Wout van Aert viveu hoje um dos “dias mais incríveis” da carreira, na derradeira etapa de montanha da Volta a França, uma prestação que deixou o ciclista belga com dúvidas sobre o seu futuro.

Muito do mérito do quase certo triunfo final de Jonas Vingegaard no Tour pode ser partilhado com o ‘super’ Wout van Aert, que hoje voltou a protagonizar uma jornada memorável, depois de andar fugido durante a tirada para ainda ‘condenar’ Tadej Pogacar (UAE Emirates) na subida ao Hautacam e ser terceiro no alto da contagem de montanha de categoria especial.

“Estou orgulhoso de tudo o que a equipa fez e, pessoalmente, orgulhoso de ter contribuído. Quando escutei no meu auricular que o Pogacar estava a descolar, disse para mim mesmo que tinha de dar toda a energia que me restava no corpo. Fi-lo e, depois, o Jonas pôde continuar a solo durante três quilómetros”, declarou o camisola verde.

O belga de 27 anos, que foi terceiro na tirada a 2.10 minutos do seu companheiro de equipa e atrás de Pogacar, explicou que atacou quando a partida real foi dada para assegurar que era a Jumbo-Visma a ditar a lei nos 143,2 quilómetros entre Lourdes e o Hautacam.

“O sinal que a UAE Emirates enviou na etapa de ontem [quarta-feira] obrigava-nos a estarmos muito concentrados e assumir a corrida. Por isso, ataquei no quilómetro zero. De qualquer forma, foi uma loucura. Um dos dias mais incríveis da minha carreira”, definiu o vencedor da quarta e oitava etapas.

A exibição de hoje deixou ‘WVA', que andou de amarelo durante quatro dias e acabou sete etapas no ‘top 3’, com dúvidas sobre o seu potencial, até porque também esteve perto de garantir hoje a camisola da montanha, que foi conquistada pelo seu colega Vingegaard.

“Fui terceiro e talvez tenha sido um bom teste para saber se algum dia poderei aspirar à camisola amarela. Posso usá-la um dia, mas ontem perdi 20 minutos. Vesti-la todo o Tour é outra coisa. No final, percebi que também podia ter ganhado a camisola às bolinhas vermelhas… se tivesse sabido, teria ‘apertado’ no Aubisque”, assumiu.

O papel de Van Aert na tática da Jumbo-Visma tem sido muito questionado nos últimos dias e, hoje, Grischa Niermann, diretor desportivo da formação neerlandesa, defendeu a opção de dar liberdade ao talentoso belga.

“Recebemos muitas críticas pela nossa ideia de lutar pela camisola amarela e pela verde, mas creio que quando tens um corredor como Wout van Aert não podes dizer-lhe que venha ao Tour só para trabalhar para o homem da geral e que não tenha ambições próprias”, notou.

Com a vitória nas duas classificações – e ainda na da montanha – ‘virtualmente’ alcançada, Niermann destacou que “não há outro” como ‘WVA’, antigo tricampeão mundial de ciclocrosse, que só em 2019 apostou definitivamente na estrada.

O belga, que já durante esta Volta a França foi definido pelo diário desportivo francês L’Équipe como o melhor ciclista do mundo, é a principal figura deste Tour, com a sua prestação a superar até, em termos mediáticos e desportivos, pelo espetáculo que proporcionou, a de Vingegaard e Pogacar.