A Subida à Glória, a competição de ciclismo mais curta do mundo, não tem limite de idade para os participantes e José Gonçalves e Duarte Mixão, separados por 50 anos de idade, são a prova desta realidade.

O elevador da Glória teve hoje mais um dia de descanso na sua vida que já vai longa. Em vez do sobe e desce habitual que faz desde 1885 entre a Praça dos Restauradores e Jardim de São Pedro de Alcântara, em Lisboa, o ascensor foi um ‘espetador privilegiado’ dos ciclistas que se aventuram a trepar por ali a cima.

O objetivo é só um: fazer a subida de 265 metros com 17 por cento de inclinação no menor tempo possível.

José Gonçalves, de 66 anos, e Duarte Mixão, de 16, são dois nomes que saltam à vista entre os mais de 100 inscritos na prova. Para além dos 50 anos de vida que os separam, há um mundo de diferenças entre eles.

José é da altura em que os portugueses iam a salto para a França para fugir a um Portugal de outros tempos e outras vontades. Foi apenas aos 19 anos, na Vila de Clermont-Ferrand, que experimentou pela primeira vez andar de bicicleta.

“Quando estava em França, peguei na bicicleta de um amigo e dei-me bem. Quando me parecia que já não tinha dificuldades a andar, acabei por não conseguir fazer bem uma curva e caí numa valeta. Fiquei com a roupa toda suja, mas não me assustei. Agarrei na bicicleta e voltei a andar”, contou à Agência Lusa, minutos antes de iniciar a sua participação pela quarta vez nesta prova.

Contrariamente às certezas que José desfia a cada frase, Duarte tem a timidez própria da idade e uma história bem diferente: “Eu estava no futebol, mas vi que não tinha jeito para a coisa. Então, aos seis anos, decidi aprender a andar de bicicleta no Clube de Ciclismo de Paio Pires. Gostei e até agora estou por lá”.

Para José, a bicicleta é um vício que não quer largar, pelo que todas as semanas, saí de casa e pedala mais de 100 quilómetros. Esta forma de vida deu-lhe amigos e, principalmente, saúde.

“A bicicleta é uma diversão. É o meio menos poluente, uma forma de exercitar os músculos e a memória. Para mim, tem-me dado muita saúde. Digo sempre à minha mulher: ‘Posso perder muito tempo na bicicleta, mas assim não o perco na farmácia'”, afirmou, em tom bem-humorado.

Duarte vê o ciclismo como um ‘hobby’ que quer transformar em carreira no futuro. Em casa pedem-lhe para pôr os estudos em primeiro lugar, mas isso nem sempre acontece.

“Eu gostava de fazer carreira disto. Gosto da adrenalina, da velocidade e do cansaço. A mim, sempre me disseram para a escola estar em primeiro lugar. Às vezes, ignoro isso e vou treinar, em vez de estudar. São opções de vida, cada um sabe o que faz”, sublinha o jovem num tom mais baixo, até porque a mãe está por perto.

Nenhum dos dois é um estreante nesta Subida à Glória, e é aqui que as diferenças entre os dois se começam a esbater. José vai para a sua quarta subida, mas não está preocupado com o resultado. E às bocas que vai ouvindo por causa da sua idade e desempenho, tem a resposta na ponta da língua: “Eu vou no meu ritmo. Não venho aqui para dar cabo da saúde, mas sim para ganhar saúde”.

Duarte, nas palavras próprias de quem quer ser profissional, define-se como um rolador e confessa que as subidas não são o seu forte, por agora. O que o move é o desafio: “Vim cá no ano passado e dá-me gozo subir isto. Conhecem-se novas pessoas e o ambiente é bom. Posso ser mau a subir agora, mas isso pode mudar daqui a uns anos”.

Os dois ciclistas não chegaram à fase decisiva da prova, mas deixaram os Restauradores de sorriso no rosto. No meio das diferenças, o que verdadeiramente os une é a paixão pela bicicleta.

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