Lucas Privitera começou a jogar voleibol na Itália aos 22 anos, mas cedo apaixonou-se pelo cargo de treinador e desde então dedica-se ao voleibol como a sua profissão principal. Dois anos depois de se ter iniciado na modalidade, foi convidado para treinar uma equipa feminina da terceira divisão italiana.

«Na Itália temos a série A, B, C e D, depois a 1ª, 2ª e 3ª divisão, comecei a treinar na terceira divisão e fui subindo até chegar na 1ª divisão com a “Agil Trecate”, tinha 27 anos nessa altura e isso foi uma experiência muito importante para mim», começou por dizer ao SAPO Desporto.

Chegou até a ter contacto com o sistema cubano através de uma atleta e ainda participou no treino de preparação do campeonato do mundo do país em 1998, o que indica ter sido "uma experiência incrível".

«No voleibol não há desculpas, ou fazes uma coisa bem feita ou não, és sempre tu o responsável pelo resultado e foi isso que me interessou desde cedo nesta modalidade», contou.

«Depois é um desporto espectacular, rápido, que exige explosão física e a modalidade jogada em alto nível é mesmo bonita de se ver», acrescentou ainda.

A primeira vez que veio a Cabo Verde foi apenas de férias m 1995, uma viagem que acabou por mudar a sua vida. «Foi nessa altura que conheci aquela que viria a ser a minha mulher», revelou, referindo que desde então passou a vir com frequência ao país.

Manteve a relação à distância até 2002. Nessa data decidiu que era a altura de mudar de vida para Cabo Verde. «Depois de passar tantos anos fechado em ginásios, eu já estava bastante cansado e tomei a decisão que era tempo de parar», relembrou.

«Além disso, o voleibol feminino profissional na Itália não permite fazer um planeamento de futuro porque os contratos são de um ano», acrescentou.

E assim foi, fixou-se no Tarrafal, em Santiago, e com a mulher montou o restaurante «Solo Luna». Durante quatro anos esqueceu o voleibol e dedicou-se à cozinha tradicional italiana e cabo-verdiana.

Até que um dia, um grupo de rapazes foi pedir-lhe para os ajudar a criar uma equipa de voleibol no Tarrafal. «Na altura aceitei, mas estávamos sem material nenhum, então encontrámos na rua dois postes e dali começou a aventura», disse entre risos.

A equipa masculina do Tarrafal “Graciosa” surgiu nesse e em 2007 surgiu a equipa feminina. No ano seguinte foi convidado para treinar o ABC da Praia que ganhou o campeonato nacional.

Em 2009, assumiu também o comando da equipa masculina nacional e participaram nos jogos da Lusofonia, tendo chegado ao terceiro lugar. «Com três meses de trabalho, começámos logo a ganhar a equipas que tinham muito mais tempo de treino», indicou.

Em 2009, faz parte do grupo que forma a associação regional de Voleibol de Santiago Norte.

«Em Cabo Verde senti mesmo que tive grandes capacidades de obter resultados técnicos com os atletas», referiu.

«Mas no Tarrafal temos um grande problema de continuidade, porque cada ano saem da equipa cerca de seis atletas e então temos que trabalhar os jogadores quase sempre desde o princípio», acrescentou.

No entanto afirma que, apesar de Cabo Verde não ter a riqueza monetário de outros países africanos, tem a riqueza técnica que se vê a nível da organização e da disciplina de trabalho e que «se reflecte nos resultados».

Actualmente, uma grande parte das atletas da equipa da Selecção Nacional de Voleibol Feminino vem do Tarrafal: «Construímos uma equipa forte no Tarrafal, que trabalha um sistema de jogo moderno.»

No entanto, desde Agosto desde ano que Lucas Privitera deixou Cabo Verde por motivos pessoais. Voltou apenas por poucos dias para treinar as equipas feminina e masculina da selecção nacional.

A Federação Internacional da modalidade, FIVB (Fédération Internationale de Volleyball), é que concedeu o apoio à selecção nacional para contratar o treinador novamente, como técnico internacional, que veio de Itália só para esse fim.

Lucas Privitera não tem planos de voltar ao arquipélago definitivamente no momento actual, mas este ano vai manter a sua dedicação com a selecção feminina e masculina no sentido de tentar garantir a sua presença no mundial da modalidade.

«Por isso estou a organizar um bom grupo de trabalho feminino e masculino para podermos gerir a federação de forma mais moderna, com as competências específicas divididas entre cada um», explicou.

Apesar de não dar certezas sobre o seu regresso definitivo, Lucas Privitera afirma que é no Voleibol que quer continuar a trabalhar: «de qualquer forma já estamos a construir a base em Cabo Verde para que outro treinador tome o meu lugar na selecção nacional.»