A forma como os atletas e a sua equipa de trabalho lidam com a ansiedade da incerteza pode determinar o seu sucesso em Tóquio2020, defendeu hoje a diretora da medicina desportiva do Comité Olímpico de Portugal (COP).

“Importante é desafiarmo-nos para encontrar competências para lidar com estes momentos disruptivos, que ativam muito em nós em termos de resposta emocional. É a nossa capacidade de regular emoções, de operar de forma mais funcional”, disse Ana Bispo Ramires.

Esta ideia foi defendida na conferência “Gestão da incerteza em contexto de covid - Como potenciar a performance rumo a Tóquio, em 2021?” promovida pelo COP, destinada a atletas, treinadores, equipas médicas, dirigentes e toda a equipa que trabalha em torno do êxito dos desportistas.

A especialista em Psicologia Clínica e Desporto admite que é uma “grande complexidade encontrar a fórmula certa para cada um” destes agentes, devido a uma “variabilidade gigante” nas condicionantes e papel de cada um.

A realidade da pandemia, que adiou os Jogos um ano e cancelou e adiou eventos de qualificação e preparação, é um teste à “capacidade de resiliência”, bem como ao “autocontrolo” dos atletas, com diferentes tipos de perfis e respostas físicas e emocionais.

Ana Bispo Ramires defende que os que estão na alta competição devem “fazer das contrariedades oportunidades”, pelo que “têm 150 dias para serem curiosos, para se conhecerem melhor e às suas facetas” e assim terem um melhor desempenho em Tóquio.

“O que me impacta? Como? Que recursos tenho para lidar com isso?”, são algumas das questões que, segundo a responsável, os atletas mais se colocam e devem refletir.

A diretora do COP entende que estes tempos de pandemia são, também, propícios para uma “mudança do ‘mindset’” na forma como se encara o desempenho desportivo.

“Não treinamos para competir, mas para evoluir. A competição é um termómetro. Temos de dar maior importância ao treino, olhar para ele de outra forma”, vincou.

Para exemplificar as situações de stress, Ana Bispo Ramires revelou que uma das maiores preocupações dos atletas é “entrarem em quarentena, não porque estejam infetados, mas pelas pessoas à sua volta”, pelo que, recorda, “a perceção de segurança é substituída pela incerteza”.

“O nosso foco tem de ser apenas no que podemos controlar”, resume, entendendo como naturais os “comportamentos disruptivos ou performances abaixo do normal” dos atletas face aos atuais níveis de ansiedade “acima do normal”.