Horace é o mais jovem tripulante do Dongfeng, um dos veleiros que participa na Volvo Ocean Race, e hoje fez tudo o que podia para que o barco chinês fosse o mais rápido na regata treino, mas o vento não ajudou.
Aos 22 anos, o velejador chinês de forte compleição física faz realmente jus à descrição que dele é feita na página da VOR na internet. Não se esquiva a nada e tão depressa está na proa a ajudar a içar uma vela, como a rodar os carretos que a fazem subir.
Entre todos os trabalhos, Horace, ou Chen Jing Hao, arranja tempo para se sentar a apanhar sol - numa posição que parece tão confortável como “perigosa” -, e para se aliviar diretamente para o Tejo.
Ainda antes da partida, e quando lhe perguntam o que faz durante no Dongfeng quando não está a trabalhar responde: "isto". E isto é estar calmamente sentado à conversa, que parece animada, com outros velejadores e a mordiscar uma sandes.
A voz de comando do ‘skipper’ e uma coordenada força de braços de seis homens, entre os quais Horace, são os “motores” das velas do Dongfeng, um dos sete barcos que participam na Volvo Ocean Race (VOR), que hoje treinou o Tejo.
Hoje, o vento, que raramente ultrapassou os 10 nós, não esteve de feição para o Dongfeng - cujo nome traduzido significa Vento de Leste -, que foi o penúltimo a terminar a primeira regata de treino, no percurso que no sábado vai acolher a regata de porto da VOR.
“Foi um treino, tentamos sempre fazer coisas novas, umas vezes corre bem, outras não”, admite o ‘skipper’ Charles Caudrelier, que em 2012 venceu a prova com o Groupama.
Enquanto o ‘skipper’ francês falava da falta de vento, já relaxado e com o Dongfeng quase parado no estuário do Tejo, a restante tripulação enrolava cordas e arrumava as velas, tarefas nas quais todos já estão bastante rotinados.
Antes, essas mesmas velas não deram descanso a ninguém, e sempre que era preciso içá-las ou arreá-las cada um dos elementos da tripulação sabia, naturalmente, onde deveria estar e o que tinha de fazer.
Assim que a vela começava a enfunar e o Dongfeng se inclinava para o lado pretendido, ‘deitando-se’ no Tejo, em ângulos às vezes superiores a 45 graus, todos corriam para o lado do barco que estava mais longe da água.
Sentados à conversa, disfrutavam, ainda que por minutos, do sol de Lisboa e aproveitavam para ver as manobras dos outros veleiros da mais importante competição de vela oceânica do Mundo, que está na água desde outubro do ano passado.
O percurso, de cerca de uma milha náutica (1800 metros), foi feito várias vezes, obrigando por isso a várias manobras de contorno das boias colocadas no estuário do Tejo e a algumas ‘razias’, sempre controladas, a outros concorrentes.
Com o Dongfeng na terceira posição da geral, empatado com o Brunel, Charles Caudrelier sabe que só excelentes resultados nas duas regatas que faltam.
“Não há escolha, temos de vencer ou fazer duas excelentes corridas. Estamos a sete pontos do Abu Dhabi e colados ao Brunel”, afirma, lembrando que na etapa que ligou Newport a Lisboa o Dongfeng foi punido com pontos de penalização.
Transpondo para a vela a expressão futebolística “prognósticos só no fim do jogo”, Caudrelier garante que no final da competição “se saberá quem ganha”.
Por agora, assume que a vitória na terceira etapa, que terminou precisamente na China, país da qual é oriunda a construtora de automóveis Dongfeng, “foi o melhor momento da prova”.
O Dongfeng também foi o mais rápido na etapa que ligou Itajaí, no Brasil, a Newport, nos Estados Unidos. Nas regatas de porto, que podem ter influência na classificação em caso de empate, o veleiro chinês ocupa a quarta posição.
No sábado, o Tejo vai ser palco da regata de treino e no dia seguinte a 12.ª edição da VOR parte para Lorient, em França, o ponto de chegada da oitava e penúltima etapa.
A frota, à qual se juntou em Lisboa o veleiro Vestas, ausente desde a segunda etapa devido a um acidente junto às ilhas Maurícia, deverá chegar a Gotemburgo, na Suécia, a 22 ou 23 de junho.
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