O presidente da Federação Portuguesa de Golfe (FPG) defendeu hoje que “a maioria dos campos de golfe têm sistemas de rega altamente modernos”, que permitem “não gastar qualquer gota de água que não seja absolutamente necessária”.
“Isto, porque são empresas que têm que ter operações rentáveis e, portanto, não têm qualquer interesse em gastar eletricidade e água a mais, quando não é necessário”, justificou Miguel Franco de Sousa, reagindo a declarações do ministro do Ambiente e Ação Climática, numa entrevista à Lusa, a propósito da seca que o país atravessa.
Duarte Cordeiro pediu hoje aos investidores em empreendimentos de campos de golfe que procurem alternativas para “regar” os campos e Miguel Franco de Sousa, apesar de reconhecer que ainda existem “alguns que carecem de requalificação dos seus sistemas de rega”, “uma ínfima parte”, garante que “a esmagadora maioria e, em particular no Algarve, onde o problema é maior, os campos têm sistemas de rega e drenagem já muito bons”, sendo que “o consumo de água é levado ao mínimo”.
“Esta questão coloca-se não tanto na região de Lisboa e Porto, mas fundamentalmente no Algarve. Agora, importa perceber qual é a quantidade de água que é consumida por cada um dos setores e os campos de golfe do Algarve consomem apenas 6,4% do total de água consumida nesta região. O setor que mais consome é o agrícola, com quase 57%, seguindo-se obviamente o consumo urbano, que são 28,6%”, aponta Franco de Sousa, alegando que o “golfe não é o 'elefante na sala'”.
Além de avançar que no “Algarve existe uma indústria muito mais moderna e profissionalizada, sendo que esse tipo de sistemas está a ser implementado na sua larga maioria, assim como nos novos campos na região de Lisboa e na zona litoral do Alentejo”, o líder federativo diz ser ainda relevante perceber “qual a importância de cada um destes setores”.
“Não falo do residencial, que é obviamente um setor básico e fundamental, mas qual é o impacto socioeconómico do golfe na região? O golfe representa cerca de 13% do valor acrescentado bruto no Algarve, em resultado dos 500 milhões de euros de impacto direto induzido na economia da região, gera cerca de 17 mil postos de trabalho, que são mantidos ao longo de todo o ano, graças a todo o ecossistema do golfe, e emprega diretamente duas mil pessoas”, sublinhou.
Já quanto à agricultura, Miguel Franco de Sousa diz representar “apenas 3% do valor acrescentado bruto da região, à volta dos 115 milhões de euros, e que inclui setores como a produção animal, a caça, as florestas, as pescas”.
“Na questão da agricultura houve um crescimento brutal, na ordem dos 50%, entre 2012 e 2017, em que se aprovaram projetos e culturas diferentes que requerem muito consumo de água, quando não existe água”, recorda, sustentando que o “Estado tem que olhar para aquelas que são as suas responsabilidades”.
“Vejo com alguma perplexidade como é que um responsável do Governo se demite das suas responsabilidades, seja na requalificação das barragens, lagoas, na construção de ETARS e de centrais de dessalinização. Olhamos para países como Espanha e até Israel e vemos que aqui ao lado, por exemplo, existem duas mil ETARS e nós aqui temos meia dúzia”, frisou.
O dirigente partilha da opinião que Portugal tem de “apostar em ETARS, centrais de dessalinização e não se pode simplesmente dizer que os investidores dos campos de golfe têm que ter cuidado e gastar menos, porque não vai haver água. E então qual é a responsabilidade do Estado neste processo?"
"O golfe tem investido muito na requalificação, há campos que têm feito esse trabalho de uma forma absolutamente extraordinária. Aquilo que se pede é que o Estado também faça o seu trabalho, não se demita das suas responsabilidades e não encontre bodes expiatórios quando há falta de água. Os campos de golfe, que consomem 6,4 % de água, não são o demónio, não são o elefante na sala e não deixam o país em seca”, esclarece, dando ainda como exemplo as 70 centrais de dessalinização em Espanha.
Além de aproveitar para questionar o Ministro sobre “os planos do Governo para que se possa reter melhor as águas das chuvas, gerir melhor os sistemas de rega que vêm das barragens, que tipo de ETARS e de centrais de dessalinização podem ser construídas”, o dirigente adianta que só “as perdas de água nas redes de abastecimento públicas são o suficiente para regar 400 a 500 campos de golfe”.
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