Remco Evenepoel confirmou hoje o seu destino, ao conquistar a camisola arco-íris na prova de fundo de elites dos Mundiais de ciclismo de estrada, após nova demonstração impressionante de talento, numa jornada ‘apagada’ da seleção portuguesa.
Era um dos favoritos e o prodígio belga de 22 anos não defraudou: juntou-se aos fugitivos do dia, atacou a menos de 35 quilómetros da meta, levando apenas Alexey Lutsenko na roda, ‘descarregou’ o cazaque 10 quilómetros depois e não mais parou rumo ao ouro mundial, conquistado com uma vantagem ‘impensável’ de 2.21 minutos para o reduzido pelotão, ‘comandado’ pelo francês Christophe Laporte e pelo australiano Michael Matthews, que ficaram, respetivamente, com a prata e o bronze.
Na jornada em que o vencedor da Volta a Espanha confirmou o seu favoritismo, mas também o seu destino – tornou-se no segundo ciclista da história a juntar o título em elites ao conquistado em juniores (2018), sucedendo ao norte-americano Greg LeMond -, Portugal teve uma prestação modesta, com Nelson Oliveira, o mais experiente dos ciclistas nacionais, a ser o melhor, na 44.ª posição, a 3.01 minutos do vencedor, e o ‘líder’ João Almeida a ocupar um discreto 60.º lugar, a 5.16.
“Foi uma época longa, é fantástico terminá-la assim. Estou super feliz. […] Isto é algo com que sonhava. Agora, após um ‘Monumento’ [Liège-Bastogne-Liège], uma grande clássica [San Sebastián], uma ‘grande Volta’, [vencer] o Mundial… ganhei tudo o que podia ganhar este ano. Penso que nunca terei uma época melhor do que esta”, resumiu.
O ‘show Remco’ começou à entrada dos derradeiros 70 quilómetros dos 266,9 da prova de fundo de elites, quando um numeroso grupo, no qual o belga se incluía, saltou do pelotão para se juntar aos fugitivos que seguiam na frente.
Um momento de hesitação entre as principais seleções, algumas delas também representadas na fuga, bastou para que Evenepoel não mais fosse alcançado – a França, grande animadora da jornada, foi demasiado ingénua ao ‘autorizar’ a presença do ciclista da Quick-Step Alpha Vinyl no grupo da frente, onde seguiam, entre outros, Romain Bardet e Pavel Sivakov ou o australiano Jai Hindley, vencedor do Giro2022.
Com a situação de corrida a seu favor, o vencedor da Vuelta e medalha de bronze no ‘crono’ dos Mundiais aguardou pelo momento certo para desferir um demolidor ataque no grupo da frente, a menos de 35 quilómetros da meta, ao qual só Lutsenko conseguiu responder.
Mas o jovem belga não queria companhia, e muito menos arriscar perder o ouro, e acelerou para distanciar o ciclista cazaque, lançando-se então num verdadeiro contrarrelógio até à meta, que cruzou com o tempo de 6:16.08 horas e com um dedo sobre os lábios, talvez em referência às inúmeras críticas que recebeu no ano passado, quando a Bélgica sofreu uma clamorosa derrota em casa, devido à luta de egos entre Evenepoel e Wout van Aert, outra ‘estrela maior’ do pelotão, que hoje foi quarto.
“Hoje, corremos realmente como equipa. Como dissemos antes, não interessava como, mas queríamos ser campeões do Mundo. Seria a oportunidade do Wout ou a minha, e a minha era atacar de longe e a do Wout seguir no grupo e depois ‘sprintar’. O ataque de longe compensou hoje, mas penso que realmente merecíamos”, defendeu o primeiro belga a sagrar-se campeão mundial desde Philippe Gilbert, precisamente há 10 anos.
Com a camisola arco-íris entregue a Evenepoel, que somou a 15.ª vitória da temporada e a 37.ª da carreira, foi a luta pelas medalhas que animou o final da corrida: quando parecia que Lutsenko, o italiano Lorenzo Rota, o suíço Mauro Schmid e o dinamarquês Mattias Skjelmose discutiriam entre si os restantes lugares do pódio, os ‘fugitivos’ deixaram-se alcançar pelo mini-pelotão com a meta à vista.
No ‘sprint’, levou a melhor Laporte, numa recompensa justa para a França, que tanto trabalhou para manter no corpo de um dos seus ciclistas a camisola arco-íris. Michael Matthews ficou com o bronze, dando uma alegria à nação organizadora e negando a medalha a Van Aert, enquanto Julian Alaphilippe, até hoje bicampeão em título, foi apenas 51.º
Longe da discussão pelo título esteve Mathieu van der Poel, um dos grandes favoritos, que foi detido horas antes do início da prova, devido a uma altercação no hotel onde estava instalada a seleção dos Países Baixos, e desistiu quando estavam decorridos apenas 35 quilómetros.
Também Rui Oliveira não concluiu a prova, com o seu irmão Ivo a ser 83.º, a 9.31 minutos de Evenepoel.
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