A viver um renascer no ciclismo, Tiago Machado (NetApp-Endura) encara a sua estreia na Volta a França com uma enorme vontade de fazer aquilo que faz melhor, dar espetáculo.
“Ainda não estou no Tour, mas, se lá chegar, se nada de anormal acontecer, é uma sensação muito grande, porque só me faltava mesmo o Tour para estar presente em todas as provas mais importantes do Mundo. Acho que todo o ciclista tem o sonho comum de poder estar na prova mais importante, que é o Tour. Vamos ver se a minha condição física vai ser a melhor, de maneira a que eu possa prestigiar o nome de Portugal e também o da minha equipa”, disse à Agência Lusa.
Nos últimos anos, os da passagem pela RadioShack, Tiago Machado repetiu à exaustão que era o Giro e não o Tour a prova que lhe enchia as medidas, mas hoje o corredor de Famalicão está preparado para ser convencido do contrário.
“O que hoje é verdade, amanhã é mentira. O Giro é aquela corrida que toda a gente gosta, a mais bela do Mundo, mas o Tour é o Tour. Os media estão lá todos centrados, é o grande evento do desporto no verão, e se tiver de mudar a minha opinião irei mudar, mas não acredito que vá ser fácil, porque gosto muito de Itália e da sua prova”, justificou.
Se a Volta a França, que começa no sábado em Leeds, no Reino Unido, fosse um Giro ou uma Vuelta, o ciclista da NetApp-Endura poderia traçar objetivos, uma vez que já esteve presente em duas ocasiões em cada uma, mas como esta é a sua estreia, prefere ser comedido nas ambições.
“Tens de saber correr no Tour e não é fácil a primeira vez chegares lá e teres a sorte de sair muito bem. Mas claro que gostava de estar ao meu nível e dar um ar da minha graça. Pelo menos dar o espetáculo que costumo dar aos simpatizantes do ciclismo. Toda a gente sabe a minha maneira de correr, que é de ataque. Se puder estar a esse nível, certamente estarei satisfeito”, completou.
O vencedor da Volta à Eslovénia hesita quando a questão é “esta é a melhor época da carreira”, mas não duvida em afirmar que, pelo menos, é melhor do que a última na RadioShack, da qual saiu no final da temporada passada.
“A nível de resultados talvez esteja perto de ser uma época muito conseguida, mas acho que é o renascer, como a Fénix, das cinzas. Quando muita gente já me fazia o `funeral´ e me punha sete palmos abaixo de terra, eu saí de lá e vou dando umas sapatadas de luva branca àqueles que me criticavam, que me menosprezavam, que faziam de tudo para que eu passasse de bestial a besta, dizendo, em várias ocasiões, que eu era o maior flop do ciclismo. Agora que olhem para o que já consegui neste meio ano com o meu novo preparador. Segundo o que o meu treinador diz, o melhor ainda está para vir”, argumentou.
Com sinceridade, Machado assume que a última temporada na sua anterior equipa foi “penosa”.
“Quando a estrutura era a da RadioShack, acho que ninguém me pode apontar nada. O meu rendimento foi sempre aquele que se esperava da minha parte. Quando tu, em 2011, tens três quedas na primeira semana de um Giro, quando ficas a antibióticos até aos três últimos dias, claro que não consegues melhor do que um 19.º na geral. Neste último ano, as coisas não corriam bem. Sempre segui à risca tudo o que me era pedido, mas paciência”, disse.
Apesar da estrutura mais pequena da NetApp-Endura, o ciclista de 28 anos, que parece bem mais feliz do que nos tempos da formação norte-americana, não encontra grandes diferenças que possam prejudicar a sua prestação na Volta a França.
“Não é por um calção a mais ou a menos que eu deixo de ter rendimento. Não é por uma bicicleta se chamar A ou B que eu não rendo. Já não encontrava há algum tempo um grupo tâo unido e que me dá vontade de ficar em prova. Os dias passam a voar, quando dás por ela já estás na última etapa, como foi o caso da Eslovénia. Isso quer dizer muito”, salientou.
Talvez por isso, Machado faz questão de “responsabilizar” José Mendes, o outro português da equipa, que também fará a sua estreia no Tour, pelos seus sucessos.
“O Zé tem-me acompanhado grande parte da temporada e, curiosamente, sempre que vou para provas com o Zé acabo por ter bons resultados. É pódios, estar na discussão, ganhar a prova. Curiosamente, as vezes em que o Zé não foi comigo, até estive doente numa das ocasiões. Se calhar foi a falta dele”, brincou.
Para “Tiaguinho”, Mendes, uma das únicas pessoas capaz de por um travão aos seus impulsos, será “um bom porto naquelas alturas complicadas, porque, em três semanas, passam-se muitas dificuldades”.
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