O português Carlos Ramos, que encerrou a carreira de árbitro de cadeira na última edição do Estoril Open de ténis, assumiu hoje ser o “momento ideal” para concluir um ciclo de 30 anos, prosseguindo em funções na juiz-arbitragem.

“Não tinha previsto deixar no Estoril Open, era em Roland Garros, mas a cada dia que passava, ficava mais claro que era ali o momento para parar. Fez sentido, era fechar o ciclo. Comecei aqui no Jamor, a minha primeira final ATP foi no Jamor, acabo no Estoril e o meu último jogo é no meu país, onde nasci e acabei como árbitro. Era o momento ideal para o fazer e estou felicíssimo por ter tomado esta decisão”, disse Carlos Ramos.

Em conferência de imprensa no Complexo de Ténis do Jamor, onde decorre o Grupo II da Zona Europa-África da Billie Jean King Cup esta semana, Carlos Ramos lembrou que esta edição do Estoril Open foi o primeiro torneio em que recorreu à utilização de óculos.

“Era fundamental deixar enquanto estivesse a arbitrar ao nível de que gosto. Aos 52 anos, as coisas tornam-se mais frágeis. Com a idade e maturidade ganhamos algumas coisas, mas perdemos outras. Este foi o primeiro ano em que arbitrei o Estoril Open de óculos. É o reflexo das capacidades que começam a baixar, como a visão. Sentia-me com plena confiança e a ver a bola da mesma forma que antes, mas senti que é o momento certo. Estava a correr mais riscos de arbitrar a um nível que não me satisfaz e preferia decidir antes que me fosse imposto”, explicou aos jornalistas, numa conferência que durou uma hora.

Agora, seguem-se as funções de juiz-árbitro, que já desempenha há cerca de 15 anos, embora antes conciliada com a experiência de árbitro de cadeira, que deixará, apesar de o coração continuar no cargo, no qual aprendeu a tornar fraquezas em qualidades.

“O meu presente hoje é a arbitragem de cadeira, mas vou continuar como juiz-árbitro. A parte da juiz-arbitragem tem algo de que não gosto muito, que é a parte administrativa. Sou uma pessoa mais de terreno e a parte administrativa é muito pesada, identifico-me muito pouco. Consegui, como árbitro de cadeira, tornar as minhas fraquezas um pouco nas minhas qualidades. Dedicando-me a fundo à juiz-arbitragem, acredito que consigo fazer a mesma coisa. Era fraco na gestão de emoções, na concentração e comunicação, que foram das minhas três melhores qualidades como árbitro de cadeira”, recordou.

Carlos Ramos é o mais conceituado dos árbitros portugueses e foi o primeiro a arbitrar finais masculinas de todos os quatro ‘majors’ e ainda os Jogos Olímpicos, em Londres2012, embora seja também reconhecido pela polémica com Serena Williams na final do Open dos Estados Unidos de 2018, que está proibido de comentar.

“O jogo alimentou muita polémica. Ainda sou árbitro e não tenho o direito a falar sobre ele. Não é que não queira, pois não tinha o mínimo problema em falar, mas o código de conduta da ITF [Federação Internacional de Ténis], infelizmente, não me permite falar sobre um jogador, um evento ou um jogo em específico”, realçou o árbitro português.

Admitindo “muitos momentos menos bons”, com decisões arbitrais que “mudaram o rumo dos jogos”, o que “é frustrante e dá muita tristeza”, Carlos Ramos referiu sempre ter idêntico respeito por todos os jogadores, “seja o número um ou 500 do ranking”, enfatizando a influência do ex-árbitro e amigo Jorge Dias na sua carreira na arbitragem.

“Foi a primeira pessoa que me fez sonhar em ser árbitro. Sempre quis ser desportista, era louco por futebol, jogava a guarda-redes, só que era demasiado pequeno. Vi que não ia chegar a lado nenhum, conheci o ténis e entusiasmei-me rapidamente. Comecei tarde, não tinha o talento que queria e rapidamente também vi que não havia grande esperança. Comecei depois como juiz de linha e, quando entrei em campo no primeiro jogo, adorei. O resto é história”, contou Carlos Ramos, sobre os seus primeiros passos.

O árbitro português esteve em quatro finais masculinas do Open da Austrália (2005, 2008, 2014 e 2016), e numa em Wimbledon (2007), Roland Garros (2008) e Open dos Estados Unidos (2011).

Além da final masculina de Londres2012 e de finais da Taça Davis, arbitrou ainda finais femininas em Roland Garros (2005), Wimbledon (2008) e Open dos Estados Unidos (2018), assim como da Fed Cup.

O último encontro como árbitro de Carlos Ramos foi a final do Estoril Open, no domingo, na qual o norueguês Casper Ruud se impôs ao sérvio Miomir Kecmanovic com os parciais de 6-2 e 7-6 (7-3), em uma hora e 49 minutos.