Marvin Scheulen trocou esta temporada as vestes de valoroso fugitivo pela de treinador estagiário da LA Alumínios-Credibom-MarcosCar, depois de tomar a difícil decisão de abdicar da carreira de ciclista para se dedicar à gestão.

“Eu sempre conciliei o ciclismo com os estudos e, como toda a gente sabe, o ciclismo é uma modalidade extremamente dura, que requer muitas horas de treino. Na altura, estava a ser um pouco difícil conciliar com a faculdade. Estava a tirar a licenciatura em gestão e já há alguns anos que estava a tardar em terminar o curso, precisamente por causa do ciclismo. Graças a Deus, este ano vai ser possível terminar e vou para mestrado, e foi também um pouco nessa lógica que tive de fazer uma escolha”, revelou à agência Lusa.

O agora ex-ciclista, de apenas 25 anos, que deixou a sua marca na Volta, nomeadamente por ter sido o primeiro e único fugitivo da primeira etapa da edição especial, em 2020, confessa que “não foi fácil tomar essa decisão” e que “ao início custou bastante” despedir-se do pelotão, mas sentiu que “poderia dar mais à modalidade sem ser atleta do que enquanto atleta”.

“Mesmo agora, aqui na Volta a Portugal, fica aquele bichinho, uma pessoa ver os colegas que sempre estiveram connosco. É uma decisão dura, mas que eu penso que tinha de ser tomada e não me arrependo nada de o ter feito”, garantiu, explicando que sentiu que esta era “a altura ideal para deixar o ciclismo, mas não a modalidade” por ter tirado “o curso de treinador de nível III no ano passado”.

O ‘empurrão’ decisivo para abdicar da carreira de ciclista – foi profissional durante três épocas - foi mesmo uma proposta da Amazon, que o levou a passar quatro meses na Alemanha.

“O meu pai é alemão, por isso falo alemão. Tenho bastante facilidade com as línguas, o que ajudou imenso. Foi muito boa a experiência. Foram quatro meses em que aprendi imenso sobre logística e outra área que também me interessa. Foi bastante enriquecedor para sair um pouco deste mundo do ciclismo, porque acabamos por estar tão dentro dele que parece que só sabemos fazer isto. Mas é bom aprender outras coisas, noutras áreas, para nos desenvolvermos enquanto pessoas”, evidenciou.

Marvin Scheulen admite, no entanto, que a transição para a sua nova vida não foi simples. “No ciclismo, estamos sempre ao ar livre, à luz do sol, o que é uma coisa incrível, e passar de estar ao ar livre para estar fechado numa fábrica durante oito horas foi um choque”, confessou.

Apesar de estar satisfeito com o seu novo emprego, o jovem gestor não esconde que se sente mais completo por poder estar na Volta a Portugal.

“Eu gosto do ambiente, não é só ser atleta, é também todo o ambiente do ‘staff’, o convívio é fantástico. E é também isso que diferencia as grandes equipas. Se andarmos aqui todos tristes, nem faz sentido”, defendeu.

Scheulen, que acredita que o ciclismo “precisa de pessoas jovens com novas ideias e formas de trabalhar”, viu as portas da LA Alumínios-Credibom-MarcosCar abrirem-se para acolhê-lo como membro do ‘staff’ assim que precisou de fazer um estágio para concluir o curso de treinador.

“Falei com o Hernâni para fazê-lo aqui na equipa, e agora, quando voltei [da Alemanha], falei com ele para vir fazer a Volta, que era uma coisa que sempre quis fazer como ‘staff’. É tudo muito diferente. É incrível também perceber o outro lado, o esforço que está por trás, a preparar as coisas todas para os atletas. Enquanto somos atletas, nem damos conta que está tudo a ser feito enquanto estamos a dormir”, admitiu.

Agora, o dia “começa bem cedo, às vezes antes das 07:00 da manhã”, e só termina “quando o trabalho estiver feito”, por vezes às 02:00.

“É até estar tudo na perfeição, porque eles é que vão para a estrada e merecem ter as condições todas asseguradas”, notou, considerando que o facto de ainda há pouco tempo ser corredor facilita a relação com os seus antigos colegas.

Essa cumplicidade, segundo o jovem treinador, ajuda à “conexão entre o ‘staff’ e os atletas”. “Eles sentem que há alguém que os percebe, porque já passou pelas mesmas coisas. Assim como o Hernâni [Broco, diretor desportivo], e isso também é importante. É enriquecedor para a equipa”, concluiu.