![Futebol e dança ilustram avanço da China no uso da Inteligência Artificial na robótica humanoide](/assets/img/blank.png)
Robôs que jogam futebol, participam em espetáculos de dança folclórica, realizam entregas ao domicílio ou tiram cafés ilustram as ambições da China de liderar um setor com potencial para revolucionar os métodos de produção global.
Estes robôs humanóides foram exibidos numa feira temática no norte de Pequim na mesma semana em que a plataforma de inteligência artificial (IA) chinesa DeepSeek sacudiu os mercados norte-americanos como concorrente direta da OpenAI, criadora do ChatGPT.
“O potencial dos criadores chineses de IA reside em aplicações concretas e não tanto nos grandes modelos de linguagem, sendo que ambos convergem”, destacou Henrik Bork, fundador da consultora Asia Waypoint, com sede em Pequim, à agência Lusa. “As empresas chinesas estão a ganhar rapidamente terreno na robótica humanoide”, apontou.
Em causa está a capacidade da China de produzir em grande escala e a sua forte indústria eletrónica, que pode servir como base para captar profissionais e conhecimento para aquele setor emergente.
As ambições de Pequim para a robótica inserem-se num plano estratégico para dominar tecnologias emergentes e ultrapassar os Estados Unidos na corrida pela supremacia tecnológica.
A utilização destes robôs, com cabeça, tronco, braços e pernas, em fábricas e armazéns, visa também compensar pelo rápido envelhecimento da população da China, que se assume como um país de “não-imigração”.
Um robô é qualquer máquina capaz de executar automaticamente uma série de tarefas, e inclui braços robóticos, carros autónomos ou veículos aéreos não tripulados (“drones”) militares. Os robôs humanoides, no entanto, podem utilizar ferramentas e operar em ambientes humanos como casas, hospitais ou lares de idosos.
“Prevê-se que os robôs humanóides se tornem na próxima inovação revolucionária a seguir aos computadores, telemóveis e veículos de nova energia, transformando profundamente a produção, os estilos de vida humanos e a paisagem industrial global”, lê-se numa diretriz do Ministério da Indústria e das Tecnologias da Informação da China (MIIT).
Segundo dados citados pela agência noticiosa oficial chinesa Xinhua, em 2023, a segunda maior economia do mundo produziu quase oito milhões de robôs, um aumento de 21,3%, em relação ao ano anterior. A produção de robôs industriais atingiu 430.000 unidades, representando cerca de 73% do total global.
As diretrizes do MIIT incluem objetivos e calendários para o setor, com ênfase no controlo do movimento e na interação homem-máquina. O ministério indicou que, até 2027, os robôs humanóides devem ser integrados nas cadeias de produção “em grande escala” e a sua utilização alargada a “toda a sociedade”.
“Devem ser alcançados progressos no desenvolvimento de mãos, braços e pés robóticos, bem como na integração da inteligência artificial”, lê-se no documento.
Na indústria transformadora global, a China produz mais que a soma dos nove maiores países subsequentes em conjunto.
Mas para além do referido envelhecimento populacional, o país enfrenta crescente protecionismo por parte dos Estados Unidos, Europa e países em desenvolvimento.
“O investimento das empresas [chinesas] na automatização e na robótica permite reduzir custos e manter a competitividade, face ao aumento dos custos com mão-de-obra e à subida das taxas alfandegárias sobre bens importados da China”, observou.
Os Estados Unidos impuseram ainda várias restrições sobre a exportação de semicondutores avançados para a China, um componente essencial para o desenvolvimento de sistemas de IA.
Bork admitiu que as medidas de Washington terão “impacto a curto prazo”, mas apontou que estão a obrigar as empresas chinesas a localizarem-se e a investirem mais em pesquisa e desenvolvimento.
“Como vimos com o lançamento do DeepSeek ou os novos modelos da Huawei, apesar de haver um impacto doloroso para muitas empresas a curto prazo, a longo prazo não creio que tenham o resultado desejado”, ressalvou.
Comentários