Um erro nas classificações digitais colocou hoje em dúvida a vitória de Remco Evenepoel (Deceuninck-QuickStep), na quinta etapa e na geral da 46.ª Volta ao Algarve, mas a intervenção dos comissários permitiu ao ciclista belga celebrar em Lagoa.
“Nunca se sabe se ganhámos ou não ao chegar. Temos de esperar, esperar, e só quando ouvimos pelo auricular é que temos a certeza. É uma sensação fantástica”, disse o jovem que andou de amarelo desde quinta-feira, quando ganhou no alto da Fóia, e só a ‘perdeu’ virtual e efemeramente hoje.
A incerteza vivida não tirou sabor à vitória, consumada com um triunfo no contrarrelógio da quinta e última etapa e uma ‘vingança’ sobre o homem que lhe roubou o título mundial da especialidade em setembro passado.
Um dia depois de ter feito a festa na escalada ao Malhão – num vídeo publicado nas redes sociais, pode ver-se o australiano a subir ao ponto mais alto de Loulé com uma cerveja na mão, que agita, como se de champanhe se tratasse, para molhar os adeptos que o vão incentivando e aplaudindo –, Rohan Dennis pedalou a mais de 50 km/h para fixar o melhor tempo.
O bicampeão mundial da especialidade, que hoje estreou a sua camisola arco-íris com os tons da sua nova equipa, a INEOS, foi uma verdadeira ‘flecha’ nas ruas de Lagoa, cumprindo os 20,3 quilómetros do exercício individual em 24.17 minutos.
O tempo de Dennis parecia suficiente para garantir-lhe a vitória, mas ainda faltava chegar o camisola amarela, assim como Simon Geschke e Tim Wellens, o duo ‘responsável’ pelo momento mais surreal das últimas edições da ‘Algarvia’: quer o alemão da CCC, quer o belga da Lotto Soudal foram, a determinada altura, vencedores virtuais da prova portuguesa, com tempos altamente irreais, quase 30 segundos abaixo do registo do ciclista da INEOS.
Assim, quando Evenepoel cortou a meta, com o tempo de 24.07 minutos – um recorde neste traçado -, a festa do jovem belga e do ‘staff’ da Deceuninck-QuickStep foi contida, com o suspense sobre o verdadeiro campeão desta edição a prolongar-se durante aquilo que pareceu uma eternidade.
Foi junto à meta, onde estavam quer os comissários (do lado esquerdo), quer o posto de classificações (do direito), que o desfecho foi conhecido: após um compasso de espera, acompanhado de perto pelo diretor técnico da Deceuninck-QuickStep, o português Ricardo Scheidecker, os tempos virtuais foram retificados, depois de os comissários, que cronometraram a etapa manualmente, detetarem incongruências nas marcas de Geschke e Wellens.
Anunciada pelo ‘speaker’ da prova, a vitória de Evenepoel foi dupla: ganhou a quinta etapa, com dez segundos de vantagem sobre Dennis e 19 sobre o terceiro classificado, o suíço Stefan Küng (Groupama-FDJ), vencedor no ano passado no mesmo traçado em Lagoa, e a geral individual, com confortáveis 38 segundos sobre o alemão Maximilian Schachmann (Bora-hansgrohe).
Os dois especialistas na luta contra o cronómetro tinham iniciado a etapa empatados na geral – e com o irlandês Daniel Martin (Israel Start-Up Nation), que teve uma prestação desastrosa e saiu, inclusive, do ‘top 10’ -, mas Schachmann não conseguiu contrariar o favoritismo de campeão europeu e vice-campeão mundial da especialidade.
“Sinto-me sempre bem neste traçado, mas sou sempre lento. Não sei qual é o meu problema com este percurso”, lamentou o alemão, que foi quarto na tirada, com o mesmo tempo do colombiano Miguel Ángel López (Astana), o ciclista que fechou o pódio desta ‘Algarvia’ e negou o ‘top 3’ a Rui Costa.
López surpreendeu no ‘crono’ e subiu à terceira posição, a 39 segundos de Evenepoel, enquanto o português da UAE Emirates foi 13.º, a 53 segundos do belga, e concluiu o seu regresso à prova algarvia no quarto lugar, a 56 segundos da amarela.
Entre os portugueses, destaque ainda para João Almeida (Deceuninck-QuickStep), que entrou nos dez primeiros (foi nono, a 1.40 minutos), e para Amaro Antunes (W52-FC Porto), o melhor representante das equipas nacionais na geral, na 10.ª posição, a 1.57.
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