Pensamos que desporto em Portugal é apenas futebol, mas a verdade é que o golfe atrai milhares de turistas ao nosso país, gerando quase dois mil milhões de euros para a economia lusa, traduzindo-se em mais de 140 milhões de euros em impostos para as finanças do Estado. Mais, a modalidade é responsável por empregar mais de 16500 pessoas.

Os praticantes desta modalidade jogam ao ar livre, próximos da natureza e tendem valorizar as boas práticas ambientais. A Federação Portuguesa de Golfe (FPG), que esteve à conversa com o SAPO Desporto, refere que os golfistas estão conscientes das alterações climáticas e de como é importante cuidar do terreno de jogo, seja na moderação dos recursos naturais ou na preservação do ambiente.

Para as entidades que tutelam a modalidade e praticantes da mesma, existe um compromisso muito sério com a sustentabilidade. Existem diversas tipologias campos de golfe, desde percursos compactos urbanos que se desenvolvem numa área de 5 a 10 hectares (ha) aos percursos de 9 ou 18 buracos que ocupam áreas que podem variar entre os 20 ha e os 70-80 ha. Qualquer que seja a tipologia ou dimensão, a "coexistência de campos de golfe, geridos de forma sustentável, com a promoção da biodiversidade não só é possível, como é uma realidade", conta-nos a FPG.

Em meio urbanos e rurais, os campos de golfe possuem uma função ambiental e ecológica relevante para a comunidade. Para além do importante contributo para a vivência e qualidade de vida dos utentes, praticantes da modalidade ou não, locais ou turistas, "os campos de golfe possuem um elevado valor ecológico pela diversidade da flora, predominantemente autóctone, e habitats importantes para a conservação que asseguram refúgio e alimento para fauna".

Em complemento, o "setor do golfe tem investido na redução da dimensão das áreas regadas, na adoção de relvas adaptadas ao clima local e a situações especificas dos solos e na implementação de novas tecnologias, auxiliando não só o processo de programação, mas também a eficiência da rega, permitido economias de água significativas (reduções 20-30%), através de uma rega otimizada, com menores quantidades de água, sem que o aspeto vegetativo das plantas no relvado perca qualidade". Mais recentemente, a utilização de águas residuais tratadas passou a ser um fator importante no planeamento da gestão da rega, salvo as situações em que não seja técnica e economicamente viável.

O golfe como desporto sustentável
O golfe como desporto sustentável créditos: Federação Portuguesa de Golfe

A organização liderada por Miguel Franco de Sousa pretende reabilitar "áreas urbanas e paisagens degradadas, potenciar a melhoria da qualidade do ar, a amenização térmica, a infiltração de águas no solo e a recarga de lençóis freáticos" em vários campos de golfe portugueses.

Na proteção ao meio ambiente, a Federação Portuguesa de Golfe promove "a adoção de ferramentas de qualificação ambiental das instalações desportivas, novas ou existentes, por exemplo através do programa OnCourse® da Golf Environment Organization (GEO), promovido pelo R&A."  Existem ainda as campanhas de sensibilização temáticas que estimulam a "implementação de boas práticas ambientais através do Fundo de Desenvolvimento do Golfe (mecanismo de financiamento a projetos de Clubes)".

A título de exemplo, a FPG promoveu um projeto-piloto que visa a redução dos volumes de água consumidos na rega do campo de golfe do Centro Nacional de Formação de Golfe Jamor.

Estarão realmente os golfistas conscientes dos desafios ambientais?

"A prática do golfe coloca o atleta diretamente em contato com a natureza e o meio ambiente, sensibilizando-o desde cedo para as questões ambientais. A preservação do campo de golfe e do meio ambiente em que este se insere, os desafios ambientais que o clube de golfe enfrenta, entre outros, são do conhecimento dos membros do clube", refere a Federação Portuguesa de Golfe.

Tomás Bessa, golfista português
Tomás Bessa, golfista português créditos: Federação Portuguesa de Golfe

Tomás Bessa Guimarães é um dos golfistas atento aos desafios ambientais que o mundo atravessa. Aos 21 anos, o atleta português adotou um estilo de vida vegano e quatro anos mais tarde diz sentir "uma grande melhoria em vários aspetos que contribuíram para uma melhoria na performance em geral".

"Adotei uma dieta vegana há sensivelmente quatro anos. Sempre fui um desportista e um entusiasta pela nutrição . Meia volta 'vagueava' pela literatura à procura de novos estudos que pudessem acrescentar algo de novo e melhorar a minha rotina como atleta. Acidentalmente deparei-me com um site chamado Nutritionfacts.org e fiquei super impressionado com o rigor e com o conteúdo do site. Após ter verificado que havia forte evidencia cientifica de que uma dieta vegana poderia ser vantajosa face a uma dieta omnívora decidi aventurar-me. Esta foi a principal razão da minha mudança", disse o golfista natural do Porto ao SAPO Desporto.

A residir atualmente no Algarve, Tomás Bessa já representou a seleção portuguesa e foi campeão nacional em 2020, contando ainda com duas vitórias internacionais.

Sinto que estou a dar o melhor 'combustível' ao meu corpo e ao mesmo tempo a ter uma atitude ecológica e de respeito para com os animais e os seus ecossistemas.

Ao longo dos anos, o golfista luso sente-se cada vez mais ativista, isto porque os benefícios deste estilo de vida trouxeram-lhe a certeza de que existem inúmeros mitos infundados que levam as pessoas a rejeitarem por completo estes princípios.

"Porque é que havemos de matar animais para nos alimentar se não precisamos deles para sobreviver? Porquê optar por produtos de origem animal quando se sabe que a sua produção implica um gasto de recursos naturais que não é de todo sustentável para o planeta? Não acho justo uma criança em África morrer de fome enquanto uma vaca bebe mais de 15 litros de água por dia e come outro tanto de ração para dar uns quantos quilos de bifes..."

O golfista explica que no início da mudança para o veganismo - que inclui uma nova dieta - foi acompanhado por uma nutricionista, mas que hoje em dia já tem um conhecimento de base que o permite ser mais autónomo.

Numas das reportagens do SAPO Desporto sobre o vegetarianismo no futebol português, o nutricionista António Pedro Mendes, atualmente ao serviço do Sporting Clube de Portugal, explicou que "a ciência parece mostrar que, quando se avaliam parâmetros metabólicos, ou mesmo através da avaliação direta de performance, não há diferenças significativas" entre uma dieta vegetariana/vegana e uma omnívora.

O profissional de nutrição deixou ainda bem claro que um atleta não será melhor com uma dieta vegetariana/vegana, sublinhando que não há qualquer evidência que aponte nesse sentido. Pode ler a entrevista na íntegra AQUI.

Tomás Bessa, que pretende para 2022 competir no circuito Challenge Tour - a segunda divisão europeia do golfe europeu profissional - e conseguir a ascensão a principal divisão do golfe na Europa - deixou ainda uma mensagem a todos aqueles que estão a ler este artigo.

Tomás Bessa, golfista português
Tomás Bessa, golfista português créditos: Federação Portuguesa de Golfe

"Reduzir o consumo de produtos de origem animal ajuda, e muito, a proteger o nosso planeta. Muitas pessoas não tem noção do dispêndio energético necessário para fazer chegar o produto final ao consumidor e do impacto que todo esse processo tem no aquecimento global e na saúde pública..."

O mais proeminente entre os atletas veganos talvez seja o piloto de Fórmula 1 Lewis Hamilton. O sete vezes campeão do mundo da modalidade já ganhou o prémio de Personalidade do Ano para a PETA (People for the Ethical Treatment of Animals) pelo seu ativismo na sustentabilidade do planeta, além de ter investido no restaurante de fast food vegano "Neat Burger", em Londres. Também produziu o documentário "The Game Changers".

Aos 37 anos, no auge da sua carreira como piloto de Fórmula 1, Hamilton atingiu o estatuto de celebridade - que parece rejeitar - permitindo-lhe dizer o que pensa, nem que para isso tenha de ferir organizações como a FIA (Federação Internacional do Automóvel). O mais importante é não deixar cair em esquecimento questões como o bem-estar do planeta, a importância do veganismo e, acima de tudo, que todos sejamos tratados de igual forma, independentemente das diferenças que possam existir entre os humanos. Pode ler a entrevista exclusiva do SAPO Desporto ao piloto britânico realizada em 2020.

Sendo o golfe um desporto olímpico, e considerando que o tema sustentabilidade é um dos pilares da Agenda 2020+5 do Comité Olímpico Internacional (COI), que orienta as ações do movimento olímpico internacional, a Federação Portuguesa de Golfe tem procurado mobilizar os agentes desportivos, incluindo os profissionais de golfe, para os temas sensíveis como o consumo de água, a proteção de habitats, a gestão de resíduos e a adoção de práticas de manutenção mais sustentáveis.

Portugal como um dos melhores destinos para praticar golfe

Portugal já foi considerado o 'Melhor Destino de Golfe da Europa' por seis vezes e, em 2013, foi mesmo o melhor do mundo. Este tipo de título atrai muito público e muitas pessoas podem significar gastos excessivos dos recursos e gerar bastante poluição.

"Os agentes do setor, entidades públicas, associações, gestores, equipas de manutenção e treinadores são profissionais com formação nas áreas da sustentabilidade e os nossos empreendimentos turísticos com golfe já adotaram medidas que visam uma utilização mais eficiente dos recursos existentes e uma redução da produção de resíduos e emissões de gases com efeito de estufa", contradiz a FPG.

O Turismo de Portugal pretende capacitar o setor para uma trajetória que se quer mais sustentável e apoiar as empresas nesta transição, o que significa incrementar as competências dos profissionais do setor no que diz respeito à sustentabilidade da atividade, alavancar iniciativas já existentes, dar visibilidade a boas práticas e inspirar todos a fazer mais e melhor na construção de um destino turístico cada vez mais sustentável.

Segundo o Estudo de Impacto Macroeconómico do Golfe em Portugal no ano de 2018, desenvolvido pela Deloitte para a FPG, o impacto direto e indireto da prática do Golfe na geração de riqueza na economia portuguesa ultrapassou os 1,9 mil milhões de euros, sendo responsável não só por 16500 postos de trabalho, como pela redução da sazonalidade dos destinos turísticos, criando maior sustentabilidade nos negócios e no emprego durante todo o ano.

Um exemplo inegável do contributo do golfe para a sustentabilidade de regiões que dependem, em larga escala, do turismo, sobretudo quando caracterizados pela sazonalidade, é o caso do Algarve.

Descentralizar o golfe em território português é descentralizar os recursos naturais

Apesar de existirem atualmente vários campos para a prática de golfe, muitos deles concentram-se no Algarve. A Federação Portuguesa de Golfe confessa que "não é aceitável cidades como Braga ou Coimbra não terem a sua própria instalação desportiva de golfe".

Para o organismo que tutela o golfe em Portugal é fundamental que as autarquias entendam a necessidade de construção de instalações públicas para se poder atrair mais atletas para a modalidade.

Segundo a FPG, o golfe "transmite valores essenciais a uma sociedade moderna e evoluída, que permite ser jogado de forma intergeracional, que contribui para o fortalecimento da oferta turística das regiões e para um melhor ordenamento do território, privilegiando os espaços verdes".

Thomas Pieters em ação no Portugal Masters 2021, que decorreu em Vilamoura, no Algarve
Thomas Pieters em ação no Portugal Masters 2021, que decorreu em Vilamoura, no Algarve créditos: LUIS FORRA/LUSA

De acordo com dados da Agência Portuguesa do Ambiente, e citado pelo presidente da FPG no Observador, o volume de água captado no Algarve (cerca de 40 campos de golfe) corresponde, em média, a 15,2 hm3/ano, sendo que o consumo agrícola nesta região (134 hm3) representa 57% dos consumos totais do Algarve.

Nesta região do país, a prática de golfe gera um valor bruto de cerca de 500 milhões de euros, com a agricultura a contribuir com 120 milhões de euros.

Acontecendo a prática do golfe em plena natureza, a modalidade pode assumir um importante papel de sensibilização para as questões ambientais, nomeadamente junto dos mais novos e das respetivas famílias.

Apesar de na última década o golfe ter vindo a crescer paulatinamente, a FPG reconhece que para acelerar o processo de captação de novos praticantes é "fundamental o reforço da presença desta modalidade nas escolas". Neste sentido, a FPG encontra-se a desenvolver um novo projeto, em parceria com o Desporto Escolar, que visa "a introdução e desenvolvimento da modalidade dentro da comunidade escolar, em estreita colaboração com os clubes e campos de golfe locais. O contato com a comunidade escolar "permitirá informar e sensibilizar alunos e professores para as questões de sustentabilidade da modalidade".

A FPG lançou, em setembro deste ano, um programa que visa captar novos praticantes, descentralizar a sua prática, promover o respeito pela natureza, dar a conhecer a modalidade e os benefícios para a saúde.

Uma reportagem da Visão deu conta de que o golfe é também um desporto anti-COVID, realçando que a prática segura desta modalidade numa altura em que o distanciamento físico era essencial fez subir o número de golfistas.

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