Miguel Oliveira, o primeiro e único português a competir em MotoGP, fundou há três anos uma equipa que permite a jovens pilotos evoluírem, terem acompanhamento e sonharem em seguir os seus passos.
Quando acompanhava as provas do piloto e o admirava à distância, Afonso Almeida, de 11 anos, não imaginava que se viria a tornar um dos sete jovens, entre os cinco e os 14 anos, atualmente a competirem pela Miguel Oliveira Fan Racing Team e a receber do próprio "muitas dicas" que o ajudaram a melhorar na pista e a desejar chegar ao mesmo patamar.
"Sempre foi o meu piloto preferido. É um grande privilégio estar na equipa do Miguel Oliveira. Um dia deixou-me ir com ele e depois andou numa moto igual à minha, para me ajudar. A partir desse dia, comecei a ter uma posição diferente, comecei a baixar mais na moto e começou a sair tudo muito melhor. Já me deu muitas dicas para melhorar", salienta o campeão nacional de Moto4/85GP.
A equipa nasceu da vontade de Miguel Oliveira e do pai, Paulo, o diretor, partilharem a sua experiência com quem quer experimentar a modalidade e, se tiver talento, evoluir numa estrutura que lhe permite competir a custos inferiores, graças aos patrocínios e parcerias.
"Eu fiz o caminho das pedras", frisa, em declarações à agência Lusa, Paulo Oliveira, 49 anos, que lamenta não ter tido um projeto semelhante que lhe tivesse facilitado o percurso.
O pai do piloto luso lembra as somas avultadas, superiores a cinco mil euros, que teve de gastar só para Miguel Oliveira poder experimentar fazer uma prova de velocidade e saber se gostava ou não.
As motos da Miguel Oliveira Fan Racing Team são da equipa. Quem mostrar interesse pode ter a experiência. "Aqueles que se destacam têm a oportunidade de continuar connosco", explica Paulo Oliveira, que admite não ser uma modalidade barata.
"O desporto motorizado é um desporto mais caro do que outros", realça, comparando com o material necessário para jogar futebol, na ordem dos 100 euros, valor inferior ao necessário "para um jogo de pneus só num fim de semana".
Por temporada, para competir numa categoria média, implica um investimento de 50 a 60 mil euros, estima Paulo Oliveira. Os pais dos jovens pilotos pagam entre 20 a 25 mil euros e a equipa suporta o restante.
"Nós reduzimos os custos dos pilotos. O fato, em vez de mil euros, custa um terço. Oferecemos o capacete e são menos 600 euros", contabiliza o pai e agente do mais bem-sucedido piloto nacional.
A Miguel Oliveira Fan Racing Team quer fazer "a promoção do motociclismo" e "um dos objetivos é criar campeões que possam seguir os passos do Miguel".
Agora o almadense está "numa bolha", devido à pandemia, mas antes de aparecer a covid-19 ajudava a dar formação técnica, a ensinar quando travar ou acelerar, a dar informações sobre como tirar o melhor partido dos circuitos, a alertar para a posição do corpo, inclinações, trajetórias, curvas ou equilíbrio.
"Se as pessoas virem a estrutura, entenderão que é muito profissional, com cuidado em ter bons técnicos, mesmo no competitivo campeonato espanhol, vê-se a diferença na própria ‘box’", enfatiza Ricardo Almeida, pai de um dos pilotos, que destaca o "ganho em motivação" dos jovens ao fazerem parte da equipa de Miguel Oliveira e a vantagem de terem um apoio que permite aos pais pagarem "um terço do valor global".
Segundo Ricardo Almeida, "as motos da equipa são muito atuais, estão sempre dispostos a melhorar e em todas as corridas faz-se acerto de material". É também dada atenção à escola e, quando as notas baixam, há penalizações.
O pequeno Afonso Almeida tem "o sonho de um dia ser piloto de MotoGP". O pai, Ricardo, diz à Lusa que "se não houvesse nenhum objetivo, não estaria a ser feito o investimento financeiro e de tempo", embora não aponte até onde chegar.
Paulo Oliveira quer "mostrar o caminho para chegar ao topo", que não teve quem lhe indicasse, e espera que os ensinamentos sirvam no desporto e na vida, "porque a desconcentração paga-se com a queda".
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