Os diretores desportivos das outras quatro equipas continentais portuguesas não esconderam à agência Lusa a sua indignação perante a excessiva mediatização gerada em torno dos dois ‘grandes’ no seu regresso ao pelotão.

“Acho que é uma vergonha o que alguns meios de comunicação social estão a fazer. Temos o caso de um jornal desportivo, que só fala do FC Porto e do Sporting. Os outros que andam aqui não são nenhuns coitadinhos. Isto não é o futebol. Todos têm mérito, gastam dinheiro, acho que se deve dar o direito de igualdade a todos”, defendeu à Lusa o presidente do Louletano-Hospital de Loulé.

A opinião veemente de António do Adro coincide com a crescente onda de indignação, expressa tanto em comentários no Facebook, como em conversas nos bastidores da 34.ª Volta ao Alentejo, sentida por elementos das restantes quatro equipas do pelotão quanto ao protagonismo quase unilateral dos ciclistas de W52-FC Porto e Sporting-Tavira.

“Quando se ganha, deve-se falar de quem se ganha, mas quando não se ganha, somos todos iguais. Se eu tenho um patrocinador que me ajuda e vai ao jornal e só vê as camisolas do Sporting e do FC Porto, é óbvio que isso é mau”, argumentou ‘Tony’ do Adro.

Também Mário Rocha, diretor desportivo da LA-Antarte, considerou lamentável para as equipas e as marcas que apoiam o ciclismo há vários anos ininterruptamente a ‘décalage’ existente entre os ‘grandes’ e os outros: “Com toda a atenção dada ao FC Porto e ao Sporting as outras equipas acabam por ser ofuscadas e penalizadas”.

“No Algarve, passaram do primeiro ao último dia a falar das grandes figuras e da prestação negativa dos ‘grandes’ e esqueceram-se de um jovem português, que estava a brilhar entre os melhores ciclistas internacionais”, completou, referindo-se a Amaro Antunes, que foi décimo na geral final.

Américo Silva, da Efapel, foi o primeiro a manifestar a sua insatisfação, quando, no primeiro fim de semana de clássicas do calendário nacional, o seu ‘pupilo’ Rafael Silva foi ignorado, quando obteve um melhor resultado do que dois ‘dragões’.

“Eu só constatei uma coisa que é óbvia à vista de qualquer pessoa. Mais ainda, achei que não estava a fazer muito sentido estar a mencionar ciclistas dos dois ‘grandes’, que na realidade nada tinham feito para merecer esse realce. Nós, na equipa Efapel, queremos ser destacados quando fazemos alguma coisa, não queremos estar em destaque quando não o fizermos”, reforçou.

O diretor desportivo da Efapel recordou o papel dos ‘sponsors’ que andam “há muitos anos a sustentar o ciclismo” e que, obviamente, estão descontentes. “Os patrocinadores dirão ‘eu é que andei a sustentar a modalidade nas alturas de crise e agora aparecem aqui dois caídos de para-quedas e nós já não somos ninguém, não valemos para nada e não temos o devido reconhecimento’. É uma coisa para todos os que estamos envolvidos na modalidade analisarmos”, completou.

José Santos, o mais antigo dos diretores desportivos nacionais, assumiu que há “uma futebolização na imprensa, um tratamento diferenciado, o que não abona em favor da modalidade”. “Sentimos alguma dificuldade em compreender a situação. Entendemos que esta posição de alguns jornais pode ser nefasta para as equipas, porque poderá fazer com que os patrocinadores das outras equipas se sintam menosprezados e se isso acontecer pode ser difícil mantê-las no pelotão”, concluiu o diretor desportivo da Rádio Popular-Boavista.