Esta sexta foi um dia histórico para o desporto universitário português e para a FADU - Federação Académica do Desporto Universitário, responsável pela participação portuguesa nestes Jogos Mundiais Universitários. Com mais duas medalhas de prata conquistadas (Décio Andrade – atletismo, lançamento do martelo, e Camila Rebelo – natação, 100m costas), já são seis medalhas para Portugal. Um novo recorde na participação lusa em Jogos Mundiais Universitários/Universíadas.

Hoje o diário da missão é assinado pelo medalhado Décio Andrade, prata no lançamento do peso.

Diário da missão portuguesa nos FISU World University Games, Dia 8 - 04/08/23

“Acordei às 7h45 sem despertador, o que é fantástico, deu para descansar tudo o que tinha para descansar e garantir que estava bem. O meu colega de quarto, o Rúben Antunes, que também estava qualificado para a final, optou por uma estratégia diferente e ficou a dormir até mais tarde. Não o culpo por isso (risos). Pequeno-almoço à base de fruta e uns ovos, muito simples, muito leve para o estômago. Comecei logo a hidratar de manhã, porque sabia que ia ser um dia bastante longo. Tem estado bastante calor, muita humidade. Sabia que era extremamente importante hidratar.

Regressámos ao quarto e aproveitei para conectar com a Europa, e Portugal, com os amigos e família. Não costumo estar muito com o telemóvel em dias de competição, mas como só ia competir ao final do dia, quis socializar um bocado. E matar as saudades. Fomos almoçar, eu e o Rúben. Tentei manter a rotina o mais normal possível. Refeição bastante rica em hidratos, umas 4 horas antes da competição. Depois foi quando começámos a preparar as nossas coisas. Colocar o dorsal no uniforme, preparar os nossos suplementos para a competição, meter tudo em ordem, garantir que estava tudo dentro da mala. Íamos ouvindo música, falando. Começámos no hip hop e fomos até «Anel de Rubi» e «Pronúncia do Norte», e acabámos em hardcore techno, Angerfist, só mesmo para arrebitar naqueles últimos 10, 15 minutos.

Fomos andando para a pista, na companhia da Carla e do Arménio, sempre bem acompanhados. Ainda foi uma viagem longa, por isso fomos mais cedo para ter tempo para reativar. Estava bastante sol, calor. Comecei a fazer o meu aquecimento, a minha ativação, mais parecia um velocista que um lançador, muito trabalho de ativação muscular. Estava a sentir-me demasiado relaxado. Na verdade, aquilo só começa a ferver quando se chega ao estádio e queria garantir que o meu sistema nervoso estava bem ativo, bem acordado antes da competição. Depois tive a Carla que me auxiliou bastante em exercícios de mobilidade, que são bastante importantes para o lançamento do martelo.

No estádio estava um ambiente fantástico, casa quase cheia. Temos sentido muito amor por parte dos chineses, nota-se mesmo que eles gostam de nos ter cá, querem-nos ter cá. Apoiam-nos, estão sempre a bater palmas. Ficam genuinamente excitados com os nossos aquecimentos, com os lançamentos (quando são bons), e isso faz a diferença, essa atmosfera é muito, muito boa.

Na prova, sabia que era importante começar bem. Abri com um bom lançamento, 71 metros, estava confortável. Sabia que com isso, à partida, já dava para passar aos últimos três lançamentos, à finalíssima, e com isso comecei a arriscar mais. Acabei por pagar um pouco o preço disso, porque tive alturas a meio da competição em que estava a perder o foco da técnica e a lançar muito com a coração e pouco com a cabeça. Então, o professor Victor Zabumba ajudou-me bastante, deu-me umas palavras de apreço, de confiança e, ele que nem é treinador de lançamentos, apontou-me ali um ou outro aspeto técnico que é relativamente básico, mas que nós esquecemos. E fez toda a diferença. No quarto lançamento tive logo um nulo, mas senti-me muito bem, muito mais confiante. No quinto melhorei uns centímetros, mas ainda estava em 4º. E 4º lugar não era suficiente. Então, para o último, tudo o que pensei foi, isto foi exatamente como tinha sonhado. Que era ganhar, sob pressão e fazer a celebração que fiz, apesar do segundo lugar. Quando fui para o círculo só pensava «last one, best one». Que tem sido o resumo da minha temporada. Tenho ganho muitas provas e melhorado muitas provas no último lançamento. Portanto, sabia que tinha essa resiliência em mim e não queria ir embora sabendo que podia dar mais. Entrei no círculo a falar para mim para confiar, acreditar, confiar na técnica e foi isso que fiz. Infelizmente, fiquei 20 centímetros curto para a medalha de ouro. Acredito que 75 metros é muito possível. Mas foi a minha terceira melhor marca da época e tenho de estar satisfeito com isso, primeira medalha internacional. Segundo lugar é fantástico. Uma prova muito importante para a próxima época e para a qualificação para o Europeu e para os Jogos Olímpicos."