Delmino Pereira apoia Cândido Barbosa na corrida à sua sucessão na liderança da Federação Portuguesa de Ciclismo (FPC), elencando os desafios que o próximo presidente irá enfrentar, nomeadamente a necessidade de um envelope financeiro reforçado.
"Eu, desde o início, que assumi publicamente, que apoiava a candidatura do Cândido Barbosa”, esclareceu, em entrevista à agência Lusa, mostrando-se disponível para aconselhar o próximo presidente.
Perspetivando o futuro da entidade que preside desde 2012, Delmino Pereira assumiu que gostava que o seu sucessor “tivesse mais capacidade de angariar verbas para o ciclismo, de mobilização da comunidade”.
“Nenhum presidente terá sucesso se não tiver um conjunto de pessoas, também cada uma à sua maneira, a construir o ciclismo de forma positiva […]. É um ato de coragem. Este cargo é muito difícil. O primeiro conselho que o Dr. Artur Lopes me deu [foi] ‘prepara-te que vais engolir muitos sapos’. E é verdade, engoli alguns, mas tenho humildade suficiente para fazê-lo em prol do ciclismo. Sempre. E, portanto, acho que, no fundo, nós estamos obrigados a ajudar e dar o nosso melhor. Venha quem vier, acho que temos que ajudar”, avaliou.
O próximo presidente encontrar-se-á com uma federação com recursos limitados e uma modalidade cada vez mais diversificada.
“Temos de permitir que todas as suas vertentes se desenvolvam. Foi no meu tempo, ou no nosso tempo, que fomos pela primeira vez com o BTT aos Jogos Olímpicos. […] E temos ainda muito trabalho a desenvolver no BMX, estamos muito atrasados. É uma vertente olímpica que deve ser trabalhada, tanto na especialidade de race como freestyle. Temos o ciclismo feminino”, enumerou.
Relativamente a este tema, o presidente da FPC notou que o Governo desafia as federações “a trabalhar a igualdade de género”, sem “trazer um envelope financeiro” condigno com este desafio. “A nossa comunidade precisa de mais corridas. E, na verdade, não sei como é que a gente vai fazer, mas temos que o fazer”, insistiu.
Outro dos desafios para o próximo líder deste organismo será “recrutar novos praticantes” no paraciclismo, uma vez que os melhores corredores nacionais “já têm todos mais de 40 anos”.
“Também temos de ir à procura e temos de formar, temos de ter aqui técnicos altamente qualificados para saber treinar este tipo de atleta. O desporto para atletas com deficiência está cada vez mais evoluído e nós temos de acompanhar”, defendeu.
O ciclismo apresenta “um conjunto de desafios, mas também um conjunto de oportunidades” no futuro a curto/médio prazo, de acordo com Pereira.
“Somos uma modalidade que é ambientalmente sustentável. Somos uma modalidade com uma relação com o território e com o património, ou seja, uma corrida de ciclismo é também um cartaz turístico”, evidenciou, exemplificando com o “imenso sucesso” das etapas portuguesas da última Volta a Espanha.
Para o antigo ciclista, o desporto é “cada vez mais exigente”, com as modalidades que têm mais sucesso a serem as que têm “os recursos humanos mais qualificados e mais inovadores”, mas também uma maior capacidade financeira.
“Paralelamente, são também as seleções que nunca dizem não e vão sempre, estão sempre presentes, estão sempre em força. Este caminho é de um grande desafio para uma federação: nós temos de ter sucesso, nós temos de ter resultados desportivos. Nós somos uma federação desportiva, se não tivermos resultados desportivos nós não somos quase nada, não existimos quase”, analisou.
Sobre o seu futuro, Delmino Pereira revelou que vai regressar à vida que tinha antes de ingressar na FPC.
“Tenho um negócio e ainda vou ver, no fundo, de que maneira é que me vou reposicionar no ciclismo. Quando eu deixei de correr, em 2001, apanhei um enorme desgosto, porque, de um momento para o outro, as ‘luzes’ apagaram-se. As pessoas esqueceram-se que eu existia e eu não estava preparado para isso, como corredor. Agora, estou preparado para isso. Sei que o meu telefone vai deixar de tocar, sei que as pessoas vão deixar de me contactar por tudo e por nada e eu, dado o meu amor e o meu afeto à modalidade, vou procurar o meu lugar de conforto”, antecipou.
Delmino Pereira vai sair “discretamente” depois das eleições de sábado, não descartando, contudo, continuar na União Europeia de Ciclismo (UEC), na qual é vice-presidente.
“São portas que estão semiabertas. Continuar na UEC, outros cargos desportivos. Por mim, eu acho que tudo pode acontecer”, concluiu.
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