O esquiador Kequyen Lam vai estrear-se em Jogos Olímpicos de Inverno, em PyeongChang2018, com o desejo de "inspirar Portugal" e contagiar futuros esquiadores.

O farmacêutico, de 38 anos, nascido em Macau e residente no Canadá, vai disputar a prova de 15 quilómetros de esqui de fundo, em 16 de fevereiro.

Kequyen Lam já tinha tentado a qualificação para Sochi2014, quando era snowboarder, mas uma fratura no ombro durante um estágio impediu-o de disputar as últimas cinco etapas de apuramento.

Desde pequeno que Kequyen Lam aspirava um dia viver o espírito olímpico. Agora, cumpriu "um sonho" e promete mostrar aquilo de que é capaz.

"O meu objetivo em PyeongChang é estar tranquilo, recorrer a boas técnicas, correr rápido, até ao máximo das minhas capacidades, e inspirar o país e futuros esquiadores", realçou o atleta, em declarações à agência Lusa.

Quando obteve a nacionalidade portuguesa começou a representar as cores lusas em provas internacionais de snowboard, entre 2008 e 2013.

A lesão fê-lo retirar-se da competição e trouxe-lhe alguns receios, "mas a chama continuava acesa".

"Continuava a desejar ser um atleta e querer competir", frisou, recordando que, em 2015, decidiu desafiar-se a si próprio com uma nova meta: tentar PyeongChang, numa outra modalidade a que não estava acostumado.

"Era uma ideia louca, porque eu sempre fui um atleta com capacidade anaeróbica, de provas de curta duração. Tive de adaptar o meu sistema fisiológico e desenvolver a capacidade aeróbica para conseguir correr provas de resistência. A ideia nasceu, os objetivos foram estabelecidos e o sonho floresceu", explicou o representante português na prova de cross-coutry.

Pediu então à Federação Portuguesa de Desportos de Inverno (FPDI) que requeresse na Federação Internacional de Esqui a alteração da sua acreditação para o esqui de fundo e fez a primeira prova em dezembro de 2015.

Depois de muito "trabalho árduo", conseguiu os primeiros pontos em abril de 2017, na Finlândia, e vislumbrou a porta de acesso para a Coreia do Sul.

"Sinto-me honrado e orgulhoso com esta qualificação. O apuramento é uma grande realização pessoal pela qual passei anos a lutar. Agora, que é real, tenho a sensação de que é quase surreal", admitiu.

A história de Kequyen Lam é uma aventura e vestir as cores nacionais representa também para o atleta uma forma de agradecimento a Portugal.

Um ano antes de o esquiador nascer, as consequências da guerra do Vietname obrigaram os pais a rumarem, numa frágil embarcação, a Macau, então território português, onde foram acolhidos, num espaço para refugiados.

Kequyen Lam, que ainda em criança se mudou para o Canadá, vê a presença nos Jogos Olímpicos como uma forma de honrar o sacrifício dos seus pais, como o reconhecimento do seu empenho e como a oportunidade de "fazer parte de algo muito maior" que o próprio.

"Foram dois anos e meio de trabalho árduo no esqui de fundo e uma vida inteira de desenvolvimento físico, mental e das minhas capacidades atléticas para aqui chegar", resumiu o esquiador português.

Em PyeongChang2018, Portugal vai estar ainda representado pelo luso-francês Arthur Hanse, nas provas de slalom gigante e slalom, em 18 e 22 de fevereiro, respetivamente.