Portugal vai estar representado nos Jogos Olímpicos de Inverno por dois atletas. Kequyen Lam vai competir na prova de cross-coutry e Arthur Hanse vai disputar as provas de slalom gigante e slalom. Os Jogos Olímpicos de Inverno de Pyeongchang decorrem entre 09 e 25 de fevereiro.
Kequyen Lam: um ´português` que fugiu do Vietname e foi parar ao Canadá
O esquiador Kequyen Lam vai estrear-se em Jogos Olímpicos de Inverno, em PyeongChang2018, com o desejo de "inspirar Portugal" e contagiar futuros esquiadores. O farmacêutico, de 38 anos, nascido em Macau e residente no Canadá, vai disputar a prova de 15 quilómetros de esqui de fundo, em 16 de fevereiro.
Kequyen Lam já tinha tentado a qualificação para Sochi2014, quando era snowboarder, mas uma fratura no ombro durante um estágio impediu-o de disputar as últimas cinco etapas de apuramento.
Desde pequeno que Kequyen Lam aspirava um dia viver o espírito olímpico. Agora, cumpriu "um sonho" e promete mostrar aquilo de que é capaz.
"O meu objetivo em PyeongChang é estar tranquilo, recorrer a boas técnicas, correr rápido, até ao máximo das minhas capacidades, e inspirar o país e futuros esquiadores", realçou o atleta, em declarações à agência Lusa.
Quando obteve a nacionalidade portuguesa começou a representar as cores lusas em provas internacionais de snowboard, entre 2008 e 2013. A lesão fê-lo retirar-se da competição e trouxe-lhe alguns receios, "mas a chama continuava acesa".
"Continuava a desejar ser um atleta e querer competir", frisou, recordando que, em 2015, decidiu desafiar-se a si próprio com uma nova meta: tentar PyeongChang, numa outra modalidade a que não estava acostumado.
"Era uma ideia louca, porque eu sempre fui um atleta com capacidade anaeróbica, de provas de curta duração. Tive de adaptar o meu sistema fisiológico e desenvolver a capacidade aeróbica para conseguir correr provas de resistência. A ideia nasceu, os objetivos foram estabelecidos e o sonho floresceu", explicou o representante português na prova de cross-coutry.
Pediu então à Federação Portuguesa de Desportos de Inverno (FPDI) que requeresse na Federação Internacional de Esqui a alteração da sua acreditação para o esqui de fundo e fez a primeira prova em dezembro de 2015.
Depois de muito "trabalho árduo", conseguiu os primeiros pontos em abril de 2017, na Finlândia, e vislumbrou a porta de acesso para a Coreia do Sul.
"Sinto-me honrado e orgulhoso com esta qualificação. O apuramento é uma grande realização pessoal pela qual passei anos a lutar. Agora, que é real, tenho a sensação de que é quase surreal", admitiu.
A história de Kequyen Lam é uma aventura e vestir as cores nacionais representa também para o atleta uma forma de agradecimento a Portugal.
Um ano antes de o esquiador nascer, as consequências da guerra do Vietname obrigaram os pais a rumarem, numa frágil embarcação, a Macau, então território português, onde foram acolhidos, num espaço para refugiados.
Kequyen Lam, que ainda em criança se mudou para o Canadá, vê a presença nos Jogos Olímpicos como uma forma de honrar o sacrifício dos seus pais, como o reconhecimento do seu empenho e como a oportunidade de "fazer parte de algo muito maior" que o próprio.
"Foram dois anos e meio de trabalho árduo no esqui de fundo e uma vida inteira de desenvolvimento físico, mental e das minhas capacidades atléticas para aqui chegar", resumiu o esquiador português.
Arthur Hanse nasceu em França, é neto de portugueses e está orgulhoso de representar Portugal
História diferente tem Arthur Hanse, de 24 anos. Este descendente de emigrantes portugueses começou por representar Portugal a convite da avó. "Foi a minha avó, que nasceu em França, mas tem nacionalidade portuguesa, que me aconselhou a contactar a federação portuguesa para competir por Portugal", disse à Lusa. Depois de obter a nacionalidade portuguesa em 2012, a vida de Hanse começou a dividir-se entre Paris- Lyon-Lisboa e Covilhã.
"Orgulhoso das raízes portuguesas", vai representar pela segunda vez consecutiva Portugal em Jogos Olímpicos de Inverno, em PyeongChang, naqueles que considera os “Jogos da maturidade”, com o objetivo de ficar entre os 50 primeiros.
Arthur Hanse, de 24 anos, vai disputar as provas de slalom gigante e slalom, em 18 e 22 de fevereiro, respetivamente, quatro anos depois de, na estreia olímpica, não ter terminado ambas as provas de esqui alpino.
Apesar de apontar como objetivo os 50 primeiros, o esquiador nascido em França e com pai leiriense sonha com o ‘top 30’, admitindo que em Sochi2014 "estava muito tenso" e sentiu "muita pressão".
Agora diz ter ganhado experiência e estar mais preparado para a competição que se realiza na cidade sul-coreana de PyeongChang, entre sexta-feira e 25 de fevereiro.
"Hoje tenho mais experiência, mais maturidade. Estes são os Jogos da maturidade. Durante quatro anos trabalhei arduamente para estar preparado. Os Jogos Olímpicos são o sonho de todos os desportistas e representar um país com os valores olímpicos é muito importante para mim", disse o esquiador, em declarações à agência Lusa.
Embora saliente a imprevisibilidade dos resultados, estabeleceu as metas a atingir e prometeu dar o seu melhor.
"Um ‘top 30’ é um sonho e um ‘top 50’ é a realidade. Mas nos Jogos Olímpicos tudo pode acontecer, o melhor e o pior. Então, estou a preparar-me mentalmente para dar o melhor de mim, e representar Portugal da melhor forma que as minhas capacidades permitirem", frisou Arthur Hanse.
Em 2014, na Rússia, na sua primeira experiência olímpica, as coisas não correram como Artur Hanse imaginava. Enfrentou “condições de corrida ruins” e uma pista muito pisada, com muitos socalcos, que originou várias desistências.
Na altura, ao contrário do que aconteceu agora, não teve "tempo de preparação", por isso assegurou sentir-se mais apoiado e parte para a Coreia do Sul com melhores perspetivas.
"A Federação de Desportos de Inverno de Portugal e o Comité Olímpico de Portugal trabalharam em torno deste projeto e é importante sentir-me apoiado. Desejo fazer melhor do que na Rússia, terminar as corridas para entrar no ‘ranking’ e, claro, ter um bom desempenho", sublinhou o esquiador.
Arthur Hanse diz sentir-se "orgulhoso e honrado" por poder, pela segunda vez, representar Portugal nos Jogos Olímpicos de Inverno e ter a oportunidade de mostrar o talento português.
"Quero mostrar ao mundo que Portugal tem outros talentos desportivos além do futebol", sublinhou Hanse, para quem o país pode ter atletas competitivos se lhes forem dados os meios para poderem evoluir.
Além de Hanse, Portugal vai estar representado em PyeongChang2018 por Kequyen Lam, na prova de 15 quilómetros de esqui de fundo, no dia 16.
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