Tiago Machado, o último português a subir ao pódio da Volta ao Algarve, criticou hoje a organização por preferir “homenagear os estrangeiros”, ao invés dos ciclistas nacionais que sempre valorizaram a prova.

Em declarações à agência Lusa, antes do início da primeira etapa, em Portimão, o corredor que mais edições completou da ‘Algarvia’ (15) começou por falar do seu ‘amor’ à corrida mais internacional do calendário velocipédico nacional, equiparando-a à Volta a Portugal, antes de desabafar o seu desencanto para com a organização.

“A organização, de certa forma, prefere sempre homenagear os estrangeiros [em detrimento] do que tem por cá. Há uns anos, em Albufeira, homenagearam um ciclista alemão [Tony Martin]. Este ano, devem escolher outro... ao invés de dar valor a quem sempre deu valor à prova. Mas é a mentalidade deles”, criticou, referindo-se à decisão da organização de atribuir o Prémio Prestígio desta edição ao italiano Vincenzo Nibali (Trek-Segafredo), um estreante na Volta ao Algarve.

Cinco anos depois de ter sido o último português a subir ao pódio na corrida algarvia – foi terceiro em 2015 e 2010 -, o ciclista da Efapel evoca esse resultado para denunciar a sua mágoa.

“Eu sei o valor que tenho, sei o que fiz ao longo da minha carreira. Quantos portugueses podem gabar-se de ter feito pódio nesta corrida desde que esta é uma corrida de monta internacional?”, questionou, avisando que “a estrada põe sempre cada um no seu sítio”.

Escusando-se a apresentar-se como candidato à geral, Machado foi avisando que “se tiver a capacidade física” de anos anteriores, poderá tentar acompanhar os homens da frente.

“Ainda não fiz nenhuma chegada em alto este ano. O que tenho feito de subida a treinar tem sido com o pensamento de estar bem ao longo do ano, mas sei que não vai ser fácil, tendo em conta os adversários que aí estão, estar com eles. Irei tentar estar, pelo menos, o máximo tempo possível na frente”, sustentou.

Embora afastado dos ‘holofotes’ da 46.ª Volta ao Algarve, o famalicense, de 34 anos, reconhece que “enquanto por cá andar”, o sonho de vencer a ‘Algarvia’ vai manter-se.

“Sei que, de ano para ano, vai sendo mais complicado, mas trabalho todos os dias. Não vivo focado com resultados, já foi tempo disso, em que estava sob um stress enorme. Agora é tentar desfrutar da bicicleta, como tenho feito”, resumiu o corredor, que em 2019 regressou ao pelotão nacional após nove temporadas ‘emigrado’.

Profissional desde 2005, Machado ainda não pensa na reforma e delega a responsabilidade do final da sua carreira na capacidade das suas pernas.

“Sei que algum dia vou ter de deixar, porque as quedas, as lesões, as doenças... Muita gente esquece-se que tive uma queda grave em 2014, em 2016 tive problemas de saúde, em 2018 ‘idem aspas’. Muita gente esquece-se que, se calhar, fiquei arredado dos grandes palcos por atrasos na preparação. Agora, é tentar reencontrar-me. Sinto-me bem”, concluiu.

A 46.ª Volta ao Algarve arrancou hoje em Portimão e termina no domingo, com um contrarrelógio nas ruas de Lagoa, que determinará o sucessor do esloveno Tadej Pogacar no palmarés dos vencedores.