Com os principais campeonatos mundiais de automobilismo interrompidos pela pandemia da covid-19, os pilotos estão a trocar as pistas pelos torneios virtuais com simuladores.

Os portugueses Filipe Albuquerque (Mundial de Resistência) e António Félix da Costa (Mundial de Resistência e Fórmula E) até já partilharam “pistas” com pilotos de Fórmula 1, como o holandês Max Verstappen.

“Fazemos sorteios das pistas e dos carros cinco minutos antes de começarmos. Podem ser [carros de] Fórmula 1, GTs, Fórmulas ou Legends”, explicou à agência Lusa Filipe Albuquerque, que lidera a categoria LMP2 no Mundial de Resistência, que viu a sexta e a sétima etapas adiadas.

“Os ‘gamers’ não nos dão hipóteses”, garantiu, por sua vez, António Félix da Costa, que espera aproveitar “as primeiras semanas de paragem para recuperar o corpo de algumas lesões que as constantes viagens não deixam sarar em condições”.

Para já, Félix da Costa tem estado em quarentena profilática e afastado de família e amigos, pois regressou recentemente de Nova Iorque (Estados Unidos), enquanto a missão de Filipe Albuquerque é mais ‘espinhosa’, pois tem duas crianças pequenas em casa.

“De manhã coloco alguns exercícios na televisão para fazer e elas depois acabam por também fazer. Temos de ser criativos”, argumentou o piloto de Coimbra à Lusa, detalhando que treina “essencialmente o pescoço”, por não poder ir correr, e que faz ‘cardio’ em casa.

Mais facilitada está a tarefa de Tiago Monteiro, piloto da Honda na Taça do Mundo de Carros de Turismo (WTCR): o portuense tem um ginásio em casa, que agora é aproveitado ao máximo.

“E tenho um jardim, que me permite correr à volta de casa”, contou o antigo piloto de Fórmula 1.

Menos dado às novas tecnologias, Tiago Monteiro deixa o treino de simulador para o filho, que compete nos karts.

“Não sou grande adepto de simuladores, nem tenho grande paciência. Tenho um simulador em casa ligado à ‘playstation’, mas é mais o meu filho que usa”, pontuou.

Por outro lado, vários pilotos a nível mundial são agora obrigados a repensar o seu modelo de treino. Emiliano Ventura, treinador de vários pilotos de automobilismo, incluindo António Félix da Costa e Tiago Monteiro, explicou à Lusa que o facto de a paragem ter surgido ainda em fase de pré-temporada evitou males maiores.

“Hoje em dia, já é mais fácil trabalhar a partir de casa”, notou, admitindo, contudo,que a interdição dos ginásios “tem alguma interferência” na preparação, embora a maior parte desta possa ser desenvolvida em casa.

Até porque, na sua opinião, grande parte dos pilotos “estão adaptados para treinar em viagem e quase todos têm kits de treino”. A parte mais complicada, segundo Emiliano Ventura, “é trabalhar a vertente de cardio”, e também gerir a componente motivacional.

“Tinha alguns pilotos na Austrália, em competições de Fórmula 2 e Fórmula 3, mas foi tudo cancelado. Aí já entra a componente de frustração”, disse.

Para Ventura, o que a paragem mais prolongada terá de benéfico é que permitirá “a alguns pilotos recuperarem de mazelas” e melhorar a preparação.

“No início de cada época, costuma haver maior variação de vencedores nas corridas. Com o decorrer da época, a variação é menor”, salientou.

Por isso, Emiliano Ventura acredita que, quando recomeçarem os campeonatos, a preparação dos pilotos estará mais avançada e haverá “maior imprevisibilidade” nos resultados.