Com a paragem dos ralis devido à pandemia de COVID-19, Armindo Araújo despiu o fato de piloto e, na empresa de tecelagem em que é administrador, tem recebido cada vez mais encomendas para máscaras de proteção.
O pentacampeão nacional de ralis explicou à Lusa que o que não pode fazer como piloto tem sido largamente ‘compensado' pelo muito trabalho que a fábrica tem gerado, dizendo mesmo que a luta contra a COVID-19 abriu portas a um "novo mercado".
"É um novo negócio que está a surgir, obviamente. Estamos atentos e a tentar vender um produto de qualidade, certificado, e, por agora, temos tido uma boa aceitação", afirmou o piloto de Santo Tirso, reconhecendo que a empresa teve de adaptar a produção à chegada dos novos pedidos.
Apesar do esforço para corresponder às encomendas, Armindo Araújo revelou que a maior dificuldade tem sido perceber o que as autoridades de saúde exigem para a produção deste tipo de materiais e deixa um apelo.
"É preciso que as autoridades de saúde e os centros que podem homologar os tecidos digam o que querem, mas estamos a tentar o possível para dar uma ajuda ao mercado que pede este tipo de tecidos. O que queremos é que exista uma melhor definição das regras para podermos produzir os tecidos com o nível de proteção necessária", frisou.
O campeão mundial do agrupamento de produção em 2009 e 2010 disse acreditar que vai ser no norte - zona mais afetada pela pandemia - e na sua dedicação ao setor têxtil que o país vai encontrar resposta ao desafio do primeiro-ministro, António Costa, que, recentemente, afirmou que nos próximos 15 dias de duração do estado de emergência o país tem de ser capaz de levar por diante uma "massificação de máscaras de proteção comunitária".
"Não baixamos os braços e temos trabalhado muito para responder aos pedidos neste mercado novo", prosseguiu Armindo Araújo, admitindo que, apesar de a Lemar nunca ter chegado a parar, muitas encomendas foram canceladas ou estão à espera de ser entregues.
"Temos sentido bastante dificuldades em enviar o nosso produto para clientes de todo o mundo que pararam a sua atividade. O mercado italiano esteve encerrado nas duas últimas semanas, mas nesta última semana já se notou diferença, com clientes a pedirem alguns tecidos", contou, animado, o administrador, que rejeita dramatismos apesar de antecipar dificuldades.
"A vida vai rolando, todos temos de nos adaptar a estas medidas de precaução, mas temos de andar. Se paramos, não morremos da doença, mas morremos da cura", sublinhou.
Este ano, ao volante de um Skoda Fabia R5, Armindo Araújo venceu o Rali Serras de Fafe e Felgueiras, prova de abertura do Nacional, dias antes de todas as competições terem sido adiadas.
Sem meias palavras, o pentacampeão nacional assumiu a preocupação pelo futuro da modalidade e revelou que tem "poucas esperanças" de que surjam apoios para fazer frente a esta paragem.
"O desporto vai ser muito afetado em termos económicos e, neste momento, percebo e concordo que seja relegado para segundo plano. Mesmo assim, é preciso ter noção de que é uma atividade que está irremediavelmente comprometida para este e para os próximos anos. Vamos morrer para voltar a nascer", considerou Armindo Araújo, que prevê ainda dificuldades em manter muitos dos patrocinadores que apoiam estes projetos desportivos.
Com a declaração de pandemia, em 11 de março, inicialmente alguns eventos desportivos foram disputados sem público, mas, depois, começaram a ser cancelados, adiados – nomeadamente os Jogos Olímpicos Tóquio2020, o Euro2020 e a Copa América – ou suspensos, nos casos dos campeonatos nacionais e provas internacionais de todas as modalidades.
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