Sérgio Paulinho e Bruno Pires destacaram a vertente espectacular e imprevisível do ciclista espanhol Alberto Contador, seu antigo companheiro de equipa, que hoje anunciou a retirada.
“Não me surpreende muito. Acho que depois de o Tour não lhe ter corrido como queria, com as quedas e isso tudo, é uma decisão que não surpreende. Agora podemos dizer muitas coisas, mas acho que, mesmo sem ter ganhado uma grande competição nos últimos dois anos, sai em grande, na altura certa, pelo ciclista que foi e pelo espetáculo que deu durante a sua carreira”, defendeu Sérgio Paulinho.
O ciclista da Efapel, que durante dez temporadas foi o mais fiel escudeiro e um dos melhores amigos de Alberto Contador – os dois zangaram-se no final do ano passado, quando o espanhol se mudou para a Trek-Segafredo e não cumpriu a promessa de levar o português -, justificou a popularidade de ‘El Pistolero’ com a sua capacidade atacante.
“Acho que o Alberto conseguia fazer coisas que ninguém esperava, era sempre imprevisível. Podíamos pensar em ter uma etapa tranquila e acabava por ser a das mais duras da competição. Acho que o ciclismo vai ficar a perder, apesar de estarem a aparecer outros tipo Alberto, como o [Romain] Bardet, que também é muito ativo. É bom aparecerem estes ciclistas, mas é mau por sair o Alberto”, acrescentou.
Ao contrário de Paulinho, Bruno Pires foi apanhado de surpresa pelas notícias que chegaram do outro lado da fronteira, antes do arranque da terceira etapa da 79.ª Volta a Portugal, em Figueira de Castelo Rodrigo.
“Esta é uma notícia ‘quentinha’. Eu estive com o Alberto em abril, a jantar com ele, e a ideia dele era ganhar o Tour. Fez tudo para ganhar o Tour e esta é a forma de ele estar na vida. Ele dizia-me: ‘Bruno, eu não estou no ciclismo por dinheiro, estou porque gosto de ser ciclista, dos estágios, de estar concentrado e desta forma de estar na vida’. Se calhar entendeu que não o fazia desfrutar como já o fez”, revelou à agência Lusa o antigo ciclista, que partilhou equipa (a Tinkoff) com o madrileno durante quatro anos.
Para o agora motorista de convidados da Volta, a popularidade do vencedor de sete grandes Voltas, que se vai retirar depois da Volta a Espanha, não está tanto nas suas conquistas (os Tour de 2007 e 2009, os Giro de 2008 e 2015 e as Vuelta de 2008, 2012 e 2014), mas no espírito combativo e atacante, que provoca incerteza nas corridas e emoção nos espetadores.
“Das coisas que mais me marcavam nele era o sempre acreditar. Eu lembro-me da Volta a Espanha que ganhámos juntos, ele, depois de tantas etapas perdidas para o [Joaquim] Rodríguez, chegava à noite e dizia: ‘Amanhã, eu ganho, pela minha honra, eu ganho amanhã. Houve um dia em que ganhou’, recordou.
Já Paulinho não consegue esquecer aquele que foi o primeiro momento da sua parceria com o corredor, de 34 anos, que, entre ciclistas e adeptos, é conhecido apenas por Alberto.
“Eu respondo sempre o Tour de 2007, porque foi o meu primeiro e o primeiro que o Alberto ganhou. Vai ficar sempre na memória, foi o momento mais marcante”, salientou o sexto classificado da Volta a Portugal, considerando que o ciclismo vai ficar mais pobre sem Contador.
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