O acidente de mota sofrido em 2021 quase custou a carreira ao jovem nadador Diogo Ribeiro, mas, com uma forte componente mental e trabalho árduo, superou-se de forma inacreditável e tornou-se um desportista de elite.
“Foi um período bastante difícil da minha vida, em que tive de me focar ao máximo na modalidade e no que queria. Tive de pensar no que era mais importante para mim na minha cabeça. A minha mente foi a parte mais importante para conseguir passar por isso. Cheguei a acreditar que não ia conseguir voltar”, recordou, em entrevista à agência Lusa.
Diogo Ribeiro ficou sem parte de um dedo indicador, sofreu uma fratura num pé, deslocou um ombro, fez uma grande queimadura num joelho e teve uma microrrotura no peito, dias depois de conquistar a ‘prata’ nos 100 metros mariposa dos Europeus de juniores.
“Foi um momento bastante triste para mim, mas, com a ajuda do fisioterapeuta Daniel Moedas, fomos conseguindo recuperar incrivelmente, cada vez mais rápido. O que era para ser uma recuperação extensa e longa, em dois meses consegui recuperar”, frisou.
O acordo com o Benfica, clube que representa, já tinha sido feito na altura do acidente e Diogo Ribeiro realçou o papel fulcral dos ‘encarnados’ na recuperação e na evolução.
“Mesmo com o acidente, não voltaram atrás com a palavra e ajudaram-me bastante. Não esperava que, depois do acidente, viesse para Lisboa e que o Benfica se chegasse à frente. Assinei o meu primeiro contrato profissional e é um orgulho para mim”, disse.
Desde que saiu de Coimbra, de onde é natural, para Lisboa, mais concretamente para o Centro de Alto Rendimento do Jamor, onde vive e treina, há pouco mais de um ano, Diogo Ribeiro ‘nadou’ até à ribalta, num ano de 2022 cheio de sucessos internacionais.
Aos 18 anos, o jovem atleta detém um recorde mundial na categoria de júnior, nos 50 metros mariposa, obtido nos Mundiais da categoria, em setembro, no Peru, local onde também arrecadou a medalha de ouro nas provas de 100 metros mariposa e de 50 metros livres.
Para além disso, Diogo Ribeiro também conta com medalhas internacionais em provas absolutas, como os Europeus de Roma – 'bronze' nos 50 metros mariposa – e os Jogos do Mediterrâneo – com ‘ouro’ nos 50 metros mariposa e ‘prata’ nos 100 metros livres.
“Temos de ter calma e não meter pressão nos atletas. Como eu, há outros que fazem o seu trabalho e chegam longe, mas, depois, há muita pressão dos ‘media’ e das pessoas da parte de fora. Se o atleta chega longe sem pressão e a treinar, acho que o devemos manter assim. Isso faz diferença para o pior”, salientou, expressando que, no seu caso, não sente pressão “do lado de fora”, pois mete “muita pressão” em cima dele próprio.
O brasileiro Alberto Silva, também conhecido por Albertinho, assumiu o cargo técnico na Federação Portuguesa de Natação no verão de 2021, para o atual ciclo olímpico, até 2024, na mesma altura em que Diogo Ribeiro saiu de Coimbra para ir viver para Lisboa.
“Cheguei em setembro e ele começou a treinar em outubro, estava ainda a recuperar da lesão e a adaptar-se à mudança de treinador e de cidade. Tivemos de ter paciência com ele. Entre setembro e dezembro, participou em 44% dos treinos, seja ginásio ou piscina, o que é muito pouco. A partir de janeiro, fez praticamente 100% dos trabalhos propostos e resultou no que se viu no Europeu e no Campeonato do Mundo”, contou.
Albertinho explicou à Lusa que a equipa multidisciplinar que o acompanha percebeu a qualidade de Diogo Ribeiro “lá para dezembro” e que era “um garoto especial”, mas a ascensão conseguida apanhou-os de surpresa: “De dezembro a abril, aí sim, vimos a qualidade dele nos treinos, vimo-lo cansado, como recuperava e reagia à sobrecarga e stress. Foi em abril que tivemos uma visão mais global do Diogo. Estávamos a projetar uma ou duas medalhas, que podiam não ser de ouro, e conquistámos as três de ouro”.
“Resultou muito bem, mas é um caminho muito longo para podermos dizer que é uma grande figura do desporto nacional ou mundial. Representa muito o que ele fez, é um Campeonato do Mundo, bateu um recorde mundial, os tempos dele são realmente de um patamar de destaque a nível mundial, mas temos de lhe dar tempo”, alertou.
Esse tempo passa, sobretudo, pelo apoio familiar e por um “vínculo de confiança”, para contornar inseguranças e momentos de fraqueza que, de vez em quando, lá aparecem, também pela falta de experiência, própria da idade, como frisou o treinador brasileiro.
“Passa por deceções, altos e baixos. Virão críticas e ele tem de ter o suporte da família e desta equipa multidisciplinar, para passar por essas adversidades e também para não lhe subir à cabeça ou achar que já é uma estrela. Ainda está em construção”, concluiu.
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