O inspetor da Polícia Judiciária (PJ) que assinou parte considerável das diligências da operação ‘Prova Limpa’ defendeu hoje, em tribunal, que as transfusões sanguíneas eram “prática generalizada” na equipa de ciclismo W52-FC Porto.

Ouvido na qualidade de testemunha, em nova sessão do julgamento que decorre no pavilhão anexo ao Estabelecimento Prisional de Paços de Ferreira, o inspetor Francisco Portugal explicou como, após uma denúncia anónima, a PJ partiu para a operação ‘Prova Limpa’, alicerçada em escutas telefónicas e intercetação de comunicações, primeiro, e depois em buscas.

Assim sendo, pormenorizou o conteúdo das escutas entre o diretor desportivo, Nuno Ribeiro, e os ciclistas, sobre que substâncias tomar e quando tomar, bem como outras, entre outros arguidos, relativas à compra e pagamento de substâncias a partir de vários fornecedores.

O diretor financeiro da equipa, Hugo Veloso, também foi mencionado pelo inspetor, que relatou que este reembolsava despesas gastas com substâncias dopantes por outros membros da equipa, além de lembrar que a prática de reintrodução de sangue (transfusões sanguíneas) está documentada nas escutas.

“Percebi que era prática generalizada na equipa”, declarou Francisco Portugal, relatando depois que durante as buscas foram apreendidos sacos de sangue em vários locais, entre hotéis, residências e também no autocarro da equipa.

Quanto ao ‘patrão’ da equipa, Adriano Quintanilha, o seu envolvimento foi várias vezes questionado pelos advogados, com o inspetor a notar que este não surge mencionado nas escutas, embora tenha tido de autorizar pagamentos, sem conseguir garantir, contudo, que soubesse a que eram relativos.

O arguido João Manuel Pereira Rodrigues, técnico de farmácia em Vila Nova de Famalicão, mudou a intenção e prestou hoje declarações perante o tribunal, explicando que fornecia medicamentos “sem receita médica” a José Rodrigues, diretor adjunto e massagista da W52-FC Porto.

O arguido negou conhecer bem José Rodrigues – ou qualquer outro arguido - ao ponto de saber para que é que as substâncias eram usadas, tendo confirmado a venda de vários produtos utilizados para doping a José Rodrigues durante um período superior a dois anos.

A próxima sessão do julgamento do processo ‘Prova Limpa’ está agendada para 15 de março.

No julgamento, que arrancou em fevereiro, todos os 26 arguidos respondem pelo crime de tráfico de substâncias e métodos proibidos, mas apenas 14 deles respondem pelo de administração de substância e métodos proibidos, terminando sexta-feira a audiência dos 10 arguidos que manifestaram intenção de se pronunciar.

A Autoridade Antidopagem de Portugal (ADoP) sancionou os ciclistas presentes, à exceção de Jorge Magalhães, cujo processo ainda decorre na instância desportiva. Todos cumprem sanções por dopagem, com sete deles – João Rodrigues, Rui Vinhas, Ricardo e Daniel Mestre, Samuel Caldeira, José Neves e Ricardo Vilela – com pena reduzida por terem reconhecido a culpa.

Foram já ouvidos os ciclistas João Rodrigues, Samuel Caldeira, Rui Vinhas, Daniel Mestre, Ricardo Vilela, Ricardo Mestre, Daniel Freitas e ainda outros quatro arguidos, a técnica de farmácia Carina Lourenço, cunhada de Caldeira, o primo de Vilela Marco Paulo Vilela Magalhães, Rui Sousa e outro técnico de farmácia, João Rodrigues.