente e que fez com que Politt abdicasse, numa altura em que o pelotão quase alcançou os fugitivos.

Estavam decorridos apenas 68 quilómetros e era demasiado cedo para a fuga acabar, por isso, as equipas dos ‘sprinters’ abrandaram o ritmo e deixaram os escapados sonhar um pouco mais, sobretudo Simmons, apanhado a apenas 35 quilómetros do final.

Nos últimos quilómetros da tranquila jornada antes do derradeiro teste à amarela de Jonas Vingegaard - os 40,7 quilómetros de contrarrelógio entre Lacapelle-Marival e Rocamadour –, houve tempo para novos momentos de protagonismo de Tadej Pogacar (UAE Emirates), que, primeiro, furou, e, depois, atacou, apenas para testar a concentração do líder da geral e do seu ‘polícia’ Wout van Aert.

Com 30 quilómetros para percorrer, e quando alguns homens rápidos como Fabio Jakobsen (Quick-Step Alpha Vinyl) – uma verdadeira deceção, tal como a sua equipa, na estreia no Tour – já estavam descolados, Alexis Gougeard (B&B Hotels-KTM), Fred Wright (Bahrain Victorious) e Jasper Stuyven (Trek-Segafredo) resolveram contrariar todas as probabilidades e fugiram ao pelotão, que ‘penou’ (e muito) para alcançar os três.

Foi a TotalEnergies de Peter Sagan a culminar um trabalho feito, como não podia deixar de ser, por Van Aert, com Wright e Stuyven a serem ‘apanhados’ por Laporte já dentro dos derradeiros 1.000 metros, antes de o francês rumar à vitória, com o tempo de 3:52.04 horas.

Philipsen e Dainese chegaram um segundo depois, com Pogacar a ser quinto. Inicialmente, a organização considerou que tinha havido ‘cortes’ no grupo da frente e cronometrou cinco segundos de diferença entre o jovem esloveno e o camisola amarela, uma classificação posteriormente retificada, após as imagens da chegada terem sido analisadas pelo colégio de comissários.

Assim, Vingegaard manteve os 3.26 minutos de diferença para ‘Pogi’, cada vez mais perto de ver interrompido o seu reinado no Tour, e os oito para Geraint Thomas (INEOS), o terceiro classificado.

Já Nelson Oliveira (Movistar), que no sábado estará no ‘seu’ terreno, perdeu 2.26 minutos para Laporte, mas continua na 55.ª posição da geral, a 2:54.01 horas da amarela.