O hermético Jonas Vingegaard regressou hoje à estrada no Gran Camiño, quatro meses depois da sua última prova, oscilando entre a vontade de ‘fugir’ à expectativa que o rodeia e a aceitação do estatuto de campeão do Tour.
“Claro que seria bom mostrar-me, mas também sei que mesmo que não consiga mostrar-me aqui, não vou stressar quanto a isso. Sei o que posso fazer quando estou bem. Teremos de ver esta semana. Sei que a forma é boa. Farei o meu melhor”, prometeu o ciclista da Jumbo-Visma, em declarações aos jornalistas, minutos antes do arranque da segunda edição do Gran Camiño, que decorre até domingo na Galiza.
Jonas Vingegaard é um mistério: enquanto outros, como o seu rival Tadej Pogacar, acumulam dias de competição – e objetivos -, o dinamarquês seleciona o seu escasso calendário sem lógica aparente, tanto que escolheu a prova galega para iniciar uma temporada na qual só tem previstas mais três corridas até iniciar a defesa do título no Tour (as outras são o Paris-Nice, a Volta ao País Basco e o Critério do Dauphiné).
Avesso aos holofotes e profundamente hermético, provocou o alarme ao ausentar-se na terça-feira de Santiago de Compostela, onde a Jumbo-Visma estava instalada, evocando um motivo pessoal, o que obrigou ao cancelamento, momentos depois de ser convocada, da conferência de imprensa agendada para a tarde de quarta-feira.
As horas passavam e a presença de Vingegaard no Gran Camiño continuava a ser uma incerteza, até que, um dia depois de voar para Málaga, o campeão do Tour voltou para o hotel, fez rolos e passeou-se pelos corredores de máscara, como aquelas que lhe escondiam o rosto no pico da covid-19.
Franzino e discreto, o campeão do Tour esquiva qualquer atenção mediática, uma missão impossível tendo em conta o seu estatuto no pelotão atual, mas, hoje, ciente de que era o homem que todos queriam ver (e ouvir), aceitou, finalmente, falar aos jornalistas.
“Espero que esta seja uma corrida difícil, fria. Hoje, está frio. Penso que estava a nevar há apenas alguns minutos. Expectavelmente, será uma corrida dura, e depois veremos [o resultado]”, declarou em plena Muralha de Lugo, ponto de partida dos 188 quilómetros da primeira etapa da prova galega, que termina em Sarria.
A neve foi mesmo a convidada surpresa do arranque de temporada do dinamarquês de 26 anos, que não competia há mais de quatro meses, mais concretamente desde a Volta à Lombardia, em 08 de outubro.
Mas nem os flocos brancos, primeiro escassos e, depois, mais persistentes, que foram colorindo o desfile das equipas pela Muralha de Lugo – e que desapareceram pouco antes dos ciclistas da Jumbo-Visma saírem do autocarro -, afastaram o público, desejoso de ver ao vivo o campeão em título do Tour.
De telemóvel em punho, eternizaram o momento com fotos à distância, aplaudindo o nome do dinamarquês quando este ecoou nos altifalantes instalados junto à Catedral.
“Simplesmente, quero correr um pouco, reentrar no ritmo para o Paris-Nice. Para mim, é o início da temporada, claro que quero sair-me bem, mas veremos”, resumiu.
Amável, apesar de tímido, Vingegaard não deixou de sorrir enquanto explicava que o Gran Camiño era “uma boa preparação” para a prova francesa, que marcará o seu primeiro frente a frente esta época com Tadej Pogacar, o bicampeão da Volta a França que destronou, e que decorre entre 05 e 12 de março.
“Gosto de correr aqui em Espanha, é um país agradável. Não corri muitas vezes nesta parte de Espanha, estou ansioso para começar”, concluiu, antes de dar as primeiras pedaladas de um 2023 em que vai procurar defender o cetro na Volta a França, agendada entre 01 e 23 de julho.
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