O ultramaratonista em ciclismo Tiago Cação suspendeu a volta em bicicleta pelos 278 municípios de Portugal continental para convencer os autarcas a apostar nos modos ativos de Mobilidade, por lhe ter sido diagnosticado com uma pneumonia, foi hoje anunciado.

Em comunicado, o atleta explica que uma pneumonia bilateral de origem bacteriana o obrigou a suspender o Projeto 278, com o qual se propunha a fazer 6.000 quilómetros por Portugal para entregar uma carta, em todas as autarquias do continente, apelando a uma profunda redefinição da mobilidade urbana.

Tiago Cação arrancou na segunda-feira, do Porto, e percorreu nas primeiras 29 horas do projeto 340 quilómetros, estando atualmente internado no Hospital Santa Maria Maior, EPE, em Barcelos, “onde deu entrada com um nível de oxigénio no sangue de cerca de 80%”, onde deverá ficar hospitalizado duas semanas.

Segundo o texto, esta quarta-feira Tiago Cação foi substituído pelo realizador belga Ryan Le Garrec, que estava a acompanhar e documentar a viagem do ultramaratonista, tendo feito um percurso de 110 quilómetros Barcelos e Guimarães e entregue a missiva do Projeto 278 a sete autarquias: Esposende, Póvoa do Varzim, Vila do Conde, Trofa, Famalicão, Santo Tirso e Guimarães.

O ultramaratonista lamenta ter que interromper a missão, confessando que é “muito frustrante” e demonstra ainda vontade de concluir o projeto “assim que possível”, referindo que “os moldes e prazos em que o fará irão depender da forma como a sua recuperação decorrer”.

“Independentemente do prazo, do formato, o Projeto 278 é para concluir de bicicleta e todas as autarquias irão receber esta missiva a apelar a uma transformação da mobilidade urbana que proteja todos”, garante Tiago Cação.

À Lusa, antes de iniciar a viagem, Tiago Cação destacou, entre as várias medidas que propõe como sendo a "mais importante" e que lhe "causa confusão" não ser implementada: "não conseguir ver crianças ir para a escola de bicicleta".

"É uma coisa muito simples, é limitar o tráfego de atravessamento e reduzir as velocidades permitidas nas ruas ao redor da escola".

Para "convencer os céticos" acerca das vantagens de novos modos de mobilidade que não o automóvel, Tiago Cação questiona "desde quando e porquê é que a bicicleta deixou de ser importante na nossa mobilidade", pois "não há muitos anos" "a bicicleta era o principal meio de transporte do país, era um motor de desenvolvimento, principalmente nos meios rurais e até nas cidades".

Segundo o protagonista do Projeto 278, "o que é preciso é perceber o que é que levou a que isso deixasse de acontecer".

"Sabemos: Políticas erradas, o grande lóbi da indústria automóvel, claro. Infelizmente temos uma grande indústria de produção de bicicletas e de montagem de bicicletas, mas como o seu principal negócio é a exportação, também não tem grande interesse em fazer lóbi", lamentou.

Tiago Cação acredita que "os céticos vão acabar por perceber, mais cedo ou mais tarde, que é mais benéfico", até porque pelas suas contas, "sem ter 100% de certeza", entre os autarcas "não há nenhum presidente de câmara que tenha perdido eleições ao transformar as cidades" com apostas deste tipo.

Nos dois primeiros dias do percurso, Tiago Cação entregou as cartas de sensibilização em 20 Câmaras Municipais a apelar à profunda redefinição da mobilidade urbana, sendo elas: Porto, Matosinhos, Maia, Melgaço, Monção, Valença, Vila Nova de Cerveira, Caminha, Viana do Castelo, Ponte de Lima, Paredes de Coura, Arcos de Valdevez, Ponte da Barca e Terras de Bouro.

Na terça-feira, o percurso começou em Vieira do Minho, tendo conseguido passar pela Póvoa do Lanhoso, Amares, Vila Verde, Braga e Barcelos.