Orlando Duarte foi responsável pelo grande desenvolvimento da seleção de futsal nas duas últimas décadas. No seu curriculum conta com um terceiro lugar no Mundial de 2000 na Guatemala e um vice-título europeu em 2010 na Hungria.

Esse trabalho foi reconhecido no dia de ontem numa homenagem levada a cabo pela Federação Portuguesa de Futebol (FPF). Em entrevista ao SAPO Desporto, o agora treinador do Sporting visitou esse seu longo percurso ao serviço da seleção.

SAPO Desporto: Esteve 17 anos ao serviço da seleção de futsal, como colaborador e depois como selecionador. Como caracteriza esse percurso?

Orlando Duarte: Nunca o analisei bem em termos de sentimento. A minha preocupação foi sempre que o desenvolvimento e o crescimento do futsal fosse uma realidade no clube onde estava e na seleção. Houve um ano (2000/01) em que acumulei funções como treinador do Sporting e selecionador. Anteriormente o selecionador era o Coronel Fernando Lopes e eu ia lá só nos eventos que nós tínhamos.

Dediquei-me muito porque gosto daquilo que faço, tenho essa felicidade. É um privilégio nas nossas profissões ter esta dedicação a uma causa e a uma paixão.

SD: Qual foi o momento mais glorioso que viveu neste seu longo percurso enquanto selecionador?

OD: O Mundial da Guatemala, em que conquistámos um terceiro lugar, foi talvez o melhor momento que vivi na seleção. Era a primeira vez que o futsal português estava num Mundial e foi bom para abrir os olhos a quem não dava nada por esta modalidade.

Reunimos um bom lote de jogadores, estagiámos durante três semanas em Rio Maior e conseguimos criar naquele espaço de tempo um grande grupo e criar uma equipa a sério.

Eu ainda hoje tenho no "desktop" do meu computador essa fotografia do pódio na Guatemala. Esse momento marcou-me bastante a mim, como a toda a gente que lá esteve. Talvez o distinga por ser o início de um percurso mais mediático e mais reconhecido.

SD: E, por oposição, momento mais difícil que viveu?

OD: Esse ocorreu no Mundial do Brasil, essencialmente pela forma como fomos eliminados com aquele conluio entre a Itália e o Paraguai. Desde essa altura nunca mais consegui olhar para a cara deles sequer. A partir desse momento, quando os encontrava nas competições a seguir não falava a jogadores nem a dirigentes. Passava por eles e não os conhecia.

Ainda agora no torneio internacional de Lisboa (realizado durante a pré-época), três anos depois, um ítalo-brasileiro que jogava nessa seleção veio abraçar-me e pedir-me desculpa por aquilo. Fiquei algo surpreendido. Não tenho dados para provar o que quer que seja, mas tenho esses pedidos de desculpas que comprovam o que eu pensava.

SD: O que o levou a encerrar em 2010 este longo ciclo?

OD: Comecei a sentir falta de treinar diariamente, de competir mais, de ter coisas para ganhar. Este são ciclos da vida. Temos que nos adaptar a eles. Queria chatear-me mais e ter todos os dias treinos. Evidentemente que às vezes sinto uma nostalgia grande quando chegam as fases finais de Europeus e Mundiais. No mínimo o que vou fazer é estar a apoiar. Levo cachecol e bandeira e vou fazer o que posso para ajudar Portugal a ganhar.

Confira aqui a segunda parte da entrevista.