O nome da modalidade e formas de apuramento são alguns dos aspetos a discutir na segunda-feira em Praga, na República Checa, numa ‘cimeira' de ‘breaking', desporto convidado para os Jogos Olímpicos Paris2024, que também será falada em português.
"Não há registo de nenhuma modalidade que tenha sido convidada e não tenha chegado à segunda fase. Estamos muito otimistas. O desafio é universal. É para toda a comunidade do ‘breaking' mundial. Requer organização e união", descreve, à Lusa, Max Pereira, membro da comissão organizadora desta modalidade para Paris2024.
O ‘b-boy' [nome dado aos praticantes masculinos, enquanto os femininos são designados ‘b-girls'] começa por esclarecer que erradamente se usa a expressão ‘breakdance', quando o termo correto é ‘breaking', para depois admitir que falta definir "tudo ou quase tudo" para que a modalidade ganhe espaço no mundo desportivo.
É que a plataforma cultural e a cénica do ‘breaking' estão montadas e estruturadas, mas a plataforma desportiva ainda é uma incógnita.
Max Pereira, 39 anos, que lidera a Momentum Crew, equipa portuguesa campeã do mundo, acredita que o futuro passe pela criação de federações.
"Creio que ninguém relacionado com a dança urbana vai querer ver a sua modalidade incluída numa federação que já existe e viveu de costas voltadas para uma comunidade e uma cultura que já são totalmente autónomas e sobreviveram durante 40 e tal anos. É muito provável que venhamos a ter uma nova federação, mas nada está definido", aponta.
Em causa está a dicotomia: é o ‘breaking' arte ou desporto? A organização de Paris2024 aposta na vertente desportiva desta dança urbana que se manifesta através de ‘crews' [equipas] e ‘dream teams' [seleções] em ‘battles' [batalhas] quer no um contra um, dois contra dois, três, quatro e por aí fora.
Mas o convite da organização dos Jogos, que também convidou a escalada, o surf e o skate, tem ainda de ser confirmado pelo Comité Olímpico Internacional, isto depois de o ‘breaking' já ter estado nos Jogos da Juventude na Argentina em 2018.
A ‘cimeira' de Praga vai discutir como convencer os responsáveis mundiais a apostar numa modalidade, cuja fórmula competitiva é comparável ao formato do ténis ou do golfe, ou seja, reside nos torneios ‘guest' (convidados), que coroam os campeões mundiais, e ‘open' (abertos) e no somatório de pontos para um ‘ranking' nominal.
O líder da Momentum Crew - a tal equipa portuguesa, com sede no Porto, que tem sete títulos europeus e mundiais - acredita que este pode ser um "ponto de viragem para uma modalidade" que tem "atletas que são artistas".
Opinião idêntica tem Roberto Mendes, 26 anos, ‘b-boy' e membro da ‘crew' portuguesa campeã. "Os Jogos Olímpicos de 2024 são quase um abre-latas para mais apoios, sobretudo do Estado, que poderão ser uma mais-valia para a cultura e para nós que representamos o país lá fora há 15 anos. É muito importante termos esse reconhecimento, não só monetário", defende.
Roberto estava a estudar teatro no Balleteatro Contemporâneo do Porto quando conheceu o ‘breaking'. Agora disputa competições ao lado de ‘b-boys' como Max ou Diogo que se destacou em 2017 no Casino de Espinho quando venceu perante oito dos melhores ‘b-boys' do mundo.
"Não será uma reviravolta a nível competitivo, porque a competição não paga contas e para sobreviver temos de olhar para outras áreas do entremetimento, do espetáculo e da cultura, mas [o convite para Paris2024] é um momento único, de certeza", acredita Diogo Oliveira, 27 anos.
"Viemos trazer o que era antes jogar à bola e comer pão com manteiga na rua. Hoje os miúdos chegam com o telemóvel ou com o ‘ipad', mas durante duas horas não levam o telemóvel para dançar ou para surfar ou fazer skate", acrescenta Max Pereira, ao comentar as potencialidades de visibilidade do ‘breaking' também em sentido contrário já que, analisa o ‘b-boy', quem têm hoje 16 ou 20 anos, a "geração MTV", procurará cada vez mais no Jogos Olímpicos modalidades artísticas e contemporâneas.
Por fim, questionado sobre a realidade nacional do ‘breaking', Max descreve um "Portugal com um caminho recente muito bom" e avança que a ideia é "trabalhar numa organização que permita chegar ao pódio em 2024".
Otimista, enumera além da Momentum Crew, o trabalho de uma ‘crew' da Madeira, os STG, de "malta do Norte e de Lisboa" e o papel da emigração que trouxe a Portugal ‘b-boys' brasileiros e sul-americanos.
Quanto a países líderes na modalidade, Max Pereira recomenda cuidados redobrados com a Coreia, Japão, Rússia ou Ucrânia, sem esquecer os Estados Unidos e na Europa, nota para a Holanda e para a França.
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