O colombiano Nairo Quintana denunciou hoje as más condições de vida de jovens ciclistas do seu país, que são enganados por empresários que os levam para a Europa com falsas promessas, chegando a passar fome.

“Há pessoas que oferecem a miúdos desde os 15 aos 17 anos, com a autorização dos pais, contratos para levá-los para a Europa. Dizem-lhes que são os managers que contrataram e levaram para a Europa o Nairo, Iván Sosa, Rigoberto Urán, Egan Bernal… enganando-os para encontrar acidentalmente um campeão e encher os bolsos de dinheiro”, revelou o líder da equipa francesa Arkea Samsic, no podcast El Leñero.

De acordo com o antigo vencedor do Giro (2014) e da Vuelta (2016) e duas vezes segundo classificado no Tour (2013 e 2015), ao chegar à Europa, as promessas do ciclismo colombiano são colocadas em “caves em diferentes países, comendo mal, passando necessidades e sofrendo”.

“Uma criança de 15 anos em Itália, sem conhecer o idioma. Ouvimos que colombianos estão a roubar, a vender marijuana, que lhes atiram comida como se fossem cães e lhes dizem para se desenrascarem. Há relatos de muitos desses miúdos a mendigarem […] Isso é mau para a Colômbia, para a modalidade, e tudo por culpa de managers que levam esses rapazes enganando-os, e, se descobrirem um campeão, esfregam as mãos”, acrescentou.

O corredor, de 30 anos, detalhou ainda que “muitos desses miúdos acabam com problemas psicológicos e optam por abandonar o ciclismo”.

“São poucos os que pudemos ‘salvar’”, acrescentou aquele que é a maior referência do ciclismo do seu país na última década e o ‘precursor’ da vaga de trepadores colombianos que conquistou o ciclismo europeu, o palco por excelência da modalidade.

“Contratam-nos sem escrúpulos, inscrevem-nos em três corridas, mas quando [os ciclistas] chegam à Europa não têm dinheiro para nada”, acrescentou.

Quintana reconheceu, no entanto, que pode haver exceções, como aconteceu com Egan Bernal, que no ano passado, aos 22 anos e seis meses, se tornou no primeiro colombiano e no terceiro mais jovem de sempre (e o mais jovem no pós-guerra) a vencer o Tour.

“Mas esse é um caso único na história. Alguns querem passar de juvenil à Volta a França e isso não é assim. Ficam iludidos por aquilo que lhes dizem ou pelas promessas que lhes fizeram”, concluiu.