Contra a neve e contra todos, o italiano Vincenzo Nibali venceu hoje a penúltima etapa da Volta a Itália para deixar uma mensagem aqueles que duvidam do que é feito o ciclismo e cimentar a liderança.

Mais do que um ataque aos adversários, quando arrancou a dois quilómetros da meta, ao mesmo tempo que um nevão caía com toda a violência sobre os candidatos da geral, o italiano estava a atacar o preconceito que o positivo por EPO do compatriota e ex-colega Danilo Di Luca reavivou.

«Queria deixar um sinal, também devido ao que aconteceu ontem [sexta-feira, com o anúncio do positivo de Di Luca], para que todos compreendam o que é verdadeiramente o ciclismo. O Giro é muito duro. Era o objetivo principal da minha época. Tenho de agradecer a todas as pessoas que vieram ver a corrida na estrada», disse o camisola rosa depois da sua segunda vitória consecutiva na prova que, salvo desastre, irá ganhar este domingo.

Nibali, que confessou ao jornal Gazzetta dello Sport que o caso de doping da véspera o fez sentir como se tivesse perdido o Giro, acelerou a pedalada a dois quilómetros da meta, deixando primeiro Cadel Evans (BMC) e Michele Scarponi (Lampre) e, depois, Rigoberto Uran (Sky), para se coroar vencedor, entre a neve, em Tre Cimi di Lavaredo.

«Na subida final, senti o calor dos ‘tifosi’, tive de afastá-los em duas ocasiões porque pensava que iam atirar-me ao chão. Ganhar desta maneira ainda me dá mais prazer», garantiu no alto dos 2304 metros da chegada, que concluíam uma tirada retalhada de contagens de montanha devido à neve, causadora da anulação da etapa de sexta-feira.

Nos três picos rochosos, uma das montanhas emblemáticas em Itália, o “Tubarão do Estreito”, de 28 anos, juntou o seu nome a uma lista de vencedores que foi inaugurada em 1967 por Felice Gimondi, com o qual é comparado pela imprensa.

O espetáculo nos Dolomitas deverá valer ao líder da Astana a sua segunda vitória numa grande Volta, depois do triunfo final na Vuelta2010 e do segundo posto no Giro2011, e um desfile vitorioso até Brescia, escoltado pelos seus lugar-tenentes na classificação geral.

Vencedor com o tempo de 5:27.41 horas, o italiano deixou os colombianos Fabio Duarte e Uran a 17 e 19 segundos, respetivamente, e Evans a uns distantes 1.30 minutos.

Com este resultado, o australiano entregou o segundo lugar na geral ao homem da Sky que, na ausência de Bradley Wiggins, nunca conseguiu por em causa o triunfo de Nibali, mas soube gerir a corrida para terminar a 4.43 minutos da “maglia” rosa.

A neve e os Dolomitas não foram uma boa combinação para os portugueses: Bruno Pires foi o melhor na 53.ª posição, com Tiago Machado a ser 69.º, Nelson Oliveira 109.º e Ricardo Mestre o sexto entre os últimos.

Na geral, Machado (RadioShack) é 35.º, a mais de uma hora, Pires (Saxo-Tinkoff) 69.º a quase duas horas de Nibali, Oliveira (RadioShack) 81.º, a 2.24 horas, e Mestre (Euskaltel-Euskadi) 143.º a 3.36 horas.

A última etapa, que deve servir apenas para a festa final e para a última luta entre “sprinters”, vai ligar, no domingo, Riese Pie X a Brescia, no total de 197 quilómetros.