Um encontro entre pai e filhos, em lados opostos do campo, não foi favorável à autoridade paterna, com os hoquistas Joey e Rico a contribuírem para uma goleada da Holanda à Bélgica no Europeu de hóquei em patins.

O pai, Tonny van Dungen, selecionador da Bélgica, não escapou ao último lugar no Europeu de Hóquei em patins, num jogo em que os seus filhos, Joey, guarda-redes da Holanda, e Rico, com dois golos, ajudaram a Holanda a vencer por 15-3.

Para Tonny, mais do que a diferença no marcador para outras equipas, há que olhar para as carências que a Bélgica teve neste Europeu, em especial com um guarda-redes ou a inexistência dele, porque teve que recorrer a um jogador de campo.

Para o treinador, antigo internacional holandês, a Bélgica pode jogar “muito melhor em outras condições” e os duelos com a Holanda até costumam “ser mais renhidos”.

“Geralmente os encontros são disputados e esses são os mais divertidos. O que aconteceu hoje não foi divertido. Eu não achei necessário marcarmos 15 golos, porque sabemos qual é a situação deles. Também costumamos sofrer 15 golos com a Espanha e Itália e isso não é divertido”, afirmou Rico, o mais novo dos irmãos, com 21 anos e defesa, como o pai.

A partir da próxima temporada, vão representar o Bison Calenberg, da Alemanha, país no qual atuam há vários anos, visto que na Holanda existem “duas ou três equipas, na Bélgica quatro, então os dois países formam um campeonato”, sendo essa a razão para ‘emigração’ de hoquistas para o país germânico.

As duas seleções passam por grandes dificuldades, e Rico e Joey revelam que tiveram de “de poupar todos os meses”, visto que os jogadores tiveram de pagar para participar no Europeu, bem como o treinador e preparador físico da Bélgica, enquanto a equipa holandesa está em risco de acabar.

“Para os jogadores que querem jogar num nível maior têm de jogar na Alemanha. É isso que faço há sete anos. Já se diz há muitos anos que vamos terminar com a equipa nacional, dizemos que é sempre o último ano. Não sabemos quanto mais aguentamos, entre jogadores, falta de dinheiro e Federação”, explicou Joey, o guarda-redes de 23 anos, cuja referência nas balizas é o português Ângelo Girão.

O pai, orgulhoso, diz que os filhos já lhe “imitaram a carreira”, com Joey “na seleção principal desde 2011” e Rico “também há muito tempo”, justificando que ambos jogam a um bom nível na ‘Bundesliga’ e são jovens para deixarem uma “marca no hóquei”.

Rico quer ficar na Alemanha e nunca quis jogar em Portugal ou Espanha, ao contrário de Joey que via essa possibilidade “como um sonho”, embora, aos 23 anos, não acredite que acontece, num percurso em que o hóquei, de ambos, concilia-se com o emprego numa fábrica de metais.

Se há algo em que os três concordam, é que não será possível repetir o Mundial de 1991, em que a Holanda foi vice-campeã.

“É impossível reverter as distâncias para os outros países. Não é possível repetir a campanha de 1991. Não tem a ver com regras, mas com o dinheiro. Nós trabalhamos oito horas por dia, em Portugal, Espanha e Itália só jogam hóquei. Nós acordamos as seis da manhã e trabalhamos ate às cinco da tarde. Só depois disso treinamos, apenas três vezes por semana”, justificou o selecionador.

A partida de hoje contou também com a participação, na Bélgica, dos portugueses Marco Miguéis e Nuno Rilhas, ambos a marcar, e Sérgio Rita, enquanto Reginaldo Migalhas, do Juventude de Azeitão, apontou um dos tentos holandeses, naquela que é a estreia em Europeus.

"Surgiu a oportunidade de jogar pela Holanda porque a minha mãe é holandesa e eu também nasci na Holanda. Está a correr bem para o meu primeiro Europeu, estou nervoso, mas está a correr bem. Quero abrir portas para outras equipas, melhorar o hóquei e estar no mundial com a Holanda”, disse o hoquista de 26 anos.

O cenário está também longe de ser profissional, com o hoquista a contar só ter tido dois fins de semana de treino, embora o sonho o mantenha a pensar numa carreira no topo e na presença holandesa no Mundial.

“A terceira divisão portuguesa é muito competitiva, mas uma seleção é sempre uma seleção. Ainda foi difícil conseguir o meu lugar. Estou com 26 anos, tenciono jogar ao mais alto nível em Portugal e representar a Holanda no mundial. Agora espero que Portugal vença este europeu”, concluiu.