O piloto português Pedro Mello Breyner já anunciou a participação no 40.º Rali Dakar, na categoria de ‘buggy’ (SSV), enquanto outros nomes lusos alimentam o ‘sonho’ de vencer a prova no formato mais jovem da corrida.

Os SSV são veículos utilitários ou de recreação que têm sido cada vez mais utilizados em provas de todo-o-terreno, tendo sido introduzidos como categoria oficial no Dakar na prova de 2017, que teve como primeiros vencedores os brasileiros Leandro Torres e Lourival Roldan.

Depois da 'viagem' inaugural dos SSV pela prova que atravessa vários países da América do Sul, Pedro Mello Breyner já confirmou a presença em 2018, a primeira participação portuguesa até ao momento e uma estreia para o ‘veterano’ de 58 anos.

“Decidi participar porque é o maior rali do mundo, é a força do Dakar e uma prova que nunca fiz”, contou à Lusa o piloto, que conta com mais de três décadas de carreira no automobilismo.

Perante um “desafio enorme, mas com paisagens muito bonitas”, Mello Breyner compete em SSV, admite, pela “grande vantagem financeira de ter custos muito mais baixos do que participar num automóvel”, aliado ao facto de que os veículos darem “muito gozo de conduzir”.

Segundo o piloto, que em 1997 e 1999 competiu nas 24 Horas de Le Mans, participar num SSV “fica a um terço dos custos de um carro” e mantém “regras muito apertadas, especialmente ao nível da segurança”.

Se comprar um veículo SSV custa “entre 20 a 30 mil euros”, com outros gastos na preparação e “tudo o resto” envolvido na criação e manutenção de uma equipa, um orçamento “de 60 a 70 mil euros já dá para fazer algumas provas”.

No Dakar, o objetivo a que se propõe “é chegar a Córdoba”, cidade argentina onde termina o traçado do próximo ano, sem pensar na classificação e com “muita cabeça, calma e humildade”.

Um ‘veterano’ do Dakar, Rúben Faria, tem participado no Nacional de todo-o-terreno na categoria de SSV, depois de ter ‘brilhado’ nas motos, com um segundo lugar em 2013 como destaque maior, e confessou à Lusa que tem “perdido o sono há algum tempo” quanto a uma possível participação.

“Sei que esta classe vai continuar no Dakar, eu sei que tenho muita experiência nas motos, quanto ao sofrimento e a gerir a moto, e estou bem. O que me falta? Falta o orçamento. Tenho pensado muito nisso”, revelou Faria, que é 14.º no Nacional de TT e elogia “a competitividade e a diversão” proporcionada na categoria.

O piloto de 43 anos está “a tentar arranjar dinheiro para correr”, porque mantém vivo o “sonho de vencer” e conquistar um segundo troféu, “desta vez um bocado mais pesado do que o de 2013”.

Ainda assim, participar num SSV na prova sul-americana “é uma questão de gerir a máquina em si, porque a máquina ainda não está tão testada, os participantes vão ter muitas dificuldades”, “não tanto com o percurso, mas com o carro, como sobreaquecimento, na correia ou no variador, entre muitas outras coisas”.

“Tem uma boa performance no que toca ao andamento, mas vai pecar pela fiabilidade. Já tem alguma, mas numa prova como o Dakar tem de ser bem gerido”, afiançou, uma questão corroborada por Pedro Mello Breyner, que refere as "muitas cautelas necessárias numa prova muito longa e muito dura".

"Tecnicamente falando, estes veículos ainda não estão muito desenvolvidos, ainda correm muito com as peças 'standard'. Vão sendo desenvolvidos aos poucos enquanto as provas vão passando, até porque os próprios regulamentos não deixam avançar muito", afirmou.

Também os valores mais baixos em relação aos carros pesam na decisão de Rúben Faria, sendo que “há quem consiga fazer o Dakar por 110 mil”, mas “a sofrer muito mais”, sem peças novas, um mecânico próprio ou a dormir com menos condições.

Por 220 mil euros, revelou, é possível alugar um carro da South Racing, a equipa oficial da marca Can-Am, numa modalidade que “inclui tudo, desde as estadias aos voos, comida, inscrições e tudo o resto, numa equipa de topo que provavelmente vai ter um veículo a vencer”.

“Vou tentar não deixar morrer o sonho de ainda ir ao Dakar num SSV e quem sabe trazer o troféu da vitória”, atirou.

Também a alimentar o ‘sonho’ de tentar participar no Dakar, à boleia do sucesso dos SSV, está o líder da classe no campeonato português de todo-o-terreno, Bruno Martins, que diz lutar “todos os dias por esse objetivo”.

“É claro que é um sonho, penso que pode ser possível e luto todos os dias por isso. Não é fácil, porque é um custo completamente diferente em relação a participar no Nacional. Mas em termos competitivos, estamos em boa posição para sermos uma mais-valia no Dakar”, comentou, ainda que esse projeto depende “do desenrolar ao longo dos anos” dos resultados e patrocinadores alcançados.