Um sprint no alto do Grand Colombier deixou hoje Tadej Pogacar a meros nove segundos da camisola amarela de Jonas Vingegaard, após uma 13.ª etapa da Volta a França que ‘devolveu’ ao pelotão a melhor versão de Michal Kwiatkowski.

Nada, nem ninguém – nem mesmo Tadej Pogacar (UAE Emirates) – poderão retirar brilho à vitória do polaco de 33 anos, um dos grandes talentos do pelotão na segunda década do século XXI, que abdicou do seu currículo pessoal quando se converteu em gregário de luxo na INEOS, e que, hoje, voltou a demonstrar toda a sua qualidade, coroando isolado o alto do Grand Colombier, após integrar a fuga do dia na qual também esteve o português Nelson Oliveira (Movistar).

“Para ser honesto, foi uma experiência de loucos. Quando entrei na fuga, pensei que era um bilhete grátis até, talvez, o início da subida, mas nunca pensei que este grupo fosse lutar pela vitória na etapa […] Não acreditava que fosse possível, mas aqui estou”, declarou ‘Kwiato’, após vencer a 13.ª tirada, com o tempo de 03:17.33 horas, à frente de um dos seus antigos “amigos” de jornada, o belga Maxim van Gils (Lotto Dstny), que foi segundo, a 47 segundos.

Atrás dos dois fugitivos, chegou ‘Pogi’, terceiro a 50 segundos. O esloveno atacou Jonas Vingegard (Jumbo-Visma) nos derradeiros 500 metros do Grand Colombier, abriu um fosso para o dinamarquês, a quem ‘roubou’ quatro segundos na estrada e outros quatro nas bonificações, reduzindo para nove a diferença para o camisola amarela, numa classificação geral em que Jai Hindley (BORA-hansgrohe) continua a ser terceiro, agora a 02.51 minutos.

Com a grande dificuldade da jornada reservada para a parte final dos 137,8 quilómetros desde Châtillon-sur-Chalaronne, duas dezenas de corredores resolveram tentar a sua sorte, numa fuga iniciada por Nelson Oliveira juntamente com Quentin Pacher (Groupama-FDJ), Mike Teunissen (Intermarché-Circus-Wanty) e Van Gils ao quilómetro 20.

O quarteto foi prontamente alcançado por um numeroso conjunto de perseguidores, que incluía Kwiatkowski, Alberto Bettiol e James Shaw (EF Education-Easypost), Kasper Asgreen (Soudal Quick-Step), Matej Mohoric e Fred Wright (Bahrain Victorious), Jasper Stuyven (Lidl-Trek), Adrien Petit e Georg Zimmermann, (Intermarché-Circus-Wanty), Hugo Houle (Israel-Premier Tech), Luca Mozzato (Arkéa-Samsic), Cees Bol e Harold Tejada (Astana), Anthon Charmig (Uno-X) e Pierre Latour (TotalEnergies)

Embora inicialmente tenha cifrado a distância em menos de dois minutos, apostada que estava em levar Tadej Pogacar à vitória na etapa, mas também à liderança da geral, a UAE Emirates acabou por deixar os 19 fugitivos ganhar uma margem próxima dos quatro minutos.

À medida que o Grand Colombier, o ‘gigante’ de categoria especial onde a etapa terminava, ia ganhando forma no horizonte, a escapada ia perdendo progressivamente elementos, com 16 fugitivos a iniciarem os 17,4 quilómetros da subida, com uma pendente média de 7,1%, com 03.50 de vantagem sobre o pelotão.

Nelson Oliveira, um dos mais ativos na fuga, foi dos primeiros a ser ‘derrotado’ por aquela montanha – chegaria a 06.08 minutos do polaco -, numa altura em que Quentin Pacher seguia isolado, numa tentativa de dar à França um triunfo em Dia da Bastilha.

Mas o voluntarioso francês haveria de ser alcançado ainda a 13 quilómetros do alto, com a frente de corrida em permanente mudança até ao ataque fulminante de Kwiatkowski; o polaco, campeão mundial de fundo em 2014, demonstrou hoje que a sua qualidade não se esfumou com os anos, atacando a 11,5 quilómetros da meta para vencer pela segunda vez na ‘Grande Boucle’, após a etapa conquistada na edição de 2020.

Sempre com a UAE Emirates ao comando, o grupo dos favoritos foi ficando cada vez mais reduzido, com os franceses Thibaut Pinot (Groupama-FDJ), Romain Bardet (DSM-Firmenich) ou Guillaume Martin (Cofidis) a serem dos primeiros a perderem o contacto, seguindo-se Mikel Landa (Bahrain Victorious), antes do ataque de Adam Yates.

O primeiro camisola amarela desta edição atacou para testar Jonas Vingegaard, para resposta imediata do supergregário Sepp Kuss, numa jogada calculista que ‘anunciou’ o arranque de Pogacar, talvez menos capaz do que gostaria na parte final da tirada.

Tal como tinha acontecido no domingo, na subida ao Puy de Dôme, a chegada ao Grand Colombier foi uma grande deceção (pelo menos na luta entre os homens da geral), com a expectável batalha entre os dois principais candidatos à amarela final a saldar-se num ataque tardio do bicampeão do Tour (2020 e 2021) e ‘vice’ da passada edição, que parece querer destronar Vingegaard através das bonificações.

O lugar mais baixo do pódio continua a pertencer a Jai Hindley, o ciclista que mais tem feito por merecer a presença na festa de Paris, em 23 de julho, com os gémeos Adam e Simon Yates (Jayco AlUla) a encurtarem hoje distâncias para o invisível quarto classificado, o espanhol Carlos Rodríguez (INEOS).

Ruben Guerreiro (Movistar) parece cada vez mais consolidado no top 30 da geral – é agora 25.º, a mais de 49 minutos do camisola amarela -, apesar de hoje ter sido apenas 47.º classificado, a 14.24, enquanto o seu colega Oliveira subiu a 53.º, a 01:29.57 do dinamarquês da Jumbo-Visma.

Rui Costa (Intermarché-Circus-Wanty) foi o pior português na etapa, a 23.24, e é 97.º posicionado na geral, a 02:22.40.

No sábado, o pelotão enfrenta uma jornada alpina, nos 151,8 quilómetros entre Annemasse e Morzine, que incluem três contagens de montanha de primeira categoria e uma de categoria especial, a 12 quilómetros da meta, que os ciclistas irão alcançar após uma descida a grande velocidade.