O hoquista Reinaldo Ventura e o futsalista Davide Moura reforçaram hoje o sossego com que encaram a quarentena obrigatória nacional decretada pelo Governo italiano na segunda-feira, em resposta à pandemia de Covid-19.

“Sei que é uma opção difícil, mas absolutamente necessária e que pecou por tardia. Nas ruas há uma diferença abismal e não se vê quase ninguém. As pessoas perceberam o problema e estão a seguir à risca as instruções, na disposição de resolvermos isto o mais rápido possível”, constatou à agência Lusa Reinaldo Ventura.

Após dois anos a jogar com as cores do Viareggio, o avançado gaiense, de 41 anos, viajou cerca de 340 quilómetros para nordeste e assinou pelo Trissino, comuna a rondar os nove mil residentes no Veneto, a terceira região italiana mais afetada pelo novo coronavírus.

“Podemos ir ao supermercado ou à farmácia e mais que isto só com autorização. Temos de usar a cabeça e adotar um sentido cívico muito acima da média, porque não estamos perante uma guerra nem há necessidade de compra desmesurada. Agora só permitem a entrada máxima de 40 pessoas num supermercado, mas nada falta”, relatou.

Companheiro de Diogo Neves e treinado por Sérgio Silva, Reinaldo Ventura e a restante estrutura do Trissino estiveram isolados 10 dias até sexta-feira, depois de um jogador ter sido diagnosticado com Covid-19 em 01 de março, juntando-se aos 17.750 casos registados em Itália, novo epicentro da doença detetada na cidade chinesa de Wuhan.

“Apresentou positivo no domingo, tivemos folga na segunda-feira e disseram-nos na terça que não poderíamos treinar mais. Nesse dia, o hospital pediu-nos os dados de quem vivia comigo e aconselhou que verificássemos a temperatura duas vezes por dia, estando atentos aos sintomas. Diariamente foram ligando a perguntar como estávamos”, apontou.

O caso estabilizou e as necessidades básicas do internacional luso deixaram de depender das autoridades locais, embora permaneça confinado num apartamento, a fazer “trabalho abdominal e de força” ao lado de esposa e filhos, sob pena de enfrentar multas de 300 euros e processos judiciais.

Situação idêntica experimenta Davide Moura, de 33 anos, que abandonou o Kuwait para regressar esta época ao futsal italiano e representar o Real Rieti, localizado na zona centro de Itália, em Lácio, nona região mais afetada, incluindo Roma.

“Se quisermos sair daqui, temos de nos justificar às autoridades com motivos de força maior e assinar uma folha. Não sabemos quando ou se a Liga será retomada, mas temos indicações do clube para não ficarmos a zeros na parte física e estamos com um plano limitado de treinos na nossa zona de residência”, explicou o fixo à agência Lusa.

A morar com a esposa, o internacional oriundo de Boticas elogia a prevenção das autoridades e desdramatiza o “alarme ou confusão” face ao Covid-19 por parte de um aglomerado de 47 mil habitantes, onde encontra parques para manter a forma.

“Pensámos que poderia acontecer o que se passou em Portugal, com corridas aos supermercados e pessoas com medo, mas tudo corre normalmente. Saio uma hora por dia para correr e quando volto não tenho contacto com nada nem ninguém”, partilhou.

O executivo de Giuseppe Conte suspendeu o desporto transalpino por tempo indeterminado e Davide Moura admite que há “várias possibilidades” sobre o destino de um campeonato em que o Real Rieti é terceiro, com 53 pontos, a sete do líder Pesaro.

“A Taça da Liga e a Taça de Itália, que eram objetivos claros para nós, foram canceladas. O campeonato pode não voltar, regressar somente com ‘play-offs’ e ‘play-outs’ ou ser retomado por completo, com jogos em atraso ao fim e a meio da semana”, elucidou.

A par do futsalista, Reinaldo Ventura tinha desafios agendados à porta fechada, mas tudo mudou desde o final de fevereiro, inaugurando um ciclo que agudizará a “necessidade de uma nova pré-época” para o Trissino, sexto da Liga italiana de hóquei, com 39 pontos.

“Não me parece que isto afete muito a nível psicológico, porque a vontade de voltar é grande. O problema será retomar as condições físicas ideais. Há atletas que continuam a trabalhar, outros nem tanto”, concluiu o antigo dianteiro de FC Porto e Óquei de Barcelos.