Vasco Pascoal é tricampeão nacional de Padel e uma das caras portuguesas que regularmente disputam o circuito mundial da modalidade, World Padel Tour (WPT). Tinha acabado de disputar, no final de fevereiro, a nível nacional, um torneio em Coimbra e preparava-se para mais uma etapa do WPT, em Vigo, quando foi decretado o estado de emergência no nosso país e a consequente suspensão das competições.

Ao SAPO Desporto explicou como tem vivido este período de isolamento forçado, como vai mantendo a forma, como é o seu dia a dia e como o mundo do Padel se tem unido de forma a superar este período difícil, em que as receitas dos clubes se viram reduzidas a zero.

Se, por um lado, o confinamento lhe tem dado mais tempo para alguns passatempos de que tanto gosta, como jogar computador ou ver séries, Vasco Pascoal sublinha a importância de não perder a forma, com treinos físicos regulares e até umas idas à garagem para bater umas bolas contra a parede para não perder o jeito. Até porque "isto não é como andar de bicicleta", sublinha meio a brincar.

Isto porque ninguém faz ideia de quando serão retomadas as competições de Padel e, quando tal acontecer, sublinha Vasco, alguns jogadores terão mais facilidades do que outras - "aqueles que têm mais 'mãozinha', explica. Essencial, para já, é não se deixar ir abaixo psicologicamente. "Temos de pensar que daqui a uns tempos já vamos voltar a estar todos outra vez na rua e a jogar Padel, que é aquilo que mais gostamos" sublinha o tricampeão nacional.

SAPO Desporto: Como tem vivido este período de isolamento e onde tem passado?

Vasco Pascoal: Tenho estado em casa. Continuo a ser acompanhado pelo meu preparador físico, Hugo Silva, ele envia-me os treinos e eu tenho todos os dias treino físico, de segunda sexta. Segunda e quinta treino online com ele, terça, quarta e sexta trabalho sozinho, mas de acordo com os planos que ele me deu.

Por isso tenho tentado ir à garagem e jogar conta a parede, para não perder a sensibilidade da mão, para sentir a bola, para não me esquecer de tudo, que isto não é como andar de bicicleta…Esta semana, se perceber que está tudo seguro e que estão reunidas as condições,  vou começar a deslocar-me a um clube aqui perto de casa, porque nós atletas já recebemos uma carta da federação, assinada pelo secretário de estado da juventude e desporto, a dizer que nos podemos deslocar a algumas instalações para treinar.

SD: Como é treinar em casa?

VP: No início, logo que foi decretado o estado de emergência, encomendei umas bandas, umas fitas, um TRX, uns pesos, umas bolas. Tenho algum material que o meu preparador me disse para comprar, então tenho-me conseguido 'desenrascar' com isso. Às vezes, para fazer alguns exercícios de mudança de direção ou velocidade, vou para a garagem, que é maior, e consigo fazer isso lá.

SD: E os tempos livres, como os ocupa?

VP: Tenho aproveitado para fazer outras coisas. Sou muito viciado em Football Manager, então passo muito tempo a jogar. De resto, tenho visto as notícias, series, filmes…o que as outras pessoas têm feito, também…

Estou bastante viciado na 'Casa de Papel'. Vejo outras séries, mas essa é a que me tem agarrado mais. Não gosto de séries com muitas temporadas. Séries com três ou quatro temporadas e sem muitos episódios. Prefiro variar um pouco.

SD: Consegue descrever como é o seu dia a dia?

VP: Normalmente acordo às 10h30, tomo o pequeno almoço, vou passear o meu cão, espero meia-hora e faço treino físico. Depois almoço e, a partir da tarde, jogo computador, vejo séries, se sentir necessidade vou também um bocadinho à bicicleta, que tenho uma em casa, mas basicamente são assim.

SD: Em relação à alimentação, tem sido fácil 'manter a linha'?

VP: A nível da alimentação, já cheguei a ter acompanhamento de um nutricionista, mas agora não tenho. Tento ter uma boa dieta, porque também já tenho alguns conhecimentos e porque também tirei o Curso de Desporto na FMH. Mas não sou completamente obcecado…se me apetecer comer um gelado como, se me apetecer comer chocolate como. Tento, claro, ter algum cuidado, para não ganhar peso e para manter os níveis de força e resistência.

SD: E a nível psicológico, como é lidar com estas restrições?

VP: Claro que é complicado, mas  eu considero-me uma pessoa forte psicologicamente neste aspeto. Estou sempre a pensar nisto de forma positiva: que isto vai passar, e que vamos olhar para isto com bons olhos, que consigamos ultrapassar isto e encontrámos forma de nos desenrascarmos. Sou muito aquela pessoa que pensa para a frente. Por exemplo, às vezes quando tenho uma derrota e fico muito chateado penso ‘pá, daqui a seis meses já não me lembro’.

Penso sempre muito para a frente e acho que é assim que as pessoas também têm de ligar com isto. A pensar que daqui a uns tempos já vamos voltar a estar todos outra vez na rua e a jogar Padel, que é aquilo que mais gostamos. Então tento manter a mente saudável, para que quando isto recomeçar estar perto do mais alto nível.

SD: Em que fase da temporada estava quando as competições foram interrimpidas?

VP: O último torneio que disputei foi em coimbra. Lá fora ainda só tínhamos jogado uma etapa do circuito internacional, em Marbella, e depois íamos jogar outra em Vigo. Infelizmente aconteceu isto e já não conseguimos jogar. Ainda em Fevereiro.

SD: Tudo isto veio, naturalmente, mexer com toda a calendarização que tinha prevista para esta temporada...

VP: Mexeu muito, principalmente em Portugal, onde praticamente todas as semanas costumava haver torneios ‘prize money’. Aí houve uma grande mudança, e acho que também vai haver quando tudo isto recomeçar. Acho que irão haver torneios ‘prize money’, ou seja, torneios importantes, sobrepostos, no mesmo fim de semana. Por exemplo um no Porto e outro em Lisboa e mais um no Algarve. Há outros torneios que provavelmente vão perder patrocinadores e se calhar vão ter de ser cancelados…penso que vai haver uma grande mudança.

Lá fora, pelas informações que tenho tido, por email, foi que querem manter os torneios todos, ainda que com uma calendarização mais apertada, ficando os torneios mais uns em cima dos outros – se calhar tendo de competir sete ou oito semanas seguidas, mas dizem que querem cumprir o calendário. Mas dependerá sempre um bocadinho de quando tudo recomeçar.

SD: Como acha que vai ser o regresso à competição?

VP: Acho que há jogadores que vão ter mais facilidade que outros, principalmente aqueles que não precisam de treinar tanto. Aqueles que têm mais ‘mãozinha’, como costumamos dizer. Mas, com treino, todos vamos lá.

Dependerá também de quanto tempo teremos para, depois de a normalidade voltar,  nos prepararmos antes de voltarmos à competição propriamente dita. Isto porque nós não sabemos como sairemos disto e quando sairmos não fazemos ideia se logo no fim-de-semana seguinte ou na semana seguinte já teremos um torneio para disputar, ou se nos vão dar um mês para treoniar e só depois é que começam os torneios. Não fazemos ideia. Daí eu estar a tentar não perder a sensibilidade e tentar manter um pouco de bola no treino, por mais difícil e diferente que seja.

SD: A nível pessoal, como conta abordar, depois, o resto da temporada?

VP: A minha prioridade continuará a ser o circuito mundial, e depois os torneios nacionais, por categoria. Primeiro os de 10 mil, que são os que dão mais pontos e os que têm maior prize Money, e depois os de cinco mil, que são só os que eu jogo em Portugal. Mas certamente terei de optar, se algum se sobrepuser. E se algum acabar por coincidir com um torneio do World Padel Tour, obviamente optarei sempre pelo do WPT.

SD: Como está a ser vivida esta situação pelos clubes de Padel e como poderão lidar com ela?

VP: Acho que vamos ter muitos clubes em risco, porque as receitas dos clubes ficaram praticamente a zero com tudo isto. Foi lançada uma campanha, o SOS Padel 2020, para ajudar os clubes, que penso ser muito importante, porque haverá muitos em risco de fechar. O ganha pão dos clubes são os alugueres, as aulas, e neste momento acredito que estejam a zero euros.

Penso que é a vez dos jogadores – e essa campanha também foi pensada por alguns jogadores - ajudarem, de forma a que quando tudo isto passar e for retomada a normalidade os nossos clubes de eleição continuem abertos e poderem fazer os torneios onde nós vamos jogar.

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