A Federação Portuguesa de Rugby (FPR) encontra-se sob a gestão de uma comissão provisória desde a demissão da direção de Luís Cassiano Neves, em julho do ano passado. Esta quinta-feira isso vai mudar.

Em fevereiro, a mesa de assembleia geral da Federação Portuguesa de Rugby (FPR) convocou as eleições dos futuros órgãos sociais para o dia de hoje, 4 de abril, entre as 17h00 e as 20h00, numa unidade hoteleira de Lisboa.

Na corrida a estas eleições estão dois candidatos: Carlos Amado da Silva e Lourenço Thomaz. O SAPO Desporto falou com o primeiro para saber quais os seus planos para a FPR, caso seja eleito esta noite.

Carlos Amado da Silva candidata-se a um cargo que bem conhece e que ele mesmo presidiu durante cinco anos. Em 2010, o antigo dirigente venceu as eleições federativas a Dídio Aguiar. Nesse mesmo ano, Amado da Silva lembrou que ganhou as eleições por 1%, enquanto em 2015 perdeu por 2% para Luís Cassiano Neves.

Conheça os objetivos de Carlos Amado da Silva para uma casa que já foi sua.

SAPO Desporto: O que o levou a decidir recandidatar-se?

Carlos Amado da Silva: Na sequência do vazio criado pela demissão da Direção anterior, a comunidade rugbistica, finalmente, alertada pela situação caótica em que se encontrava o rugby nacional, entendeu, num esforço liderado pelo GDDireito, procurar uma solução duradoura que eliminasse de vez as fraturas que há vários anos se vinham agudizando dificultando a ação das diferentes Direções.

Entretanto, não esperando por qualquer consenso, o Lourenço Thomaz anunciou publicamente a sua intenção de se candidatar. Não sendo uma pessoa consensual, não era, no meu entender, a solução. Pior ainda, estava muito conotado com a Direção anterior tendo sido, de facto, um dos seus maiores impulsionadores, como assumiu publicamente.

Em contraponto, um conjunto muito alargado de Presidentes e Clubes vinham-me incentivando para que voltasse, o que não era, mesmo, a minha intenção.

Todavia depois de verificar que o meu pensamento se identificava quase totalmente com as conclusões do Grupo já referido, e perante a recusa de outras pessoas que, no meu entender, seriam as mais indicadas, resolvi aceitar o desafio com a condição de que só o faria com um apoio muito grande de Clubes, o que se verificou.

SD: Qual é o conteúdo programático da sua candidatura?

CAS: A questão de fundo e a fundamental razão da minha candidatura tem que ver com a necessidade urgente de se proceder a uma alteração profunda no que respeita ao maior envolvimento dos Clubes, na sua corresponsabilização em matérias tão importantes como são a absoluta necessidade de alterar os atuais regulamentos, a arbitragem, a organização das provas e, sobretudo o desenvolvimento da modalidade que passa obrigatoriamente pelo reforço da atividade dos Clubes e a "democratização" do rugby com base no reforço da componente regional, não descurando a melhoria da competitividade das nossas Seleções, nacionais e regionais, que deverá ser uma consequência deste investimento, situação que será colmatada no imediato pelo "regresso" dos nossos jogadores internacionais que competem em campeonatos estrangeiros.

SD: Qual é o modelo competitivo que pretende aplicar nas competições internas?

CAS: O modelo competitivo que pretendo implementar passará por um aumento na Fase inicial para doze Clubes, que depois se reduzirá numa Fase Final, num arranjo a definir com os Clubes, o que poderá passar pela constituição inicial de três grupos de quatro equipas que, depois se constituem em dois grupos de seis, ou, alternativamente, dois grupos iniciais de seis Clubes que passarão a três grupos de quatro, o primeiro dos quais disputará o título nacional, o segundo, a manutenção no grupo principal e o terceiro grupo que disputará a permanência na Divisão de Honra.

A Primeira  Divisão, em função do número de Clubes que manifestem capacidade e sustentabilidade por uma período razoável de tempo, poder-se-á optar por uma solução semelhante à Divisão de Honra ou, mais provavelmente, pela constituição de um único grupo com dez Clubes. A segunda Divisão deverá ser regionalizada.

Todavia estas questões serão discutidas e resolvidas com a participação dos Clubes nos termos regulamentarmente previstos, pretendendo criar uma "comissão" para cada nível de competição envolvendo um Delegado de cada clube participante, em termos a definir.

SD: A profissionalização de jogadores é um dos tópicos a discutir?

Esta não é uma questão que me preocupe a curto prazo por se desenquadrar da realidade atual, embora admita poder recuperar a ideia - e a prática - de haver um grupo de jogadores profissionais, nomeadamente nos VIIs se porventura conseguirmos regressar ao Circuito Mundial.

SD: Quais são os planos para as seleções?

CAS: A  Seleção de quinze tem pela frente um primeiro desafio que consiste na recuperação de um lugar na Segunda Divisão Europeia o que representará o passo decisivo para podermos pensar numa normalização de calendário nacional, recuperar a possibilidade de acesso às competições europeias de Clubes e conseguir mais e maiores apoios quer pela via institucional quer pela via dos patrocínios.

A Seleção Nacional deve incluir os melhores jogadores nacionais estejam eles onde estiverem. É um processo delicado muito dificultado pelas difíceis relações entretanto com eles criadas e que teremos que recuperar, com a apresentação de argumentos sérios e estimulantes para qualquer profissional.

É um processo de reintegração numa equipa jovem, e muito valorosa, como a atual que muito beneficiará com o apoio de jogadores mais experientes que militam em campeonatos muito mais exigentes do que o nosso.

A Seleção  de VIIs, será a nossa primeira opção por ser a variante que para além de ser a que melhores resultados internacionais conseguiu no passado recente, dispõe de um grupo de jogadores de grande qualidade que, se devidamente preparados, podem conseguir resultados que nos permitam aceder ao "percurso olímpico" e, por essa via, não só conseguir maiores apoios materiais como uma, eventual, participação olímpica e/ou um regresso ao Circuito Mundial.

De imediato teremos que nos preparar, embora tardiamente, para conseguirmos uma boa classificação no Circuito Europeu. Essa será a primeira preocupação...

Falando em Seleções, gostaria de reforçar a ideia do regresso a uma competição inter-regional, nos principais escalões, a disputar em três jornadas, em três cidades diferentes, para além da recriação de uma "equipa nacional residente", os Lusitanos, para participar nas competições europeias de Clubes.

SD: Tem algum projeto para o setor da arbitragem?

CAS: A arbitragem é uma preocupação que irá ter um tratamento específico, dando uma maior independência e responsabilidade ao Conselho de Arbitragem.

O financiamento da arbitragem deve ser assumido pelos Clubes tal como qualquer outro serviço que lhes é prestado, tendo, todavia o direito de lhes exigir a presença de árbitros nos seus jogos e que estes se apresentem nas melhores condições físicas e técnicas para o desempenho das suas funções.

Os árbitros deverão ser sujeitos a classificações de desempenho e com base nesse juízo serem apoiados de forma diferenciada. Caberá, no entanto, ao Conselho de Arbitragem e aos árbitros apresentarem propostas de solução  a apreciar pela Direcção da FPR e dos Clubes.

SD: Como pretende resolver a questão financeira da Federação?

CAS: Embora não conheça com o detalhe necessário as dificuldades financeiras da FPR, julgo não serem muito diferentes das que encontrei em 2010 quando assumi a presidência. Uma dívida muito preocupante que terá que ser resolvida com medidas diferenciada e conjugadas, o que obrigará a uma redução de despesas e, se possível, a um aumento de receitas.

Parece-me inevitável a contração de novo empréstimo bancário para resolver os problemas mais imediatos - cerca de seiscentos mil euros - arrendando o imóvel da Sede como forma de satisfazer, em parte, o serviço da dívida daí decorrente.

Face à menor atividade desportiva, o ajustamento da massa salarial é inevitável sem que isso acarrete dificuldades operacionais no quotidiano.

O aumento de receitas deverá decorrer dos melhores resultados que se venham a obter, mas também de novos patrocínios previstos, alguns dos quais poderão envolver entidades e empresas nacionais e estrangeiras que vêem nos Jogos Olímpicos, no regresso ao Circuito Mundial de VIIs e, sobretudo, no facto do próximo Mundial de 2023 se disputar em França, uma boa oportunidade de promoção.

Não sendo uma situação fácil, com um projecto credível e com o envolvimento de todos vamos ser capazes de superar estas dificuldades financeiras tal como o já fizemos no passado recente.